GOLFE

Conheça o brasileiro de 10 anos que é tetracampeão mundial de golfe

Aos 10 anos, Bento Assis colocou na cabeça que deseja competir nas Olimpíadas de Los Angeles-2028 aos 17 anos e conta com o apoio de Ronaldo Fenômeno para se tornar o papa brasileiro da modalidade olímpica

Marcos Paulo Lima
postado em 03/10/2021 00:00 / atualizado em 05/10/2021 19:27
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Do lado de cá, o repórter de pouca fé se despede de Bento Assis, fenômeno brasileiro do golfe aos 10 anos de idade, com uma profecia desejando encontrá-lo no pódio nos Jogos de Brisbane-2032. O adeus na entrevista por vídeo é interrompido por uma criança capaz de traduzir com uma convicção de adulto o foco das tacadas que o tornaram tetracampeão mundial no U.S Kids Golf, evento sub-12 para prodígios da modalidade olímpica. “Ou em 2028”, desafia o menino nascido em São Paulo. Não seria novidade para ele competir em Los Angeles, aos 17. Precoce, o guri criado no bairro Belém Novo, em Porto Alegre, iniciou no esporte aos dois anos.

“Eu vou tentar. Tenho que estar no PGA e em um ranking bom. Se praticar muito, eu consigo”, avisa, inspirado em dois adolescentes tão precoces como ele. Tem um cara de 19 anos (Akshay Bhatia) que joga muito. Quase ganhou um PGA. Tem uma menina de 14 (Kovelesky Unfazed) que foi para o U.S Open, PGA Major... Eu vou conseguir”, reforça Bento Assis na conversa com o Correio.

Bento estava em uma das rotas do sonho. Havia pousado no Aeroporto Internacional de Atlanta, nos Estados Unidos, para mais uma competição. A meta dele impressiona. “Quero ganhar a medalha dourada e os quatro majors — The Masters, U. S. Open, PGA Championship e The Open. Esse sonho começou quando vi o Tiger Woods. Quero quebrar o recorde dele, ganhar mais de 82 PGA's”, projeta.

A lenda do golfe é a inspiração de Bento, mas há outros ídolos: o norte-irlandês Rory Mcllroy e o estadunidense Jordan Spieth. Mais do que desempenho, ele busca inteligência emocional. “O Rory tem a cabeça muito boa”, elogia.

Fenômeno
A mentalidade vencedora de Bento Assis convenceu um jogador eleito três vezes melhor do mundo a apostar nele. Ronaldo é um dos parceiros do fenômeno brasileiro do golfe. “Ronaldo é padrinho do Bento. Peça fundamental. Montamos projeto e conseguimos chegar ao Ronaldo. Ele gostou e disse que pagaria passagens, as despesas da viagem. Desde lá, ele continua ajudando muito o Bento, porque o nosso orçamento é muito apertado”, conta Rodrigo Assis, pai de Bento.

O menino nasceu em 2011, ano em que Ronaldo anunciou aposentadoria. “A minha mãe mostra vídeos dele no YouTube. Sem ele, eu jamais conseguiria jogar os torneios. É muito caro”, agradece.
Quando mundou-se para Miami, Bento sofreu com o idioma. “Só sabia falar oi em inglês. Eu chorava, porque não conseguia me comunicar. Os meus amigos faziam as coisas e eu não entendia. A professora chamava uma auxiliar que falava português”.

Fluente no idioma, o torcedor do Grêmio, time do pai, e do Flamengo, da mãe, estuda, brinca de futebol, beisebol, futebol americano, triatlo, entrou na vibe do skate e é regrado no videogame. “Só no fim de semana, mas depois de treinar golfe. Uma hora no máximo”, determina Bento, pouco viciado em tevê. “Não vejo futebol e não curto muito assistir golfe. Só quando é importante”, seleciona.


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» entrevista / Rodrigo Assis, pai de Bento

Depois do papa Bento XVI, vem aí Bento XVII, o papa brasileiro do golfe?
Pois é, vamos tentar. Ele vem forte (risos). Conseguiu o tetracampeonato mundial. Tinha 154 meninos do mundo inteiro na categoria dele. No primeiro dia, ele não jogou tão bem, no segundo fez o melhor jogo dele e no terceiro ganhou nos últimos buracos, foi bem disputado. É o Campeonato Mundial da US Kids para crianças de até 12 anos.

Ao contrário da Rayssa Leal, medalha de prata no skate aos 13 anos, o Bento precisa ter mais idade e figurar entre os 60 melhores no ranking mundial para competir na Olimpíada. Difícil?
Ele tem que ser profissional e estar muito bem ranqueado. Não consegue jogar sendo amador. E para ser profissional tem que estar em um nível muito bom. Todos que fazem o PGA passam pelo College, a faculdade, e quando se forma vira profissional, vai para o PGA. É preciso manter o status de amador na faculdade.

O Brasil teve Adilson da Silva no golfe na Rio-2016 e ficou fora em Tóquio-2020. Bento fala em Los Angeles-2028.
Não tem como uma criança chegar no golfe nas Olimpíadas. É coisa muito lá para a frente, talvez quando ele tiver 18 anos. Sendo mais realista, ele disputaria Brisbane-2032. Se der tudo muito certo, Los Angeles-2028 pode até ser, mas sendo bem pés no chão, 2032.

Ele se inspira no precoce Tiger Woods...
Tiger Woods estudou na Stanford University, disputou dois anos e saiu no meio da faculdade. Há caso de gente que entra, fica menos tempo e vira profissional. E casos raríssimos de quem vira profissional antes de entrar na faculdade, não fazer o College e vai direto para o profissional.

Como Bento começou no golfe?
Ele nasceu em São Paulo. Com dois anos, mudamos para Porto Alegre em um condomínio de golfe. Eu nunca joguei. Como a nossa casa estava em obra, a minha esposa ficava na rua com ele o tempo todo. Ele acabou indo para a escolinha todos os dias e adorava ficar jogando. Ele sempre mostrou habilidade, facilidade para bater e virou mascote do pessoal mais sério.

Quando começou a competir?
Ele disputava torneios recreativos, não tinha competição nacional no Brasil. A gente arrumou uma competição na Carolina do Norte para meninos de seis anos. Ele tinha cinco e ficou no meio da tabela, mas mostrou que tinha potencial. Em janeiro de 2017, nós mudamos para os EUA por causa da minha empresa, que é de mesa para laptos. O Brasil estava em crise e decidi apostar lá. Foi ótimo para o Bento, a grande virada. A gente chegou em janeiro e ele foi campeão em junho com seis anos.

Ronaldo Fenômeno investe no fenômeno Bento?
O Ronaldo é peça-chave na ajuda das despesas. Um anjo que caiu do céu. Chegar a ele já seria difícil. Fazê-lo acreditar foi muito especial. Ele torce pelo Bento e está superfeliz. Ajudou pela primeira vez quando a gente morava no Brasil ainda. Quando nós viemos para os EUA, a nossa empresa estava em crise, não tínhamos dinheiro nenhum.

E hoje Bento tem até patrocinadores?
Ele tem parcerias com a Under Armour, Taylormade envia todos os equipamentos de golfe sem custo para ele, coisas que essas empresas não fazem sem custo para nenhum júnior. A Under Armour, por exemplo, oferece roupa a ele desde 2017.

Como foi a adaptação dele aos EUA?
Na escola ele não falava inglês. Passava das 7h às 14h30 sem entender nada e foi desgastante até se adaptar. Ia e voltava de ônibus para a escola, chorava, ficava triste porque não entendia quase nada. Hoje, ele superou tudo isso e tem muitos amigos.

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