A imensidão de luzes permanece, mas as ruas principais de Ikebukuro já estão quase vazias às 22h. Entre as lojas fechadas de mangá e cosplay no coração otaku de Tóquio, bares e restaurantes ficam às moscas. O cenário característico dos filmes de J-Horror - o terror cinematográfico japonês -, porém, é um contraste evidente em relação às noites convencionais em um dos grandes centros comerciais da maior megalópole do planeta. Mas nem toda a cidade está assim. E isso tem causado dores de cabeça no governo local e nos organizadores dos Jogos Olímpicos.
Com o avanço da covid-19 - que atingiu níveis recordes de contaminação em 2021 -, Tóquio entrou em estado de emergência no último dia 12. Faltavam duas semanas para o início dos Jogos Olímpicos e a consequente chegada de milhares de credenciados que atravessariam o oceano para trabalhar no Japão. A preocupação fez o Comitê Organizador dos Jogos de Tóquio enrijecer o protocolo, detalhado em um documento de 70 páginas distribuído a todas as pessoas que, de alguma maneira, participariam do evento.
Antes da Cerimônia de Abertura, os responsáveis por cada empresa credenciada (jornalistas, atletas, comitês olímpicos, patrocinadores e outros participantes) receberam um comunicado que listava as normas estabelecidas pelo estado de emergência. Entre as regras está a proibição de venda de bebidas alcoólicas a partir das 20h, como estratégia para evitar aglomerações nos bares e restaurantes. A organização dos Jogos também decidiu vetar a comercialização do produto nas instalações de competição.
Por conta das restrições, restaurantes da capital japonesa têm evitado vender álcool por aplicativos de delivery - alguns a partir das 20h, outros durante todo o dia. Há vários, porém, que decidiram ignorar as normas estabelecidas pelo governo. De domingo a domingo, estabelecimentos em bairros como os de Shinjuku, Nichome e Roppongi permanecem cheios e com comercialização irrestrita de bebidas, de acordo com relatos ouvidos pela reportagem com moradores da cidade.
Em algumas regiões, continua frequente o programa de sair do trabalho e ir aos Izakayas - bares casuais japoneses marcados por uma variedade maior de petiscos. Muitos ainda vendem bebidas. Nesse contexto, a organização dos Jogos Olímpicos e as autoridades locais receberam denúncias de descumprimento das regras por parte de credenciados de outros países e já enviaram dois novos alertas, o último deles nessa terça.
“Infelizmente, nós recebemos denúncias e reclamações de alguns hotéis, como os de Ginza, Makuhari e Shiomi, que alguns dos credenciados foram pegos bebendo fora do hotel à noite (algumas vezes tarde da noite) e/ou fumando em áreas proibidas. Como vocês sabem, beber ou jogar bitucas de cigarro em áreas para não-fumantes é estritamente proibido devido ao código de incêndio”, lê-se na mensagem.
Os relatos ouvidos pela reportagem descrevem bares e festas com pessoas aglomeradas, sem máscara e consumindo bebida alcóolica. A polícia japonesa costuma ser acionada nesses casos, mas nem sempre age para fechar o local. E o mesmo pode ter ocorrido em um caso envolvendo competidores.
Vários atletas e outros integrantes de uma delegação não revelada foram flagrados consumindo bebida alcoólica em um parque da Vila Olímpica no último dia 31. A organização dos Jogos Olímpicos afirmou que o caso está sob investigação e pode acarretar punições disciplinares.
Consumir bebida alcoólica na Vila Olímpica só é permitido nos quartos, individualmente. “Vamos tomar as medidas apropriadas”, disse o diretor geral dos Jogos de Tóquio, Toshir Mut. A pena pode chegar até à expulsão da Olimpíada, mas a tendência é que se resuma a multas.
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