O ritual se repete nas competições de alto rendimento. O atleta sobe ao pódio e presta continência. Não será diferente a partir da cerimônia de abertura da Olimpíada nesta sexta-feira. Dos 303 atletas do Time Brasil classificados para os Jogos de Tóquio-2020, adiados em um ano devido à pandemia do novo coronavírus, 91 são militares — o equivalente a 30% da delegação. Todos fazem parte do Programa Atleta de Alto Rendimento (PAAR) e competirão em 20 das 46 modalidades previstas na agenda do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Segundo dados do Ministério da Defesa, o investimento em atletas olímpicos de alto rendimento é de R$ 38,3 milhões por ano. Consequentemente, os beneficiados usam instalações esportivas em organizações militares das Forças Armadas: o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN) da Marinha; o Centro de Capacitação Física (CCFEx) e o Complexo Esportivo de Deodoro, ambos do Exército; e a Universidade da Força Aérea (Unifa), da Aeronáutica. Além do soldo, como é chamado o salário, os atletas militares têm direito a assistência médica, incluindo nutricionistas e fisioterapeutas.
Entre os atletas das forças armadas com chances de medalha estão, por exemplo, a pugilista Beatriz Ferreira, terceiro-argento da Marinha. A canoagem aposta em Ana Sátila, terceiro-sargento da Força Aérea Brasileira. Os ginastas Arthur Zanetti e o xará Nori também pertencem ao quadro da FAB. Esperança na maratona aquática, Ana Marcela é vinculada à Marinha. O brasiliense Bruno Schmidt e seu parceiro Evandro Júnior no vôlei de praia também representam a Marinha nos Jogos Olímpicos.
A expectativa, em Tóquio, é por um desempenho superior ao registrado nos Jogos do Rio-2016. Na última edição, os militares foram responsáveis por 13 das 19 medalhas conquistadas pelo Brasil, o equivalente a 68% dos pódios. No balanço anterior, superou Londres-2012. No entanto, a quantidade de militares em Tóquio (91) é inferior aos 145 registrados em 2016. À época, eles também competiram em mais modalidades — 27 contra 20 neste ano. Em termos percentuais, a presença de militares no Time Brasil é a mesma de cinco anos atrás.
O projeto teve início visando os Jogos Mundiais Militares de 2011, nos quais o Brasil terminou na liderança do quadro de medalhas, com 114 láureas, sendo 45 de ouro. Um ano depois, nos Jogos de Londres-2012, o número de atletas olímpicos vinculados ao programa era de 51. Cinco subiram ao pódio na Inglaterra, com o ouro da judoca Sarah Menezes, e os bronzes dos também judocas Felipe Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael Silva, e da pentatleta Yane Marques.
Sucesso italiano
O investimento das Forças Armadas do Brasil em esportistas olímpicos é alto, mas pequeno na comparação, por exemplo, com a sexta maior potência olímpica da história. A Itália levou 384 atletas ao Japão. Do total, 265 são militares, o equivalente a 70% da delegação. Eles são vinculados ao exército, marinha, aeronáutica e às polícias do país europeu.
O grupo Fiamme Oro, por exemplo, ligado à Polícia de Estado, é representado por 69 atletas. Uma delas é Jessica Rossi. A estrela do tiro esportivo conduzirá a bandeira do Itália na cerimônia de abertura desta sexta-feira, no Estádio Olímpico. O Chamas Douradas também emprega Gregorio Paltrineri (natação) e Longo Borghini (ciclismo de estrada).
Outros órgãos de segurança, como a Fiamme Gialle (Chamas Amarelas) enviaram a Tóquio 48 atletas. O órgão é equivalente à Polícia Federal no Brasil. O Exército conta com 46 atletas, o Arma dos Carabineiros tem 38, a Aeronáutica 26 e a Polícia Penitenciária outros 20. Marinha e Corpo de Bombeiros também colaboram com a Itália nos Jogos de Tóquio.
O investimento deu retorno impressionante há cinco anos. Dos 28 pódios da Itália nos Jogos do Rio-2016, 22 tiveram a presença de atletas militares ou policiais, o equivalente a 48,6%. O país conquistou oito medalhas de ouro, 12 de prata e 8 de bronze, ou seja, 28 no total. Sete ouros, oito pratas e sete bronzes tiveram atletas das forças de segurança como protagonistas.
Assim como no Brasil, os atletas italianos recebem salários de acordo com a política de remuneração de cada patente e todos os benefícios da profissão. No caso específico da Itália, há um controle rígido do alto rendimento, com testes de desempenho a cada dois anos. Há risco, inclusive, de deixar o programa.
Saiba mais
As 13 medalhas militares do Brasil nos Jogos do Rio-2016
» Marinha
Rafaela Silva (ouro no judô)
Mayra Aguiar (bronze no judô)
Maicon Siqueira (bronze no taekwondo)
Robson Conceição (ouro no boxe)
Martine Grael e Kahena Kunze (ouro na vela)
Alison e Bruno (ouro no vôlei de praia)
Ágatha e Bárbara (prata no vôlei de praia)
» Exército
Felipe Wu (prata no tiro esportivo)
Poliana Okimoto (bronze na maratona aquática)
Rafael Silva (bronze no judô)
» Força Aérea Brasileira
Arthur Nory (bronze na ginástica artística)
Arthur Zanetti (prata na ginástica artística)
Thiago Braz (ouro no atletismo)