CRISE NA CBF

Caboclo é afastado

Após denúncia de assédio moral e sexual feita por funcionária, Comitê de Ética da entidade tira Rogério Caboclo da presidência para se defender. Queda provoca novas interrogações sobre a Copa América

Rogério Caboclo tentou o quanto pôde, mas não conseguiu permanecer como presidente em meio ao turbilhão de problemas na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ontem, a denúncia de assédio moral e sexual feita por uma funcionária contra o cartola teve sua consequência derradeira: o afastamento do dirigente do cargo por 30 dias — com possibilidade de prorrogação. A decisão foi uma determinação do Comitê de Ética da entidade.

Segundo a denúncia, Caboclo teria constrangido a subordinada com comportamentos abusivos. O dirigente nega as acusações. Em nota, a CBF confirmou a notificação do afastamento. “A decisão é sigilosa e o processo tramitará perante a Comissão de Ética, com a finalidade de apurar a denúncia”, diz o texto. A rápida decisão sobre o caso cumpre o regimento do artigo 143 do estatuto da Confederação, que prevê afastamento, em caráter preventivo, em casos de descumprimento das normas da entidade.

Neste ínterim, o comando volta às mãos de um velho conhecido: Antônio Carlos Nunes. Segundo regra da CBF, cabe ao dirigente mais velho entre os oito vice-presidentes assumir o cargo em caso de afastamento do titular. A situação, inclusive, não é novidade para o cartola. Em 2017, coube-lhe assumir a cadeira quando a Fifa suspendeu Marco Polo del Nero da presidência da Confederação por suspeita de corrupção. Ele foi sucedido exatamente por Caboclo. Hoje, uma reunião extraordinária entre os diretores deve dar andamento ao rito.

Copa América

O afastamento coloca novas interrogações sobre a realização da Copa América no Brasil. O cartola da CBF foi um dos principais interlocutores da mudança de sede. Antes, o torneio seria realizado na Argentina e na Colômbia. O presidente da Conmebol, Alejandro Domínguez chegou a registrar a gratidão. “Gostaria de agradecer especialmente ao presidente Jair Bolsonaro e seu gabinete por sediar o torneio de seleções mais antigo do mundo. Igualmente, minha gratidão ao presidente Rogério Caboclo por sua inestimável colaboração”, disse, em 31 de maio.

Segundo fontes ouvidas pelo Blog Drible de Corpo, do Correio, a Seleção deve disputar a competição em casa sob protesto, em movimento parecido ao extinto Bom Senso FC — grupo que protagonizou queda de braço com a CBF entre 2013 a 2016. O plano pode se estender à América do Sul, provavelmente, com adesão de todos os 10 países filiados à Conmebol. No contexto, Tite não deve pedir demissão “Mas tudo ficará para o último capítulo”, disse um interlocutor, sob anonimato. Questionado se o Brasil jogará a Copa América, respondeu. “Com certeza, não ouvi nada ao contrário”.

Uma articulação liderada por Caboclo para tirar Tite do comando da Seleção tumultuou os últimos momentos na presidência. Segundo o jornalista André Rizek, o cartola prometeu ao governo federal a queda do técnico. A demissão aconteceria após a partida contra o Paraguai. O nome apontado para sucessão no cargo seria o de Renato Gaúcho. O conluio, porém, é passível de punições esportivas. Conforme o estatuto da Fifa, as seleções nacionais devem se manter neutras politicamente. Descumprimento da medida impediria o Brasil de disputar, por exemplo, a Copa do Mundo.

O cancelamento da Copa América de última hora traria prejuízos. Gestores de estádios escolhidos estão apreensivos. A maioria tem feito investimentos a toque de caixa, mas alguns deles sequer tinham contrato com a entidade até ontem. Em meio ao furacão enfrentado pela CBF, há receio de que tomem prejuízo caso o evento seja cancelado nesta semana.


30 dias
Período de afastamento de Caboclo na CBF. Prazo pode ser prorrogado

Argentina diz que competirá

Em meio às possibilidades de boicote à Copa América, a Associação de Futebol Argentino (AFA) divulgou um comunicado, ontem, confirmando a participação de Messi e companhia na competição. Originalmente, o país seria umas das sedes do torneio ao lado da Colômbia. A desistência foi provocado pelos impactos da pandemia de covid-19. Os colombianos abdicaram por questões políticas.

“A seleção argentina confirma participação na Copa América, tal como reflete seu espírito esportivo ao largo de sua história. Com um esforço enorme da AFA, que usou todas as ferramentas para garantir cada um dos cuidados específicos solicitados neste difícil momento. Todo o staff alviceleste trabalhará unido para sobrepor esta adversidade que, lamentavelmente, afeta todos os sul-americanos de maneira igual”, diz o texto.

Os argentinos, porém, não ficarão hospedados no país durante a competição. A AFA anunicou, ainda, que a delegação ficará concentrada na cidade de Ezeiza, na província de Buenos Aires. O time deve chegar ao Brasil, obrigatoriamente, 24 horas antes de seus compromissos pelo torneio continental. Ontem, além da Argentina, a Bolívia também garantiu a vinda ao Brasil. “O presidente, o comitê executivo, os dirigentes, o corpo técnico e os jogadores expressam sua plena disposição para disputar essa histórica e emblemática competição”, assegura o comunicado.

Outras duas confederações do continente haviam se manifestado no mesmo sentido. Na quarta-feira, o Paraguai ratificou presença. No dia seguinte, o Uruguai seguiu o mesmo caminho. "A Celeste se prepara para o torneio, honrando seu compromisso histórico de participação”, publicou a associação uruguaia, elogiando, ainda, o “esforço da Conmebol no contexto da pandemia”.