Pode ser cedo para cravar, mas a Tóquio'2020 é a Olimpíada das Mulheres. Já, na abertura, a pira foi acesa pela tenista Naomi Osaka. Negra em um país asiático, a atleta representou a terra do sol nascente sob o olhar de todo o mundo. Um símbolo mais do que forte de que as mulheres conquistaram lugar de destaque nos Jogos Olímpicos modernos idealizados pelo francês Pierre Frédy, o Barão de Coubertin, mas que vetou a participação feminina alegando que elas seriam sempre “imitações imperfeitas”.
Pela primeira vez na história dos Jogos, o número total de atletas é igual entre homens e mulheres, ou seja 50% de homens e 50% de mulheres.
Essa igualdade também pode ser vista nas conquistas da delegação brasileira. Depois de 12 dias de competição, nesta segunda (2), as mulheres respondem por 50% das conquistas da delegação brasileira: Rebeca Andrade (ginástica, prata e ouro), Rayssa Leal (skate, prata), Mayra Aguiar (judô, bronze) e Luisa Stefani e Laura Pigossi (tênis, bronze).
A simbologia de uma japonesa negra abrindo os Jogos não significa que as disparidades entre homens e mulheres tenham sido completamente superadas no esporte. Elas persistem, mas, nesta Olimpíada, as distâncias dimininuíram.
"Estas Olimpíada e Paralimpíada serão um marco, na virada da conquista para as mulheres no esporte, tanto para as atletas como demais mulheres que atuam nas comissões técnicas, médicas e administrativas”, afirma a coordenadora de esporte paralímpico do CT UFMG, Andressa da Silva Mello, autora do Meninas e mulheres no esporte, um material didático de esclarecimento sobre as mulheres atletas e os cuidados para que obtenham bons desempenhos.
Em formato de gibi, a cartilha idealizada por Mônica Andersen e escrita por Maíta Poli de Araujo e Andressa Silva será lançada em agosto e distribuída gratuitamente para as escolas.
A prova de que as desigualdades não serão toleradas foi dada pelo time feminino de ginástica da Alemanha ao ir para os treinos e para a fase qualificatória de forma bem diferente do que é costume. No lugar de collants, elas usaram macacões até o tornozelo. O objetivo da mudança no vestuário é combater a sexualização do corpo feminino.
Uma reivindicação justíssima, mas ainda houve quem tentasse desqualificar a atitude das meninas como baseada em um certo moralismo. No entanto, elas deixaram claro que é liberdade de cada atleta escolher o que quiser vestir. Não foi a primeira vez que as meninas da Alemanha usaram macacões para competir. Elas já tinham vestido no campeonato europeu de ginástica.
A questão da desigualdade de gênero é cada vez mais discutida no esporte profissional, mas, pasmem!, a posição das mulheres sobre o que vestir ainda é questionada por federações esportivas.
A Seleção Norueguesa Feminina de Handebol de Praia, por exemplo, foi multada pela federação da modalidade pela mudança nos uniformes que não eram biquinis. Durante a Euro de Handebol de Praia Feminino'2021, elas jogaram com shorts.
Sim você leu certo, shorts a exemplo do que os homens usam. As jogadoras tiveram que pagar uma multa, que só não saiu do próprio bolso porque a cantora Pink assumiu o pagamento.
ELAS SÃO 50% EM TÓQUIO
A organização dos Jogos de Tóquio ofereceu 50% das vagas para serem ocupadas pelas mulheres.
"É um grande ganho. Já foi meio que desmistificar essa questão de priorizar o gênero masculino. Tóquio já é um diferencial, porque o comitê organizador ofereceu 50% para vagas serem preenchidas para mulheres, número desproporcional em jogos anteriores", diz.
Seiko Hashimoto, chefe do comitê organizador dos Jogos, afirma que a Olimpíada japonesa ficará na história como um ponto de virada.
"As conquistas são independentes do gênero. O esporte é uma ferramenta para conquistar essa igualdade e mostrar para o mundo que as mulheres são capazes de fazerem o que quiserem e estarem no lugar que gostariam de estar", destaca Andressa.
Sim você leu certo, shorts a exemplo do que os homens usam. As jogadoras tiveram que pagar uma multa, que só não saiu do próprio bolso porque a cantora Pink assumiu o pagamento.
