Pátria amada, Brazil

Paulista Thiago Braz falha na defesa do título olímpico, mas volta ao pódio com bronze, em ciclo marcado pela superação

João Vítor Marques
postado em 04/08/2021 00:33
 (crédito: Ben Stansall/AFP)
(crédito: Ben Stansall/AFP)

Tóquio - Há três dias, Thiago Braz chegou ao seu quarto na Vila Olímpica, abriu a porta e olhou para o próprio peito. Pendurada no pescoço estava a medalha do salto com vara na Olimpíada de Tóquio. Trouxe-a para mais perto e se irritou porque não era de ouro. Era o bronze. Mas tudo não passou de um sonho — que se tornaria realidade 48 horas depois, no Estádio Olímpico. Lá, com as arquibancadas vazias — cenário bem diferente da consagração com o primeiro lugar no Rio de Janeiro, em 2016 —, o brasileiro de 27 anos protagonizou uma das histórias improváveis desta edição do evento.

Sim, Thiago Braz chegou ao Japão com o status de atual campeão olímpico. Mas também é verdade dizer que o paulista de Marília era candidato, mas não favorito ao pódio. O atleta viveu um ciclo cheio de percalços e jamais conseguiu repetir a marca daquele dia histórico que teve no Estádio Nilton Santos, há cinco anos, quando saltou 6,03, estabeleceu o recorde olímpico e ganhou o ouro numa disputa épica contra o francês Renaud Lavillenie. Em Tóquio, alcançou os 5,87m.

“A medalha representa a resiliência, porque em cinco anos nada foi fácil para mim. Mas eu me superei, ganhei essa medalha e estou levando para o Brasil, com toda a felicidade e orgulho no peito. Muito feliz pela minha família inteira, que me ajudou e me incentivou a dar a volta por cima. Esses tempos foram muito complicados, fiquei nervoso na qualificatória. Dois dias atrás, eu sonhei que tinha ganhado a medalha de bronze, olhei no peito e não gostei muito, porque queria a de ouro”, contou aos jornalistas.

A frustração no sonho, porém, não se repetiu na vida. Braz sabia que precisaria de uma noite memorável para alcançar o segundo pódio olímpico da carreira. Afinal, foram tempos difíceis antes dos Jogos. Dos 53 competidores do atletismo brasileiro em Tóquio, ele é o único sem clube. Em abril de 2020, ainda no início da pandemia, foi demitido do Pinheiros.

“Não tenho clube, decidiram desse jeito e não posso fazer nada. É triste. Mas não sei se esperaram o tempo das Olimpíadas, não sei o que aconteceu. Também fiquei bem chateado... é triste. Não vou criticar, mas foi triste”, chegou a dizer Braz, depois da eliminatória em Tóquio.

O início do ciclo olímpico era promissor. O paulista treinava na Itália com o técnico ucraniano Vitaly Petrov. A ideia era chegar ao Japão com possibilidades de quebrar o recorde mundial da prova. Porém, com saudades da família, Braz decidiu voltar ao Brasil para treinar com Elson Miranda. Há um ano e meio, depois da demissão do Pinheiros, retornou à Itália para completar o período preparatório para Tóquio novamente com Petrov.

Nos anos entre os Jogos do Rio de Janeiro e de Tóquio, Braz não conseguiu repetir a marca da final olímpica anterior. Mas, mesmo sob tantas desconfianças, brilhou no Japão, conseguiu a melhor marca da temporada e conquistou mais uma medalha. Para isso, mais uma vez, deixou as dúvidas — e Lavillenie — para trás.

O brasileiro garantiu o bronze após uma tentativa sem sucesso de Lavillenie, que não passou os 5,87m. O francês sentiu dores durante a prova e acabou fora do pódio. O primeiro lugar, como esperado, ficou com o sueco Armand “Mondo” Duplantis (6,02m), um dos ícones do atletismo mundial atualmente. O estadunidense Christopher Nilsen ficou com a medalha de prata (5,92m).

Novo ambiente
O Estádio Olímpico de Tóquio era puro silêncio quando Braz foi apresentado nos alto-falantes. O ambiente bem distinto daquele que o embalou rumo ao ouro há cinco anos. Naquele dia chuvoso no Rio de Janeiro, o Engenhão lotado empurrava o brasileiro e vaiava Lavillenie — que, ao perder a medalha de ouro, se irritou e disparou contra a reação dos torcedores da casa.

“É claro que no Rio foi muito mais especial. A torcida brasileira são outros quinhentos. Se pudesse ter público, seria muito legal, muito mais inspirador, mas acho que a mágica dos Jogos Olímpicos não deixou de acontecer. A emoção acaba sendo a mesma. O desejo pela medalha e por honrar o país continuou”, pontuou.

