Tóquio — Os atípicos Jogos Olímpicos de Tóquio, realizados em meio à pandemia de covid-19, terminaram com resultados históricos para o Brasil. No Japão, o país bateu o recorde de pódios e alcançou o melhor lugar no quadro de medalhas nas Olimpíadas da Era Moderna, desde 1896.
Ao longo dos dias de disputa, atletas do Time Brasil foram ao pódio 21 vezes no Japão — duas a mais do que nos Jogos do Rio-2016. Atletas brasileiros conquistaram sete medalhas de ouro (igualando o recorde de cinco anos atrás), seis de prata e oito de bronze.
“Conseguimos o maior número de medalhas, subimos na classificação, realizamos o feito que até então a Grã-Bretanha tinha de fazer uma Olimpíada em casa e na seguinte superar o desempenho. A meta foi cumprida. O sarrafo subiu, mas o propósito é manter o objetivo”, projetou o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Paulo Wanderley.
O Brasil ficou à frente de países tradicionais, como Cuba, Hungria e Coreia do Sul. O Canadá terminou em 11º por ter três medalhas de bronze a mais. É um sinal de evolução, impulsionado por grandes desempenhos no boxe e no skate (ambos com três pódios). Por outro lado, times de modalidades tradicionais, como vôlei (com só uma medalha) e basquete (que nem foi aos Jogos), terão de passar por processos de renovação.
No mar de Tóquio, soprou um vento a favor do Brasil. Dos sete ouros, quatro foram conquistados na água: Isaquias Queiroz (canoagem), Ítalo Ferreira (surfe), Martina Grael e Kahena Kunze (vela) e Ana Marcela Cunha (maratona aquática). A ginasta Rebeca Andrade, o pugilista Hebert Conceição e o time de futebol masculino também foram campeões olímpicos.
Entre ouros, pratas e bronzes, foram conquistadas medalhas em 13 modalidades — maior variedade da história olímpica brasileira. “Fuso, clima, alimentação. A gente entendeu que era importante montar as bases para que os atletas se preparassem adequadamente”, completou Marco La Laporta, chefe da Missão Brasileira nos Jogos, ao falar sobre os motivos dos resultados.
As conquistas representaram também um alívio financeiro para muitos medalhistas. O COB calcula ter premiado quem subiu no pódio com R$ 4.650.000,00. Ganhar o ouro, por exemplo, rendeu de R$ 250 mil a R$ 750 mil, a depender se a modalidade é individual ou coletiva. É um incentivo para melhorar o rendimento e bater novos recordes em Paris, em 2024.
Os vitoriosos Jogos Olímpicos de Tóquio para o Brasil foram um dos mais controversos da história. Realizado em meio ao avanço da pandemia de covid-19 no Japão, enfrentou sérias críticas da população local. Nesse cenário, os organizadores e o governo japonês listaram 70 páginas de regras no Playbook, espécie de guia de comportamento para evitar a propagação do vírus.
Mesmo assim, a covid-19 fez parte dos Jogos Olímpicos. Foram 436 casos positivos de coronavírus — 286 residentes no Japão e 150 estrangeiros. Do total de contaminados, 33 são atletas. Nenhum brasileiro está na lista.
“Nosso protocolo também segue com monitoramento por 14 dias depois de as pessoas voltarem ao Brasil. Não ter tido casos de covid-19 entre brasileiros foi nossa maior conquista”, declarou Beatriz Perondi, integrante da comissão médica do COB no Japão.
Encerramento
A maioria da população japonesa (entre 60% e 80%, segundo pesquisas anteriores aos Jogos) foi contra a realização dos Jogos durante um momento em que a pandemia se agrava no país. Os favoráveis, porém, estiveram nas instalações olímpicas e fizeram filas para ser fotografados em frente aos arcos do Estádio Olímpico.
Ontem, uma multidão se aglomerou do lado de fora do local para tentar acompanhar a Cerimônia de Encerramento — embora os fogos de artifício fossem o máximo que pôde ser visto de lá. Quem passou o domingo à noite em volta da arena se dividiu entre apoio e fortes protestos contra os Jogos. No interior do estádio, o que se viu foi uma cerimônia agitada, com show de luzes e fogos e a presença de artistas locais. A chama olímpica se apagou depois de 17 dias desde a abertura dos Jogos.
O discurso de encerramento do presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, foi de alívio e agradecimento aos atletas. “Vocês nos inspiraram com este poder unificador do esporte. Isso foi ainda mais notável, dados os muitos desafios que vocês tiveram de enfrentar por causa da pandemia. Nestes tempos difíceis que todos vivemos, vocês dão ao mundo o mais precioso dos presentes: a esperança”.
A exemplo do que ocorreu na Cerimônia de Abertura, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) decidiu enviar uma delegação enxuta para o encerramento. Foram apenas seis pessoas, entre atletas, técnicos, dirigente e médica. A porta-bandeira foi a ginasta Rebeca Andrade, campeã olímpica no salto e vice-campeã no individual geral. O outro competidor presente foi Hebert Teixeira, ouro no boxe e mais animado nas danças durante as apresentações.
A pandemia fez com que 63 dos 206 comitês olímpicos não enviassem representantes ao evento, que, como é tradição, teve a cerimônia de premiação das maratonas masculina e feminina.
No fim, Tóquio passou o bastão para Paris, sede dos Jogos Olímpicos de 2024. O Estádio Olímpico ganhou as cores da bandeira francesa: azul, branco e vermelho.
Em um vídeo com o presidente Emmanuel Macron, os franceses destacaram os principais cartões postais da capital. A bandeira da Olimpíada foi passada pela governadora de Tóquio para a prefeita de Paris. No telão, imagens de centenas de pessoas reunidas em frente à Torre Eiffel assistindo à cerimônia.
Por causa da pandemia, o ciclo desta vez será mais curto, de apenas três anos. Daqui a 1.082 dias, em Paris, a expectativa é de que a chama olímpica seja acompanhada pelo fim da covid-19, a volta do público e da verdadeira comunhão dos povos.
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