Futebol de Areia

Conheça Luís Henrique, candango campeão sul-americano de Beach Soccer pelo Brasil

Cria do quadradinho, no último domingo (4/7), o camisa 8 soltou o grito de campeão das Eliminatórias Sul-Americanas de Beach Soccer, que garantiu o Brasil na Copa do Mundo da Rússia. Luís Henrique é exemplo de que, mesmo sem praia, o Distrito Federal pode revelar grandes craques na modalidade

Victor Parrini*
postado em 07/07/2021 14:00 / atualizado em 07/07/2021 14:20
 (crédito: Divulgação/Confederação de Beach Soccer do Brasil (CBSB))
(crédito: Divulgação/Confederação de Beach Soccer do Brasil (CBSB))

Mesmo distante do litoral, o Distrito Federal vem dando frutos importantes para o cenário nacional de Beach Soccer, o popular futebol de areia. Natural de Planaltina, Luís Henrique de Castro, de 30 anos, é um candango que atraiu a atenção da comissão técnica da Seleção Brasileira da modalidade, sendo chamado para a disputa das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo, que, no último domingo (4/7), acabou com o 9º título verde e amarelo no torneio. Agora, o foco será no mundial, que acontece em Moscou, na Rússia, entre 19 e 29 de agosto. O Correio conversou com o atleta recém-campeão pela canarinho e que representa o quadradinho entre os melhores do país no esporte.

Luís Henrique tem passagens por Planaltina Beach Soccer, Aruc, Gama e Vasco. Atualmente, veste a camisa do Luziânia. Mas, em 2019, vestindo as cores do cruzmaltino, o candango viveu um dos grandes momentos da carreira, quando disputou a Copa Libertadores da América e mostrou a qualidade, balançando as redes duas vezes na vitória por 7 x 5, na final diante do Cerro Porteño, do Paraguai.

Professor de educação física, o camisa 8 da seleção brasileira diz que se encantou pelo Beach Soccer e intensificou os treinos para a modalidade. “Futebol de areia não tem muita tradição aqui no Cerrado, mas eu me encantei pelo esporte e quando voltei do Brasileirão comecei a treinar mais focado nesta modalidade. E treino sozinho”, declarou.

O futebol de areia não é tão prestigiado quanto outros esportes na capital federal. Porém, isso não desanimou Luís. Desde 2010, ele vem trabalhando forte pelo crescimento da modalidade. Com a conquista, o camisa 8 da amarelinha destacou que a sensação de poder representar o DF, mesmo sem tanto investimento na modalidade, é uma das melhores possíveis. ”Com essa conquista das Eliminatórias, eu espero que a modalidade seja ainda mais amada e conhecida também pelo povo de Brasília. Espero ter aberto as portas para que mais pessoas possam desfrutar da mesma sensação que eu tô sentindo no momento”, disse.


Você esperava uma convocação para a Seleção Brasileira?

Não. Realmente, a gente sonha em defender a Seleção Brasileira, mas também conseguimos entender que Brasília está muito longe de ser o centro das atenções do Beach Soccer. Jogar pelo Brasil não era bem um sonho, mas, na verdade, uma meta e um objetivo. Graças a Deus consegui atingir. Fiquei surpreso por ver o meu nome na lista, justamente pelo DF não ser o centro das atenções.

O fato de Brasília não ter praia em algum momento atrapalhou os seus planos?

Atrapalhou, porque ela não desperta muito interesse para que as pessoas pratiquem a modalidade. É um esporte muito restrito para quem já pisou alguma vez ou já teve a oportunidade de jogar uma competição. Mas o Beach Soccer é apaixonante. O fato de não estarmos no litoral atrapalha porque o nível de competição fica abaixo do esperado como quando se pega o centro, como o Rio de Janeiro e o Nordeste. Por aqui, podemos nos comparar a alguns países da Europa, que também não têm praia e a competição fica muito restrita aos períodos do ano.

Quais são suas principais referências na modalidade?

Eu encaixo o Jorginho. Ele foi uma lenda do futebol de areia, mas a minha principal referência é o Bruno Xavier. Inclusive, tive a satisfação de jogar com a mesma camisa e numeração que ele utiliza na Seleção. Então, é a realização dobrada de um sonho. Além de vestir as cores do Brasil, também carregar o número do capitão.

Como você enxerga o cenário do futebol de areia no DF? Você acredita que há craques ainda desconhecidos?

Existem muitos craques aqui. Muitos talentos que estão escondidos ainda. O Distrito Federal tem muitas pessoas com talento para a modalidade, mas elas não querem seguir, pois não há brilho em jogar Beach Soccer em Brasília. Então, muitas crianças, muitos jovens acabam não despertando o interesse por jogar na areia, mesmo tendo muita desenvoltura. Através de um projeto bem explicado e estruturado, que é o que tenho a intenção de fazer, muitas pessoas vão se interessar e sentir a mesma coisa que eu senti jogando pela Seleção.


Na sua visão, quais devem ser as principais iniciativas para que o DF possa continuar a produzir bons jogadores para a modalidade?

As principais iniciativas podem ser a realização de um projeto social que possa atender mais crianças e um campeonato mais duradouro, para que as pessoas possam se sentir mais motivadas a assistirem o Beach Soccer, que é um esporte onde acontecem muitos gols e lances bonitos. As pessoas que pararem para assistir vão começar a se entusiasmar mais com essa modalidade. Um projeto social e uma ajuda para a equipe de Brasília, que disputa sempre a competição nacional, uma estrutura para um período de treino maior, uma melhoria no transporte e uma bolsa auxílio para que jogadores possam continuar treinando é essencial. Senão, vai ter que surgir uma outra pessoa igual a mim, que acreditei sozinho na possibilidade, lutei, e treinei para alcançar meus objetivos.

O quão importante é a sua convocação para a Seleção Brasileira?

É a realização de um objetivo construído lá em 2011, quando comecei e sonhei que poderia, sim, atingir a Seleção Brasileira. E jogar no Brasil é diferente porque tem muita matéria-prima, muitos jogadores qualificados para poucas posições e vagas. Nessa última convocação, foram 25 para levar 12. Na Copa do Mundo, vão chamar 20 para uma lista final de 12 novamente. É difícil, mas o primeiro passo foi dado, que é a iniciação na modalidade. Essa convocação mostra para todo mundo de Brasília que a gente não precisa ter praia para conseguir vencer na modalidade. Basta sonhar e realizar e persistir. A palavra certa é persistir, porque muitos obstáculos vão vir, mas vão acontecer em qualquer tipo de esporte. Essa conquista não foi só minha, mas de todo o Distrito Federal.

Como você acha que a Seleção vai chegar para a disputa da Copa do Mundo? Quais equipes podem ser consideradas favoritas para levar o título mundial?

A Seleção Brasileira tem tanta matéria-prima, que a gente consegue montar cinco, seis, sete seleções. E todas muito fortes para disputar qualquer competição. Nesta eliminatória, conseguimos terminar de forma invicta, ser campeões, que era o principal objetivo para atingir a Copa do Mundo. A gente chega muito forte, como sempre chegou. Podemos considerar Rússia, Espanha e Portugal como favoritas para a disputa do mundial.

*Estagiário sob supervisão de Danilo Queiroz

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