Diego Maradona e Paolo Rossi são bons de papo. Nem bem chegaram ao céu e convenceram os deuses da bola a esbalecerem uma nova ordem no futebol.
Oito meses depois da morte de D10S, a Argentina foi campeã da Copa América, no sábado à noite, ao derrotar o Brasil por 1 x 0, no Maracanã, encerrando 28 anos de jejum da seleção principal. Ontem, o banquete foi servido em outra catedral. Wembley viu a Itália, ferida pela perda do ídolo Paolo Rossi, há sete meses, ganhar a Euro depois de 53 anos, ao superar a anfitriã Inglaterra nos pênaltis por 3 x 2 após empate por 1 x 1 em 120 minutos de bola rolando. Gols dos defensores Shaw e Bonucci.
A reviravolta da Itália é digna de produção de uma série. Em 2017, os tetracampeões do mundo foram eliminados pela Suécia na repescagem e ficaram fora da Copa da Rússia, em 2018. Três anos depois, resgaram o respeito na Eurocopa de forma invicta.
Os novos imperadores da Euro não perdem há 34 jogos sob a battuta do mentor da revolução, o técnico Roberto Mancini. Estão a um de igualar o recorde do Brasil, de Zagallo (1996), e da Espanha, de Del Bosque (2009).
Por falar no técnico, Mancini cercou-se de velhos amigos da geração mais vitoriosa da Sampdoria na montagem da comissão técnica. Há 30 anos, o clube italiano amargava o vice da Champions League contra o Barcelona, em Wembley. Era o auge do grupo que, em 10 anos, ganhou o único título italiano (1991), quatro edições da Copa Itália (1985, 1988, 1989 e 1994), uma Supercopa da Itália (1991) e uma Recopa (1990).
O treinador da Itália, Roberto Mancini; os auxiliares Alberico Evani, Attilio Lombardo e Giulio Nuciari; e o chefe da delegação, Gianluca Vialli fizeram parte daquela história escrita sob as ordens do sérvio Vujadin Boskov.
A “sampdorização” da Itália é um dos trunfos do bicampeonato europeu. Mas há outros. Se uma grande seleção começa por um baita goleiro, o jovem Donnarumma, de 22 anos, mantém a linhagem de Zoff, Zenga, Pagliuca, Buffon e tantos outros arqueiros históricos da escola italiana, ao tornar-se herói do título. Pegou as cobranças de Sancho , 21, e Saka, 19, e viu a jovem geração inglesa, parte dela contemporânea dele em torneios de base da Europa, encharcar o gramado de Wembley de lágrimas, enquanto Donnarumma celebrava a noite de herói com uma frieza alemã.
Outro símbolo do sucesso joga na zaga. Aos 36 anos, o capitão Chiellini, aquele mesmo, mordido pelo uruguaio Luis Suárez na Copa de 2014, no Brasil, viu o parceiro Bonucci empatar a final a ajudá-lo a erguer a taça, repetindo gesto de Giacinto Facchetti — dono da braçadeira no título de 1968 contra a Iuguslávia, no Estádio Olímpico, em Roma.
Por falar na capital italiana, a torcida “roubou” o mantra dos ingleses na bola. Football is coming home virou Football is coming Rome com três contribuições em língua portuguesa. O brasileiro Jorginho quase teve dia de Roberto Baggio ao desperdiçar uma cobrança do pênalti que poderia ter consumado o bi. Logo ele, que havia sido protagonista do pênalti que eliminara a Espanha na semi.
No fim, festejou mais um título na temporada. Há dois meses, ele e o compatriota Emerson, titular da lateral esquerda na final em substituição ao Spinazzola, ganhavam a Champions League pelo Chelsea. O zagueiro Rafael Tolói é o outro ítalo-brasileiro no elenco bicampeão europeu.
Jorginho, Emerson e Tolói se juntam a Marcos Senna (Espanha, 2008) e Pepe (Portugal, 2016) na lista dos brasileiros campeões da Euro. O trio italiano ampliou o jejum da Inglaterra. Agora, são 55 sem título desde a Copa de 1966.
“Os jogadores foram fantásticos. Tenho caras extraordinários. Não há palavras para o grupo maravilhoso. É preciso ter sorte nos pênaltis. Sinto muito pelos ingleses”
Roberto Mancini, técnico da Itália