A pouco mais de uma semana da estreia nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, o favoritismo do Dream Team — a seleção masculina de basquete dos Estados Unidos —, passa por momentos de Nightmare Team, time dos pesadelos. Favoritaços à medalha de ouro desde Barcelona-1992, quando passaram a convocar profissionais da NBA, os astros agendaram cinco amistosos, em Las Vegas, antes da primeira exibição no Japão, e perderam dois. Nigéria e Austrália surpreenderam o país colecionador de 15 títulos olímpicos e cinco mundiais. O único triunfo foi contra a Argentina, de quem perderam na semifinal de Atenas-2004. Para piorar, Bradley Beal foi cortado. O jogador tem suspeita de covid.
A derrota por 90 x 87 para a Nigéria gerou surpresa. A última vez que as seleções se encontraram foi nas Olimpíadas de Londres-2012. Os Estados Unidos quebraram recorde da competição ao emplacar 156 x 73. Para o técnico do Basquete Brasília, Ricardo Oliveira, os Estados Unidos entraram em quadra relaxados, pois a temporada da franquia acabou há pouco tempo para os atletas. Os africanos estavam bem focados no amistoso.
A seleção dirigida por Gregg Popovich, também assistente técnico do Golden State Warriors, é formada por alguns jogadores que atuam na poderosa franquia de basquete dos Estados Unidos. “Acho que a Nigéria pode ser uma grande surpresa. Ela não escondeu nada e os estadunidenses testaram várias situações, mesmo estando desfalcados por terem jogadores que ainda estão disputando as finais da NBA”, diz Ricardo Oliveira ao Correio.
Contra a Austrália, os Estados Unidos amargaram revés de 91 x 83. Com o resultado, a seleção teve a quarta derrota em amistosos desde a formação do Dream Team, em 1992. Depois da partida, em entrevista ao jornal britânico The Athletic, o escritor sênior da NBA, Joe Vardon, afirmou que a defesa é um problema a corrigir antes da estreia contra a França nos Jogos de Tóquio, no próximo dia 25.
Na análise de Ricardo Oliveira, a seleção encarou a Austrália mais focada e intensa do que diante da Nigéria. O adversário estava bem preparado e conta com jogadores da NBA na equipe: Patty Mills (San Antonio Spurs), Joe Ingles (Utah Jazz), Aron Baynes (Toronto Raptors), Matthew Dellavedova (Cleveland Cavaliers), Dante Exum (Houston Rockets), Josh Green (Dallas Mavericks) e Matisse Thybulle (Philadelphia 76ers). “Os australianos vieram com força total, querendo apresentar o basquete de alto nível que o país mostrou nas últimas Olimpíadas”.
Visão dos brasilienses
Paulo Lourenço, armador do Cerrado Basquete, avalia que as derrotas foram pontuais pelo fato de os jogadores estarem acostumados com o sistema da NBA e não terem familiaridade com o da Federação Internacional de Basquetebol (FIBA). Segundo ele, as partidas foram fundamentais para eles perceberem isso antes do início do torneio em Tóquio. “A Austrália realmente foi superior naquela ocasião. Depois, eles vieram com a cabeça e uma agressividade no ataque diferente contra a Argentina, na minha opinião. Então, acredito que, nas Olimpíadas, terão uma mentalidade muito forte com jogo mais coletivo”.
Na última sexta-feira, o técnico Mike Brown chamou mais dois jogadores para substituírem Bradley Beal (Washington Wizards) e Kevin Love (Cleveland Cavaliers). Keldon Johnson (San Antonio Spurs) e JaVale McGee (Denver Nuggets) irão a Tóquio. Bradley Beal foi cortado em razão dos protocolos da covid-19. Contudo, ainda não se sabe se o atleta testou positivo ou foi exposto ao vírus. Kevin Love pediu dispensa.
Sobre os selecionados para representar os EUA, o atleta do Cerrado Basquete, considera que foram feitas boas escolhas entre as opções disponíveis. “Só ali na área dos homens grandes, eu acho que poderia ter outras opções”, pondera.
Outras estrelas eram esperadas. Enquanto Anthony Davis (Los Angeles Lakers), James Harden (Brooklyn Nets) e Trae Young (Atlanta Hawks) ficaram de fora por lesão, Stephen Curry (Golden State Warriors), Chris Paul (Phoenix Suns), Kyle Lowry (Toronto Raptors) e Donovan Mitchell (Utah Jazz) recusaram a convocação. Zion Williamson (New Orleans Pelicans) figurou na pré-lista, mas foi cortado. LeBron James também não foi relacionado. Não ficou claro se por lesão ou escolha do jogador.
Para Paulo Lourenço, os EUA são os favoritos ao ouro, mas Argentina, Austrália e Espanha podem fazer boa campanha. O comandante do Brasília Basquete pensa semelhante. Ele aposta que os australianos ficarão com a prata e a França, com o bronze. Ricardo espera que as Olimpíadas de Tóquio sejam equilibradas pelo fato de as equipes estarem equilibradas. “Se a seleção estadunidense fosse completinha com todos os jogadores principais da NBA, seria um outro Dream Team”, afirma. Como o bicampeão mundial Brasil (1959 e 1963) e bronze nos Jogos Olímpicos de Londres-1948, Roma-1960 e Tóquio-1964 não se classificou, assistirá ao torneio da poltrona.
* Estagiária sob a supervisão de Marcos Paulo Lima