Elas são 50% em Tóquio
A organização dos Jogos de Tóquio ofereceu 50% das vagas para serem ocupadas pelas mulheres.
"É um grande ganho. Já foi meio que desmistificar essa questão de priorizar o gênero masculino. Tóquio já é um diferencial, porque o comitê organizador ofereceu 50% para vagas serem preenchidas para mulheres, número desproporcional em jogos anteriores", diz.
Seiko Hashimoto, chefe do comitê organizador dos Jogos, afirma que a Olimpíada japonesa ficará na história como um ponto de virada.
"As conquistas são independentes do gênero. O esporte é uma ferramenta para conquistar essa igualdade e mostrar para o mundo que as mulheres são capazes de fazerem o que quiserem e estarem no lugar que gostariam de estar", destaca Andressa.
Um dos pontos que denunciavam a desigualdade de gêneros era o percentual desproporcional entre homens e mulheres, mas há outros pontos questionados.
Corpos femininos julgados
Outro ponto de desigualdade de gênero são as avaliações dos corpos dos atletas. As críticas feitas à goleira da Seleção Brasileira Feminna de Futebol, Bárbara, trazem um componente sexista.
"Não temos essa questão de corpo ideal. O atleta deve ter um bom desempenho físico, competitivo. Esse é o primeiro ponto a ser levantado no esporte. Se a goleira tem um bom desempenho e ela faz o trabalho dela dentro de campo, ponto e acabou. Não ter o corpo ideal para o esporte. Ela vai mostrar competência dentro de quadra. Não é a imagem dela que vai fazer que tenha uma exposição negativa em relação a isso", afirma Andressa.
"A cobrança é maior para as mulheres que têm que provar o tempo todo que ela é perfeita, tem o corpo perfeito para poder conquistar. Tem que desmistificar isso. Eu não preciso ter o corpo perfeito para chegar no rendimento de alta performance. Não preciso ter o corpo perfeito para chegar em uma olimpíada. Isso mostra a força da mulher. Se ela não tivesse passado pelas etapas que antecipam uma olimpíada, ela não estaria lá hoje representando o Brasil."
A especialista reforça que a atleta já foi testada em competições anteriores.
A desigualdade salarial e outro problema. "Essa questão da remuneração tem sido debatida para que seja equiparada". Ela lembra do movimento de atletas norte-americanas. "Joe Biden contratou para o governo dele uma medalhista olímpica do futebol. Para mostrar o quanto é importante que a mulher tenha remuneração igual ao atleta olímpico masculino. Cada vez mais debatido e cada vez mais feita a equiparação."
Elas são medalhistas
Não teve brasileiro ou brasileira que não se emocionou com a skatista Rayssa Leal (medalha de prata), a ginasta Rebeca Andrade (ouro e de prata) ou a judoca Mayara Aguiar (bronze). A força, a competência e alta perfomance de cada uma delas, além do carismo, levaram muita gente às lágrimas.
"Temos mulheres medalhadas (pelo Brasil), mostrando como a mulher pode conquistar medalhas importantes para o Brasil, desde a iniciação, como é o caso da Rayssa no skate, como medalhistas que já estão no esporte há muito tempo, como é o caso do Judô, que conquistou terceira medalha em sua trajetória em Olimpíadas", comenta.
Trajetória desde uma iniciação até uma competição de alto rendimento tem que ser oportunizada. "Desde o período infantil, dando condições para que essa pessoa chegue no alto rendimento", diz.
História das mulheres nas Olimpíadas
O idealizador dos Jogos Olímpicos na era moderna, o Barão de Coubertin, vetou a participação das mulheres. No entanto, não é de hoje que elas demonstram que estarão onde quiserem, mesmo que para isso tenham que superar os obstáculos de gênero impostos, dizendo no popular, o machismo.
Stamata Revithi teria corrido a maratona, prova mais tradicional dos Jogos da Grécia, do lado de fora do estádio um dia depois de os homens terem competido.
“Foram quase seis horas correndo para percorrer os 42 km, mas ela conseguiu terminar”, afirma Andressa.
Quatro anos depois, em Paris, 22 mulheres participaram oficialmente dos Jogos nas modalidades de tênis e golfe. Mas elas não ganhavam as coroas de oliveira (prêmio distribuído aos vencedores).
A primeira brasileira a participar de uma Olimpíada foi a nadadora Maria Lenk, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1932.