Faltando pouco mais de um ano para a Copa do Mundo do Catar, tem muita gente na contagem regressiva para a chegada deste grande evento. Para alguns, é muito mais do que apenas futebol. Este é o caso do carioca Marcelo Gervasio Silva, 57 anos. No caso dele, a viagem para o Catar vai começar daqui a pouco. De Brasília, ele pretende chegar ao país do Oriente Médio de skate para o torneio em 2022.
Parece loucura, mas Marcelo é experiente quando se trata de viagens em cima da prancha. Em 2018, ele se tornou a primeira pessoa a dar a volta ao mundo de skate, com direito a entrar no Guinness Book. Figurinha carimbada no noticiário, ele apareceu em outras reportagens do Correio. Toda essa determinação não é simplesmente turismo.
Tudo teve origem como uma homenagem ao pai dele, que morreu em 2002, vítima de um derrame cerebral. “Eu, que era apontado como ovelha ruim da minha família, fui o único a permanecer no hospital tratando do meu pai durante dois anos. Dez dias antes de ele falecer, prometi a volta ao mundo de skate. Ele me pediu para não fazer isso, mas estava determinado a cumprir minha promessa feita em seu leito de morte”, lembra. Promessa feita é promessa cumprida. Em 2004, Marcelo construiu um skate mais resistente, que possibilitaria a viagem.
O trajeto começou em 2009. O ponto de partida: Formosa (GO), cerca de 120km de Brasília. O primeiro destino foi o Rio de Janeiro, alcançado 45 dias depois. A volta completa ao mundo demorou 10 anos para ser finalizada. Foram 57 mil quilômetros, cinco continentes e 47 países para a conta. Em 2018, a parada foi a Copa do Mundo na Rússia. Quatro anos depois, Marcelo agora quer continuar o ciclo no Catar. “Depois que completei a volta ao mundo, eu estou viajando para os grandes eventos internacionais. Como as Olimpíadas foram canceladas devido à pandemia, meu foco está no Catar e, depois, Paris 2024”, explica.
A ideia é partir em novembro. Todo o percurso deve demorar um ano para ser concluído. Do Brasil, ele seguirá para Portugal de avião e, de lá, começa o trajeto em cima do skate. Sem patrocínio, na primeira viagem Marcelo teve a ajuda de um amigo, que morreu recentemente, vaquinhas e do suor do trabalho na fabricação de pranchas de surfe. Em 2017, uma empresa de telefonia de Dubai vendo reportagens sobre ele resolveu patrocinar.
“Não vou dizer que ficou mais fácil, mas toda aquela dificuldade de ter que trabalhar para suprir acabou. O patrocínio veio em uma grande hora”, recorda. A empresa bancava seguro viagem, passagens, hospedagens e alimentação.
Do DF para o mundo
Carioca, Marcelo descobriu que Brasília poderia ser uma grande facilitadora para a aventura. Foi assim que começou uma relação que dura anos. “Tudo aqui funciona. Todas as vezes que meu projeto estava fora de Brasília, ele não foi para frente”, recorda. Por aqui, ele resolve muitas questões burocráticas, como papeladas em embaixadas, mas também fez muitos amigos e aprendeu a se encantar pela capital.
Como exemplo, ele lembra que, em 2013, depois de ser personagem em uma matéria do Correio, foi procurado pelo chefe-geral das Embaixadas do Brasil, parceiro até hoje na empreitada. “O pessoal do Itamaraty viu a reportagem, disse que precisava me ajudar e me encontrou no Eixão”, conta.
Segundo Marcelo, a intenção, desta vez, é levar uma bandeira de Brasília na viagem escrito: “Visite Brasília”. A bandeira será fornecida pela Secretaria de Turismo do DF. “Eu acabei gostando demais daqui. Toda vez que voltava de viagem, eu vinha primeiramente aqui agradecer ao pessoal do Itamaraty. Comecei a ter amigos aqui e a conhecer pessoas. O carioca não gosta muito de Brasília não, eles pensam que tudo aqui é política, tem uma visão errada”, destaca. Agora, Marcelo está em Brasília contando com o apoio de uma assessoria de marketing esportivo do Parque da Cidade e resolvendo papeladas para iniciar a viagem.
Aventuras
Nesses mais de 10 anos de aventuras pelo mundo, é claro que não faltam histórias para contar, e Marcelo parte em busca de ainda mais recordações. Da volta ao mundo, ele lembra de uma em particular que foi preciso coragem para enfrentar.
Quando ele estava no Uzbequistão, fez amizade com um membro do Talibã, indo parar na casa dele. Ele lembra que estava na embaixada quando percebeu que não falava inglês, precisava de ajuda. Foi então que conseguiu resolver o problema. “O cara ficou feliz da vida. Depois chegou o irmão dele e perguntou por que eu os ajudei. Eu falei: ‘eu sou brasileiro, estou passando um tempo aqui, eu queria conhecer um pouco vocês’. Ele me falou que era talibã, e eu perguntei se eu podia ir ao Afeganistão. E ele me disse ‘com esse tênis americano, essas roupas que você está usando, não vai, não, usa uma menos agressiva. Mas você é convidado a ir para a minha casa’. É uma favela do Alemão, todo mundo de arma pesada, mas me respeitaram demais. foi sensacional”, lembra.
Trajeto
A viagem, que é para começar em novembro, terá início em Portugal e será finalizada na Etiópia, após os jogos do Catar. A previsão é que todo o trajeto demore um ano para ser feito. Confira o roteiro:
Avião: Brasil para Lisboa
Skate: Portugal, Espanha, Andorra, França, Mônaco, Vaticano, Itália, Malta, Eslovênia, Croácia, Bósnia, Sérvia, Montenegro, Albânia, Macedônia, Grécia, Bulgária, Turquia, Síria, Iraque Curdistão, Irã, Emirados Árabes Unidos Oman Yemen Arábia Saudita, Qatar, Bahrein, Kuwait, Iraque ao sul, Jordânia, Egito, Sudão, Etiópia.
Avião: Etiópia para Brasil
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