A partida da semifinal da Libertadores da América entre Flamengo e Barcelona, do Equador, não será mais no Distrito Federal. Após ser abrigado por Brasília e jogar diante de sua torcida contra o Defensa y Justicia, nas oitavas de final, e o Olimpia, nas quartas, o clube rubro-negro optou por tirar o duelo de ida por um lugar na final do torneio continental do Estádio Nacional Mané Garrincha e transferi-lo para o Maracanã, no Rio de Janeiro. O motivo foi o mesmo que trouxe o clube ao solo candango: a liberação do retorno gradual na arena da capital fluminense. A partida ocorre em 22 de setembro, às 21h30.
A troca do mando foi solicitada pelo Flamengo e confirmada pela Diretoria de Competições de Clubes da Conmebol, através de nota oficial, ontem. Todos os envolvidos na operação da partida estão cientes e organizam os trâmites para a volta do público ao Maracanã. A última vez em que o rubro-negro carioca atuou diante de sua torcida no Rio de Janeiro foi justamente diante do Barcelona, em 11 de fevereiro de 2020. Na ocasião, os dois clubes se enfrentaram pela fase de grupo da Libertadores diante de 63.426 pessoas. O time carioca venceu, por 3 x 0, com gols de Gustavo Henrique, Gabigol e Bruno Henrique.
A possibilidade de trocar Brasília pelo Rio de Janeiro tomou forma no decorrer da semana. Na terça-feira, a Prefeitura carioca autorizou público no Maracanã a pedido do Flamengo. A ideia inicial era utilizar três jogos do rubro-negro em sequência no Rio de Janeiro como eventos-teste: dois contra o Grêmio, pela Copa do Brasil e pela Série A do Campeonato Brasileiro, e contra o Barcelona. As partidas teriam reabertura escalonada das arquibancadas: 35%, 40% e 50%, respectivamente. Os jogos das competições nacionais, porém, foram rechaçados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Durante o dia, o Flamengo chegou a abrir negociações com o Governo do Distrito Federal (GDF) para manter a Libertadores em Brasília. O rubro-negro fez duas novas exigências: o aumento de 30% para no mínimo 40% a capacidade de público no estádio e a inclusão dos testes de antígeno, item de segurança escolhido pelo Rio de Janeiro mais rápido e barato do que o RT-PCR exigido na capital federal. O Executivo Local, porém, não quis bancar um novo decreto. Com isso, e apostando em uma redução de custos na operação do jogo, a diretoria optou pela Cidade Maravilhosa.
O comércio de Brasília apostava no jogo para faturar em um período de crise econômica e baixo número de eventos devido à pandemia da covid-19. Ontem, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio) protocolou um apelo para que o governador Ibaneis Rocha atuasse no sentido de manter a partida na capital federal. A aposta era de lucro com a movimentação de cerca de 22 mil torcedores na cidade. A alegação era de que a partida, assim como as manifestações de 7 de setembro, movimentariam, principalmente, o setor hoteleiro, de serviços e de alimentação.
Ao Correio, o governador comentou a decisão do Flamengo de voltar ao Rio de Janeiro. “Lamento que eles tenham optado assim, mas não fiz leilão de estádio. Temos restrições por causa da pandemia e ainda temos que manter cuidados”, afirmou Ibaneis à coluna Capital S/A.
Torcedores temem ficar no prejuízo
A partida da semifinal da Libertadores foi confirmada pela Conmebol para o Mané Garrincha em 20 de agosto, apenas dois dias depois da goleada, por 5 x 1, e da classificação sobre o Olimpia, também na capital. No mesmo dia, através das redes sociais e e-mails enviados a sócios-torcedores, o clube rubro-negro se mobilizou na divulgação da terceira partida da competição continental no Distrito Federal.
Com isso, torcedores se mobilizaram para acompanhar o jogo em Brasília. Um deles foi o autônomo Gabriel Tomasi, 22 anos. Morador de Brusque (SC), ele comprou passagem aérea e hospedagem. O hotel foi cancelado gratuitamente, mas o rubro-negro teme o prejuízo com o transporte. A taxa de cancelamento abrange quase 90% do valor pago. “Eu fiz a compra após a confirmação do Flamengo e da Conmebol. Gostaria que, pelo menos, um dos dois se posicionassem tentando agilizar esse processo. Seria o mínimo em consideração por aqueles que compraram”, desabafou.
A viagem para Brasília seria a segunda para acompanhar o Fla. A primeira, em 2019, foi ao Maracanã. Com a incerteza de reembolso, Tomasi não cogita mudar o planejamento para ir ao Rio de Janeiro. “Se tivesse um plano para realocar essas passagens ou uma solução proposta por Flamengo com as companhias aéreas até iria. Mas tendo que se preocupar com esse cancelamento, fica totalmente inviável. Se não der certo, tentarei uma conversa com algum advogado”, ressaltou. “Seria o meu primeiro mata-mata de Libertadores no estádio e infelizmente acabaram com o sonho.”
Em decisão unânime, CBF mantém Brasileirão sem torcida
O Flamengo também esteve no centro das atenções, ontem, no debate sobre a volta de público na Copa do Brasil e na Série A do Campeonato Brasileiro, competições organizadas pela CBF. A entidade reuniu o Conselho Técnico da elite do futebol nacional para deliberar sobre a possibilidade de abrir os portões dos estádios para os torcedores. Com a presença de 19 clubes — somente o rubro-negro carioca não enviou representante — ficou definido que os jogos da primeira divisão seguem com portões fechados.
O entendimento é de que o retorno dos torcedores às partidas ocorrerá somente quando as autoridades públicas de todas as cidades dos clubes participantes autorizarem, garantindo a isonomia total na competição. A decisão foi tomada de forma unânime. Defensor da abertura dos portões e na expectativa de abrir o Maracanã nas partidas contra o Grêmio, o Flamengo, em nota, havia anunciado que não participaria do encontro por considerar que a decisão “escapa à competência desportiva da CBF”.
Com autorização da Prefeitura do Rio de Janeiro, o clube carioca tem uma liminar do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) autorizando a presença de público em partidas do Flamengo como mandante. Na Série B, o Cruzeiro jogou com torcida contra o Confiança, no Mineirão, embasado no mesmo documento. Em acordo, os clubes da Série A decidiram se movimentar para cassar a autorização. Se o rubro-negro insistir em jogar com portões abertos, a CBF pode adiar rodadas do Campeonato Brasileiro.
“A CBF irá analisar juridicamente a questão, uma vez que interfere na esfera de direito de terceiros adquirentes de propriedades comerciais da competição”, disse a entidade. Em nota, o Atlético-MG destacou que a volta do público pode ocorrer a partir da 23ª rodada, marcada para ocorrer entre 2 e 3 de outubro. O Galo, inclusive, também tem uma liminar do STJD, mas “decidiu que respeitará o acordo entre os clubes, em nome do fair play esportivo”. Um novo encontro do Conselho Técnico está previsto para 28 de setembro.
Em entrevista ao programa Seleção SporTV, o vice-presidente jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, disse que o clube joga “dentro da regra”. “O STJD nos deu uma decisão favorável. Se mudar, vamos cumprir. É direito dos clubes tentarem. O poder público que está preparado para dizer se pode ter torcida.” Rival das possíveis partidas, o Grêmio ameaçou não entrar em campo. “Tivemos um jogo sem torcida. Por equidade e pelo regramento da CBF, o segundo também tem que ser assim. Se insistirem, não jogaremos”, garantiu Nestor Hein, diretor jurídico do Tricolor, à Rádio Guaíba. (DQ)