A Seleção Brasileira feminina de vôlei estreia, hoje, nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. A equipe comandada pelo treinador José Roberto Guimarães terá como adversária a Coreia do Sul, que é treinada pelo italiano Stefano Lavarini, às 9h45 (de Brasília), na Ariake Arena, no Japão. As brasileiras têm duas medalhas de ouro olímpicas e buscam mais uma grande campanha na competição.
O treinador José Roberto Guimarães comentou sobre a expectativa do Brasil para a estreia. “A Coreia do Sul tem um estilo de jogo que sempre nos trouxe dificuldades. Elas têm uma jogadora excepcional, Kim, que jogou comigo no Fenerbahçe. Kim sustenta as principais ações da Coreia. É uma equipe que joga com velocidade e tem mudanças de combinações de ataque. É uma seleção muito perigosa, ainda mais para um jogo de estreia. Vai ser difícil, mas estamos confiantes”, disse.
O Brasil será representado no feminino pelas levantadoras Macris e Roberta; a oposta brasiliense Tandara; a ponteira/oposta Rosamaria; as ponteiras Natália, Fernanda Garay, Gabi e Ana Cristina; as centrais Carol Gattaz, Carol e Bia; e a líbero Camila Brait.
A Seleção feminina está no Grupo A ao lado de Sérvia, Japão, República Dominicana e Quênia, além das sul-coreanas. As equipes se enfrentarão dentro do grupo, e as quatro melhores passarão às semifinais.
Na última edição dos Jogos, no Rio de Janeiro, em 2016, a Seleção feminina ficou em quinto lugar. O Brasil tem dois ouros e dois bronzes no vôlei de quadra feminino em Olimpíadas.
Entrevista Tandara Caixeta, oposta da Seleção Brasileira
Maíra Nunes
Você foi campeã olímpica em Londres-2012 e depois acabou cortada dos Jogos do Rio-2016. Qual foi a sensação de ver o nome na convocação para os Jogos Olímpicos de Tóquio?
Era esperado, pela minha dedicação, pelo que eu vinha fazendo nos treinos, no dia a dia. Mas é claro que eu senti essa emoção de novo. Fiquei muito feliz, a minha família também. Eles são muito importantes para mim. Ver meu pai e minha mãe felizes é muito emocionante, é a realização do sonho do meu pai, que também era jogador. Conseguir realizar esse sonho através de mim é uma sensação indescritível.
Como você vê o seu papel na Seleção?
Minhas companheiras me fazem sentir uma líder dentro de quadra e estou tentando administrar isso da melhor maneira possível. Eu tenho que passar firmeza, confiança e coragem para elas e não deixar faltar para mim. É um grupo em que me sinto super à vontade, estou muito feliz. Tem a Aninha, que é uma estreante, com 17 anos, e a Carol, que é uma estreante também, mas com 39, é a mais experiente do grupo. Todas as companheiras são importantes para fazer um bom trabalho e um bom campeonato.
Você aumentou a cobrança pelo aperfeiçoamento do preparo físico e emocional?
São os dois pontos determinantes para mim. Eu sei que vou ser muito cobrada como oposta, que é a jogadora que precisa colocar a bola no chão e estou me cobrando muito fisicamente. Eu tive uma grande evolução nos dois últimos meses e tanto o meu preparo físico quanto o psicológico estão super em dia. Eu venho sentindo a diferença para dar o meu melhor e me doar o máximo possível ao time para que tenhamos vitórias.
Um ano antes do corte para as Olimpíadas do Rio, ocorreu a chegada da sua filha, Maria Clara. Como ela influencia a Tandara jogadora?
