Jogos de mulheres empoderadas

Quantidade de pódios femininos do Brasil praticamente dobra em Tóquio na comparação com o desempenho alcançado na Olimpíada Rio-2016. Das sete medalhas de ouro do país no Japão, três tiveram assinatura delas

Maíra Nunes
postado em 09/08/2021 00:18 / atualizado em 09/08/2021 17:05

O Brasil encerrou os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020 com a melhor campanha da história no evento. As 21 medalhas (7 ouros, 6 pratas e 8 bronzes) ultrapassaram os 19 pódios da Rio-2016. Parte crucial para essa quebra de recorde foi a maior participação das mulheres nas disputas e nas conquistas. As brasileiras tiveram o melhor desempenho em Olimpíadas. Com isso, o país terminou a competição na 12ª posição no quadro de medalhas, a melhor já alcançada.

Nos Jogos do Rio 2016, elas foram responsáveis por cinco das 19 medalhas brasileiras, o equivalente a 26%. Em Tóquio-2020, as conquistas femininas do Brasil quase dobraram, subindo ao pódio nove vezes — 43% do total do país. Aumento diretamente relacionado ao crescimento delas na delegação. Dos 302 atletas do Time Brasil em Tóquio-2020, 141 eram mulheres (47%). Uma proporção maior à da última edição olímpica, quando foram 43% dos competidores do país.

Na capital japonesa, as brasileiras também somaram mais medalhas douradas. As mulheres ganharam três dos sete ouros do Brasil em Tóquio, representando 37,5%. Na Rio-2016 foram dois ouros femininos para o Brasil, quase 30% dos sete conquistados em solo brasileiro. As velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze incrementaram as estatísticas das duas edições olímpicas.

Na Rio-2016, a outra campeã olímpica foi a judoca Rafaela Silva. Em Tóquio-2020, a dupla teve a companhia de Rebeca Andrade (ginástica artística) e Ana Marcela Cunha (maratona aquática) como medalhistas de ouro. As outras brasileiras que subiram ao pódio foram Rebeca Andrade (também com a prata), Rayssa Leal (skate, prata), Bia Ferreira (boxe), Seleção feminina de vôlei (prata), Mayra Aguiar (judô, bronze) e Luisa Stefani e Laura Pigossi (tênis, bronze).

Resultado condizente ao aumento da participação feminina nos Jogos Olímpicos. Apenas em Londres-2012, todas as modalidades foram abertas à participação das mulheres. E elas representaram 44% dos atletas. Na Rio-2016, elas foram 45%. Em Tóquio-2020, chegaram a 48%. Na de Paris-2024, a expectativa é de que seja a primeira edição do maior evento esportivo do mundo com o número total de atletas igual entre homens e mulheres, ou seja, 50% de cada gênero.

Veja as medalhistas olímpicas do Brasil

Rebeca Andrade
ouro na ginástica artística
Aos 22 anos, a atleta de Guarulhos (SP) fez história ao conquistar a primeira medalha olímpica da ginástica feminina do Brasil. Embalada ao som de Baile de favela, ela levou a prata no individual geral, prova que engloba os quatro aparelhos (solo, trave, salto sobre o cavalo e barras paralelas) não contou com Simone Biles, por problemas relacionados à saúde mental. Depois, Rebeca voltou ao pódio ao sagrar-se campeã olímpica no salto sobre a mesa, tornando-se a primeira brasileira a ganhar duas medalhas em uma mesma edição olímpica.

Martine Grael e Kahena Kunze
ouro na vela (49er FX)
Nem mesmo as duas atletas pareciam acreditar no ouro. São duas participações em Jogos Olímpicos e dois ouros na classe 49er FX da vela. Martine e Kahena chegaram na medal race dos jogos de Tóquio dependendo apenas de si para tornarem-se bicampeãs olímpicas A dupla de velejadoras de 30 anos do Brasil terminou na terceira colocação, com larga vantagem sobre as adversárias diretas, somando 76 pontos, seguidas pelas alemãs Tina Lutz e Susann Beucke, com 83, e pelas holandesas Annemiek Bekkering e Annete Duetz, com 88.

Ana Marcela Cunha
ouro na maratona aquática
A baiana tem um arsenal tão grande de títulos na carreira que aos 19 anos já é um dos principais nomes da história da maratona aquática. Mas faltava uma medalha em olimpíadas. E não podia ter cor melhor. Na terceira participação dela no evento, Ana Marcela completou a prova de 10km com um corpo na frente, batendo na placa da linha de chegada em primeiro lugar, com o tempo de 1hora59min30seg8. A prata ficou com a holandesa Sharonvan Rouwendaal e o bronze com a australiana Kareena Lee.

Mayra Aguiar,
bronze no judô
A gaúcha de 29 anos chegou em Tóquio após um combo de incertezas, com lesões e a sétima cirurgia da carreira. Mas deixou a capital japonesa como a primeira mulher do Brasil a conquistar três medalhas olímpicas em modalidades individuais. Mayra repetiu os bronzes dos Jogos de Londres-2012 e do Rio-2012. Na campanha, venceu a israelense Inbar Lanir nas oitavas de final e perdeu na sequência para a alemã Anna-Maria Wagner, atual campeã mundial. Na repescagem, passou pela russa Aleksandra Babintseva e garantiu a medalha sobre a sul-coreana Hyunji Yoon.


Laura Pigossi e Luisa Stefani
bronze no tênis de duplas
As duas foram confirmadas nas Olimpíadas apenas uma semana antes do início do evento, após uma realocação feita pela federação internacional da modalidade. Ainda assim, a dupla paulistana levou a primeira medalha olímpica do tênis brasileiro. Laura e Luisa começaram bem no torneio, mas perderam para a dupla da Suíça na semifinal. Na briga pelo bronze, conseguiram uma virada histórica sobre as russas Veronika Kudermetova e Elena Vesnina. As brasileiras salvaram quatro match points e venceram, por 2 sets a 1.

Rayssa Leal
prata no skate street
O primeiro dia do skate nas Olimpíadas já havia agradado a torcida brasileira, que vibrou com a medalha de prata de Kelvin Hoefler. No dia seguinte, foi a vez de ser encantado com a Fadinha do skate. Com apenas 13 anos, a menina de Imperatriz, no Maranhão, tornou-se a mais jovem medalhista olímpica do Brasil. Rayssa Leal levou a prata no skate street, sendo superada apenas pela japonesa Momiji Nishiya, também de 13 anos.

Beatriz Ferreira
prata no boxe
A baiana subiu no ringue como uma das favoritas do peso-leve. Campeã mundial e Pan-Americana em 2019, Bia Ferreira confirmou a expectativa ao garantir uma medalha olímpica. Na campanha, a brasileira superou Wu Shih-yi, de Taiwan, nas oitavas de final e, na sequência, eliminou a uzbeque Raykhona Kodirova. Todos os triunfos da pugilista até aqui foram convincentes e por unanimidade dos árbitros. Na semifinal, venceu a finlandesa Johanna Potkonen.

Vôlei feminino
prata
A seleção feminina não chegou como favorita em Tóquio-2020, mas soube crescer durante a competição. Não faltaram desafios. A levantadora Macris torceu o tornozelo direito na fase de grupos e conseguiu voltar às quadras para as quartas de final. Antes da semifinal, o time perdeu Tandara, por exame de doping reprovado. Mas o time se classificou em primeiro do grupo de forma invicta. Na fase eliminatória, passou pelo Comitê Olímpico Russo (ROC) e pela Coreia do Sul e perdeu para os Estados Unidos na final. O desfecho foi no segundo lugar mais alto do pódio olímpico.

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