A estreia de Wendell Belarmino nas Paralimpíadas não poderia ser melhor. Aos 23 anos, o nadador de Brasília foi campeão dos 50m livre da classe S11 (para cegos) na manhã desta sexta-feira (27/8), conquistando a segunda medalha de ouro do Brasil na natação e quarta do país nos Jogos de Tóquio-2020. Na prova mais veloz da piscina do Centro Aquático da capital japonesa, o brasileiro venceu com 26s03, à frente do chinês Dongdong Hua (26s18) e do lituano Edgaras Matakas (26s38).
“A ideia era vir me divertir, tentar chegar no pódio e nadar o mais rápido possível. Felizmente, o meu mais rápido rendeu o ouro. Estou realizando três sonhos ao mesmo tempo: vir disputar uma Paralimpíada, ganhar uma medalha e ser campeão. Não tenho nem palavras. estou muito feliz”, comemorou Wendell, após a conquista, em entrevista ao SporTV.
Wendell nasceu com um glaucoma, que lhe causa uma perda de visão gradativa, e conheceu a natação na escola. “Eu sempre fui uma pessoa muito competitiva. Me colocaram nas competições escolares, mas eu queria mais”, conta o brasiliense. Em 2015, ele procurou o técnico Marcus Lima para se dedicar à natação. Antes, Wendell já havia feito hipismo, mas se encontrou mesmo dentro da piscina.
Wendell sabia nadar apenas um estilo da natação quando começou a treinar com Marcus. Não demorou para aprender os outros três e se surpreendeu quando o técnico lhe perguntou se ele queria disputar uma Paralimpíada. “Ele achou que era loucura, mas eu falei que dava se ele comprasse a idéia”, conta o treinador, mais conhecido como Marcão, que está em Tóquio com a Seleção Brasileira.
Por ter menos de 5% da visão, Wendell geralmente fica sabendo a posição que completa as provas por meio do grito do treinador, das arquibancadas. Desta vez, antes mesmo de ser avisado por Marcão, a vibração da equipe verde-amarela foi o aviso do resultado histórico que o brasiliense havia conquistado no Centro Aquático de Tóquio. "Do jeito que o pessoal estava gritando, não tive dúvidas que eu tinha ganhado", comentou Wendell.
De Brasília para o mundo: mais um nome forte da nova geração
Na edição de despedida de Daniel Dias, o maior medalhista brasileiro em Paralimpíadas com 27 pódios até o momento, jovens nadadores do Brasil mostram que o país seguirá bem representado na natação paralímpica. Wendell Belarmino foi apresentando ao mundo em 2019, já em grande estilo.
Nas duas primeiras grandes competições que disputou, Wendell conquistou seis medalhas (quatro de ouro e duas de prata) nos Jogos Parapan-Americanos Lima 2019. E, depois, foi campeão mundial nos 50m livre e ganhou outras duas medalhas de prata nos 100m livre e no revezamento 4x100m livre 49 pontos no Mundial de Londres 2019.
Wendell treina na Instituição Pro Brasil, no Centro de Excelência da Universidade de Brasília (UnB), e soube superar as adversidades durante a pandemia de covid-19 para, inclusive, melhorar os tempos que lhe renderam conquistas no Mundial.
O Brasil subiu outras duas vezes ao pódio da natação paralímpica na manhã desta sexta-feira com estreantes de gala nos Jogos Paralímpicos. Gabriel Bandeira foi medalha de prata nos 200m livre S14 (para atletas com deficiência intelectual), conquistando a segunda medalha dele em Tóquio. O nadador de 21 anos já havia ganhado o ouro nos 100m borboleta.
O outro pódio brasileiro veio de uma estreante veterana. Maria Carolina Santiago conquistou o bronze na disputa dos 100 metros costas S12 (para atletas com baixa visão acentuada) nas Paralimpíadas de Tóquio. Ela descobriu tarde que podia se enquadrar no esporte paralímpico e debutou em competições paralímpicas internacionais apenas aos 33 anos, no Open Internacional de 2019.
Em menos de uma temporada completa, a pernambucana Maria Carolina tornou-se campeã mundial e agora, aos 36, sobe ao pódio nos primeiros Jogos Paralímpicos da carreira.
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