Ao ser eliminado da prova, Thiago acompanhou Duplantis e Nilsen competirem. O sueco já havia garantido o ouro com folga quando decidiu tentar fazer o que ninguém jamais conseguiu: saltar 6,19m. Os recordes mundiais da prova são dele mesmo: 6,15 em ambientes abertos e 6,18m em fechados.

O brasileiro revelou que torceu contra o sueco para manter o recorde olímpico da prova. “Ele que me perdoe. Eu queria que o meu recorde permanecesse. Não é fácil em uma Olimpíada, com toda pressão, ter o melhor resultado. Ele tinha toda a possibilidade de saltar o recorde mundial e olímpico. Acredito que posso bater essa marca”, disse.

E a torcida deu certo. Agora, Thiago Braz quer festejar o bronze, mas com a próxima meta definida. “Eu tinha no meu sonho voltar aos Jogos e ganhar outra medalha. Às vezes, deu vontade de parar, mas tive esse suporte por trás. Eu queria tentar o bi, ainda dá, tem a próxima”, projetou. Em Paris, na Olimpíada de 2024, Thiago Braz terá 30 anos. E ainda crê que pode superar a marca que registrou no Rio de Janeiro.

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Curtas Olimpíada

Vôlei
Mulheres e homens enfrentam a Rússia
As jogadoras da Seleção Brasileira estreiam na fase mata-mata, hoje, às 9h30, contra o Comitê Olímpico Russo, pelas quartas de final. “Vamos precisar de agressividade no saque e o nosso bloqueio tem de trabalhar muito bem. Será um jogo difícil”, analisou o técnico José Roberto Guimarães. Nas semifinais do torneio masculino, a equipe verde-amarela tenta a revanche contra os russos, que derrotaram os brasileiros na primeira fase, por 3 sets a 0. O confronto eliminatório está marcado para a 1h da madrugada de amanhã. “No outro jogo contra os russos, faltou a questão da cobertura. Isso fez uma boa diferença. O passe não saiu tão bem, o bloqueio dos caras é grande. Temos que bombardear o time deles no saque”, afirmou o oposto Wallace.


Vôlei de praia
Sem medalhas pela primeira vez
Depois de subir ao pódio em seis olimpíadas seguidas, desde que o vôlei de praia passou integrar o programa olímpico, o Brasil vai passar em branco em Tóquio. Alison e Álvaro Filho perderam, ontem, para Martins Plavins e Edgars Tocs, da Letônia, nas quartas de final disputada no Parque Shiozake, por 2 sets a 0, com parciais de 21/16 e 21/19, deixando o país sem representantes na competição. “As pessoas em casa vão olhar e ver que as duas duplas da Letônia estão nas semifinais e vão achar estranho. O mundo está investindo no vôlei de praia e nós, parados. Tem de melhorar, investir mais, a confederação olhar com bons olhos. Esperar um Ricardo e Emanuel, um Alisson e Emanuel não dá”, disse Alison.


Boxe
Mais dois pódios garantidos
O boxeador Abner Teixeira perdeu a semifinal na categoria peso-pesado (até 91 kg), ontem, para o cubano Julio La Cruz, por pontos, em decisão dividida dos jurados. Quatro apontaram o cubano como vencedor (três anotaram 30 x 27 e um 29 x 28), enquanto outro viu o brasileiro em vantagem (30 x 27). A medalha de bronze de Abner é um dos oito pódios do boxe brasileiro em olimpíadas. Ainda em Tóquio, a peso-leve Beatriz Ferreira e o peso-médio Hebert Conceição também têm bronze garantido e disputarão a semifinal amanhã.


Futebol
Brasil e Espanha na decisão do ouro
A Seleção Brasileira masculina de futebol vai encarar a Espanha, na final de sábado, às 8h30, no Estádio Internacional de Yokohama. O Brasil eliminou o México nos pênaltis, por 4 x 1, ontem, depois do empate por 0 x 0 no tempo normal e na prorrogação. A Fúria avançou contra o Japão, graças a um gol de Asensio a dois minutos do fim do tempo extra. Com a vaga na decisão, o Brasil garantiu ao menos a prata e, com isso, assegurou a sétima medalha na história do torneio de futebol masculino nos Jogos Olímpicos.


Ginástica
Simone Biles ganha bronze na trave
Depois de ficar fora das finais por equipe, individual geral, salto, barras assimétricas e solo para cuidar de da saúde mental, a ginasta Simone Biles conquistou, ontem, a medalha de bronze na trave dos Jogos Olímpicos de Tóquio. A norte-americana recebeu a nota 14.000, enquanto a brasileira Flávia Saraiva ficou com 13.133, na sétima colocação. O ouro foi para a chinesa Chenchen Guan (14.633) e a prata, para a compatriota Xijing Tang (14.233).

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