O Candangão terminou em 15 de maio dentro das quatro linhas com o título do Brasiliense por 1 x 0 contra o Ceilândia na final, mas continua pulsando no Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e no Tribunal de Justiça Desportiva do Distrito Federal (TJD-DF).
Relatórios obtidos com exclusividade pelo Correio revelam quantos e quais jogos do Candangão podem ter sido manipulados não somente neste ano, mas desde 2019, por uma máfia de apostadores. Os investigados sumiram do mapa do DF e Entorno depois da denúncia feita em 16 de abril no Blog Drible de Corpo, na série de reportagens do Correio. Itinerantes, trocaram de endereço e atuam em times de fora da capital na disputa da Série D.
Em 30 de abril, o Correio revelou que a Sportradar — serviço de integridade parceira da Fifa, Comitê Olímpico Internacional (COI), Conmebol, Uefa, CBF, Federação Paulista de Futebol, das federações internacionais de tênis, automobilismo, motovelocidade, rúgbi, críquete, hóquei no gelo e de ligas norte-americanas badaladas como NBA e MLB — detectou padrões suspeitos no volume de apostas e pagamentos na primeira fase do Candangão.
Os documentos obtidos pela reportagem apontam certeza de que pelo menos nove jogos estão na mira desde 2019. Quatro deles na edição de 2021 do Candangão. Todos na primeira fase. Duas são definidas como certeza: a goleada do Ceilândia por 8 x 1 sobre o Samambaia, em 10 de abril; e a derrota do Formosa por 5 x 2 para o Taguatinga, em 27 de fevereiro.
Um dos documentos chega a chamar o Formosa de “cúmplice” do resultado contra o Taguatinga. Quanto à vitória do Ceilândia, avalia: “Existe evidência clara de que o curso ou o resultado da partida foi manipulado ilegalmente”.
Outros dois duelos analisados com lupa pela multinacional com sede na Suíça indicam elementos de suspeita em torno da atividade de jogo. Há fortes suspeitas na derrota do Formosa por 6 x 1 para o Samambaia, em 2 de abril; e quanto ao revés também do Samambaia, outro alvo das investigações, de 3 x 0 diante do Santa Maria. Este último jogo, inclusive, chamou a atenção do mercado de apostas do outro lado do mundo.
“Três grandes casas de apostas asiáticas tomaram a incomum decisão de remover prematuramente seus mercados após as fortes apostas para que pelo menos dois gols sejam marcados na partida foram observadas, indicando que eles (casas de apostas) mantiveram preocupações sobre a integridade do jogo”, explica o documento obtido pelo Correio.
A suspeita é de que a engenharia funcionavava assim: informações de resultados combinados do Formosa eram vendidas para apostadores, principalmente, do mercado asiático.
A Sportradar funciona como uma espécie de “Big Brother” das apostas. As casas on-line são vigiadas pelo serviço de integridade. Há um indicador chamado Fraud Detection System. O “alarme” dispara quando detecta discrepâncias nos mercados de apostas e acusa as trapaças.
O quadro ao lado mostra o que cada um dos relatórios diz sobre os jogos que são alvo do MPDFT e do TJD-DF. Ambos apuram. O DF é alvo da máfia de apostadores desde 2019. A Federação de Futebol do Distrito Federal (FFDF) teria sido alertada sobre isso. A reportagem tentou contato com o presidente Daniel Vasconcelos, mas o dirigente não atendeu às ligações nem respondeu às mensagens.