Não foi nada planejado, mas uma surpresa muito boa na minha vida e que me fez crescer, amadurecer, tornar-me um pouco mais calma, por ver a vida de outra maneira. Essa foi a melhor parte de tudo. Maria Clara é o meu combustível de todos os dias, que me faz levantar e, com cinco anos, ela entende um pouco mais. Na Liga das Nações, eu e ela ficamos 37 dias longe uma da outra. Ela é muito inteligente e me deu um suporte absurdo, mesmo sentindo saudade. Uma vez ou outra, deu uma choradinha pedindo a mãe, mas ela entende. Fiquei superemocionada no dia em que ela chegou à escola e falou para a professora: “Estou triste porque a minha mãe está longe, mas estou feliz porque ela está vivendo o sonho dela”. Realmente é o meu sonho. Essa é a maneira mais saudável que eu tento passar para ela. Havia10 dias que estávamos no Brasil, ela ficou comigo em Saquarema e eu a preparei para mais 26 dias que ficarei longe dela. Eu explico que, agora, é a vez de o sonho da mamãe ser realizado de verdade. Falo que preciso muito dela, que ela ajude o papai e que fique bem, porque, assim, eu também vou ficar. E ela me respondeu que eu posso ficar tranquila. Ela é muito especial e, com certeza, é a minha fonte de energia de cada dia. Eu me sinto muito feliz por ter sido presenteada como mãe.
Depois da Liga das Nações, como vê o Brasil na disputa olímpica?
Não somos favoritas, mas não vai faltar dedicação. Vamos lutar a todo momento. Deu para sentir o nível das outras equipes e vimos que não é impossível. Fizemos jogos bacanas, crescemos em relação a todo ritmo de jogo, velocidade. Havia um time iniciando e um time com uma outra cara finalizando o campeonato. Isso é importante para a nossa confiança e será determinante para as Olimpíadas. Chegamos preparadas em Tóquio. Cada jogo será um desafio e estaremos dispostas a lutar e fazer um trabalho bem-feito.
Quais seleções você considera favoritas ao ouro?
A China, com certeza, vem forte, assim como os Estados Unidos. A Sérvia também é muito difícil e tem jogadoras experientes. A Itália. Fica tudo muito em aberto, porque cada jogo pode ser uma surpresa. Essas, para mim, são as equipes mais fortes. Temos de saber administrar para anular quem está do outro lado, estudando e colocando tudo em prática nos jogos.
Você trabalhou com Bernardinho no Sesc/Rio na temporada que antecederia os Jogos de Tóquio, em 2019/2020. Depois, voltou ao Osasco, comandado por Luizomar. Qual a importância desses dois últimos anos para o seu momento na Seleção?
Foram dois anos completamente diferentes. Tive a primeira experiência de jogar com o Bernardo, no Sesc/Rio, e pude ver como ele trabalha. Eu sempre tive essa curiosidade. Foram duas temporadas de muito crescimento para mim, tanto no Rio quanto no Osasco. Passando por momentos diferentes na minha vida pessoal, tive que apanhar para crescer, no meu lado profissional, e foi feito. Perdi de um lado, mas ganhei de outro. É assim que a gente vive. Tive o desafio de jogar no Rio, com uma cobrança diferente, de um estado diferente. E, depois, voltar para Osasco, para a minha casa, ver toda a minha família instalada e bem, faz a diferença, porque não sou mais sozinha, tenho minha filha, meu marido, meu irmão mora em São Paulo. Foram dois anos espetaculares, de muito crescimento e amadurecimento, de ver onde errei para consertar e, se não der, está tudo bem, porque todo mundo erra também.
Os Jogos de Tóquio acontecem com vários protocolos sanitários e sem público nas arenas. O quanto isso pode impactar o ambiente olímpico?
Não pode ter torcida nem aglomeração, uso de máscara será cobrado o tempo inteiro. É uma pena, porque somos muito vigorosos e calorosos, a torcida faria toda a diferença no ginásio. Mas, como jogamos toda essa temporada sem torcida, vamos tentar levar para Tóquio o que vivenciamos no Brasil. Com um pouco mais de cuidado, acredito que não será muito diferente em relação ao que foi na Liga das Nações em relação às testagens, aos cuidados, transporte, limitação de onde pode ir. Mas a emoção não será retirada.