ELIMINATÓRIAS

Ponto justo

Beneficiado pela Justiça no Brasileirão de 2003, Tite revive drama do tapetão em meio à polêmica entre Brasil e Argentina. Técnico da Seleção recorda ação movida pelo São Caetano, mas prefere a decisão no campo

Há 18 anos, Adenor Leonardo Bachi vivia uma expectativa tão angustiante como a da espera pela decisão do Conselho Disciplinar da Fifa sobre o desfecho do clássico de domingo entre Brasil e Argentina pelas Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022.

O gaúcho de Caxias do Sul comandava o São Caetano na Série A do Campeonato Brasileiro de 2003. Em 13 de setembro daquele ano, o Azulão perdeu para o Paysandu, em Belém, por 1 x 0. Porém o time paraense escalou três jogadores irregulares: Aldrovani, Júnior Amorim e Borges Neto. Um mês depois, o STJD tirou os pontos do Papão e creditou na conta do time do ABC paulista. O belo time comandado por Tite à época cruzou a linha de chegada em quarto lugar, atrás apenas do campeão Cruzeiro, do vice Santos e do São Paulo. O técnico classificou o time modesto configurado no sistema 3-5-2 — Sílvio Luiz; Dininho, Gustavo e Serginho; Marlon, Marcelo Mattos, Mineiro, Capixaba e Elivélton; Marcinho e Adhemar — para a Libertadores 2004.

Questionado pelo Correio na entrevista coletiva de ontem se considera correto ganhar ou perder pontos no tapetão — se essa for a decisão da Fifa na batalha jurídica entre Brasil e Argentina —, Tite fez careta, tentou lembrar e repondeu que não era o treinador do São Caetano no imbróglio de 2003. Depois da entrevista, recordou o episódio e respondeu à reportagem no privado.

“Veio a confirmação de que eu era, sim, o técnico (do São Caetano) naquela partida. Não lembrava a esse respeito. Tenho uma ideia bem clara: futebol deve ser decidido dentro do campo. Noventa, 95 minutos para se decidir. Mas também existem regras a serem cumpridas. Gostaria desse cuidado com todas as regras antes que os jogos acontecessem, seria importante. Não haveria esse tipo de problema como aconteceu”, reinvindicou o treinador.

Tite reconheceu que o São Caetano se deu bem na decisão extracampo de 2003, mas não se sentiu bem à época. “Fui beneficiado, não lembrava, mas não gostaria que fosse assim. Preferia que se decidisse dentro do campo”.

Questionado se gostaria de disputar o clássico suspenso da sexta rodada das Eliminatórias novamente, Tite respondeu: “A decisão justa é respeitar leis, a decisão justa é antes a saúde das pessoas. A decisão justa é que o esporte é importante, mas tem uma escala de importância em que a saúde está acima, as leis estão acima”, afirmou o treinador.

Mais à frente, Tite admitiu que a expectativa dele é pela continuidade ou a realização de uma nova partida. “Gostaria, sim. Antes disso, absolutamente correta toda as manifestações da Anvisa, do Ministério da Saúde, é de leis, de respeitar leis, o futebol não está acima disso, tem que ser respeitado, estamos lidando com vidas. Eu tenho um critério que está acima disso: é a saúde”.

Sem suspense, Tite revelou que o time para a partida de hoje será o mesmo do início da partida contra a Argentina no último domingo, com Neymar e Gabriel Barbosa formado o ataque.

Relatório diz que CBF contatou Casa Civil

Ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou relatórios e documentos detalhando a ação que culminou na suspensão do duelo entre Brasil e Argentina, pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no último domingo, na Neo Química Arena, em São Paulo. Em relatório, o servidor da Anvisa Yunes Eiras Baptista cita que o presidente em exercício da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, tentou intermediar contato com o ministro da Casa Civil do governo federal, Ciro Nogueira.

“Neguei o contato e informei que se dirigisse à diretoria da Anvisa, a qual me encontrava subordinado, visto que se tratava de ação sanitária e legal”, descreveu. “Vários outros que se identificaram como dirigentes de alguma instituição perguntaram se seria possível negociação, bem como outros tentaram conversas mais discretas, como Sr. Sergio Ribas, Vice-presidente da Comissão de Governança e Transferência da Conmebol, que solicitou se poderia fornecer o telefone para contato de algum diretor ao qual estaria subordinado”, prosseguiu.

Através de nota oficial, a CBF negou que seu presidente tenha intermediado contato com Ciro Nogueira. “Ednaldo Rodrigues nega, com veemência, que tenha feito qualquer contato com servidores da Anvisa nos termos relatados pelo Relatório Complementar de Evento sobre o jogo entre Brasil e Argentina. Tampouco autorizou qualquer pessoa a falar em seu nome. O presidente da CBF não falou sobre esse ou qualquer outro assunto com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, sequer tem seu contato telefônico. A versão é fantasiosa", garantiu a confederação.

O servidor da Anvisa listou, ainda, tentativas de “obstrução”, “pressão” e “constrangimento” na tentativa de impedir que o goleiro Martínez, o zagueiro Romero e os meias Lo Celso e Buendía entrassem em campo. Todos eles entraram de forma ilegal no Brasil ao não citarem passagem pela Inglaterra nos 14 dias anteriores à chegada em São Paulo. “Durante todo este tempo, fiquei em pé no corredor de acesso ao vestiário da Argentina e cercado por seguranças, dirigentes e comissão técnica, sendo minha proteção os policiais da PF e dois policiais militares do Estado de São Paulo."