Era uma vez um Brasil que tinha protagonistas nos principais clubes da Liga dos Campeões da Europa. Havia um Ronaldinho Gaúcho no Barcelona, um Kaká no Milan, um Ronaldo Fenômeno no Real Madrid, um Adriano Imperador na Internazionale, um Juninho Pernambucano no Lyon, um Élber no Bayern...
A temporada 2021/2022 da Champions League começa, hoje, sem um extraclasse no papel de referência de algum dos 32 candidatos ao título. O único seria Neymar, mas ele acaba de ser rebaixado a coadjuvante do Paris Saint-Germain depois da contratação de Lionel Messi. Embora tenha rejeitado a camisa 10 do clube francês, o jogador eleito seis vezes melhor do mundo reordenou a hierarquia do clube. Do ponto de vista técnco, o argentino passou a ocupar o lugar número 1 no coração dos mais fanáticos torcedores do PSG. Neymar e Mbappé que lutem para preencher o que sobrou de espaço.
Carente de protagonistas entre os 66 brasileiros inscritos nesta edição levantados pelo Correio — poderiam ser 71, mas cinco trocaram de nacionalidade —, o Brasil passou a ter um fora de série nos bastidores. O ex-jogador e ex-técnico Leonardo, campeão da Copa de 1994, é o responsável pelo teórico favoristismo do PSG nesta Champions.
Manda quem pode, ou seja, o emir do Catar, pequenina nação árabe mecenas do clube francês, obedece quem tem juizo. Braço direito do presidente Nasser Al-Khelaifi no PSG, Leonardo conseguiu incomodar gigantes como Real Madrid e Barcelona ao juntar Messi, Neymar e Mbappé debaixo do teto da mesma tenda árabe.
A primeira demonstração do poder de influência de Leonardo, de posse do cheque em branco dos xeques, foi a renovação do contrato de Neymar antes do encerramento da temporada passada. Era 8 de maio deste ano quando o PSG oficializou a prorrogação do acordo com o brasileiro até 2025. O contrato expiraria em junho do ano que vem.
Depois de blindar o camisa 10, o PSG deu ordens a Leonardo para monitorar os passos de Lionel Messi. O emir sabia da possibilidade de ruptura entre o craque e o Barcelona. Não queria perder a oportunidade para o Manchester City, rival no campo de futebol e na geopolítica por ser bancado pelo City Group, dos Emirados Árabes Unidos. Quando os ingleses piscaram, Leonardo e Khelaifi já tinham enviado oferta tentadora a Messi, e o craque aceitou. A Pulga disputará a Liga dos Campeões pela primeira vez sem o uniforme do Barcelona, a partir de manhã contra o Brugge, na Bégica. A vida do time catalão no torneio sem o maior ídolo inicia, hoje, às 16h, contra o Bayern de Munique.
Como se não bastasse reunir Neymar e Messi, Leonardo teve um último desafio. Suportar a pressão do Real Madrid até o úlitmo segundo da janela de transferências para tirar Mbappé do PSG. Entre mortos e feridos, salvaram-se Leonardo e o PSG.
A atuação de Leonardo nos bastidores estabelece uma nova ordem na Liga dos Campeões. Os concorrentes respeitam o favorito PSG, mas não o temem. O Real Madrid conta com Benzema, Hazard, Bale, Vinicius Junior, Kroos e Modric. O Liverpool e o Manchester City têm os técnicos acima da média Jürgen Klopp e Pep Guardiola, respectivamente, mentores de Salah e De Bruyne. O United repatriou Cristiano Ronaldo. O português uniu-se a Pogba, Sancho, Rashford, Cavani e Varane. O Bayern ostenta o número 1 do mundo, Lewandowski. Atual campeão, o Chelsea recomprou o belga Lukaku.
Reparou que não há brasileiros entre os protagonistas? Eles são muitos em quantidade nesta edição, 66, mas a qualidade não é mais a mesma do início do século. Gabbriel Jesus é reserva no City, Firmino banco no United. Coutinho, incógnita no Barcelona. Restam os incontestáveis Alisson, ex-melhor do mundo, e Ederson. Ambos goleiros.