Prestigiado no cargo pelo presidente em exercício da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), coronel Nunes, depois do afastamento de Rogério Caboclo por denúncias de assédio moral e sexual de uma colaboradora da entidade, o técnico Tite disse, na tarde desta segunda-feira (7/6), na entrevista coletiva antes do duelo com o Paraguai que, em nenhum momento, foi ameaçado de demissão por Caboclo. "Não", respondeu secamente, evitando também respostas aos ataques bolsonaristas a ele, inclusive do vice-presidente da República, Hamilton Mourão. O político ironizou Tite: "O Cuiabá precisa de técnico".
Em entrevista ao jornal Liberal, de Belém do Pará, sua terra natal, o coronel Nunes bancou a permanência de Tite. "Eu digo assim: não estamos ganhando? Saímos vencedores da Copa América. E praticamente classificados na Copa do Mundo. Se ganhar amanhã, vamos aos 18 pontos. Aquele ditado: em time que está ganhando não se mexe", afirmou o vice-presidente mais antigo da entidade. Acrescentou, ainda, que não conversou com Tite. "Ele é sério. Já sei como é. Não adianta, por uma questão de vaidade, colocar fulano. Não funciona assim", respondeu sobre uma possível troca de comando na Seleção Brasileira.
Em entrevista à ESPN, o presidente Rogério Caboclo também afirmou que não pensou em afastar Tite da Seleção. Nunca quis trocar o Tite, a comissão técnica. Nós estaremos todos juntos na Copa de 2022. E para vencer", respondeu o dirigente afastado do cargo.
Caboclo também falou sobre a possível ameaça de boicote da Seleção à Copa América. "Os jogadores nunca falaram em boicotar a Copa América, em nenhum momento isso aconteceu", disse, referindo-se à reunião que participou na Granja Comary.
Durante a entrevista coletiva, Tite driblou sobre o afastamento de Caboclo. "Eu compreendo a pergunta. Sabemos a dimensão que tem, a gravidade do caso, temos consciência disso. Agora existe um Comitê de Ética da CBF que toma as devidas providências. Não é da nossa alçada", desconversou.
No último sábado, Tite foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais, inclusive com uma hashtag Fora Tite. "Tem sido bastante difícil, porque o momento social é esse. As pessoas acham que temos que ter opinião para tudo. Nós temos que ter capacidade e lugar de fala sobre o que nos diz respeito. É isso o que fazemos com muito amor e paixão. Nós temos dito que temos uma capacidade e inteligência emocionais muito grandes para saber filtrar as situações, ter tranquilidade, sensatez, apesar das provocações que fazem. Claro que atrapalha, sim, é desafiador. Vamos precisar disso de novo no jogo contra o Paraguai, essa abstração e foco. Externo isso de forma pública o que falei a eles", disse Tite.
Questionado se técnico de futebol tem de estar alinhado ao presidente da República, Tite foi direto na resposta. "Técnico de futebol tem que estar alinhado com o futebol".
Tite reforçou que a manifestação do grupo sobre a Copa América será nesta terça depois da partida pelas Eliminatórias. "Entendo vocês perfeitamente na busca pelas informações. Cada setor tem as suas prioridades e aspectos importantes. Para nós o vital é a nossa preparação, jogar bem. Estamos na Copa do Mundo. Eliminatórias já é um processo de Copa do Mundo, muitas vezes as pessoas não se dão conta disso. Para nós, nesse momento, isso não tem essa prioridade. Depois sim, reitero o que o Casemiro disse, há respeito e no nosso tempo vamos nos manifestar", afirmou o treinador.
Sobre a turbulência no cargo, Tite falou em equilíbrio. "Estou em paz. Estou em muita paz. Tenho muita paz pelas pessoas que tenho em volta, pelo grupo de pessoas energizando. Às vezes eu perco e alguém me retransmite, família ou amigo. Muito discernimento na conduta do nosso trabalho", afirmou o treinador.