O clima na Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e, consequentemente, na Seleção, segue em ebulição. Ontem, os comandados do técnico Tite voltaram a treinar em Porto Alegre após a vitória sobre o Equador, por 2 x 0, na quinta rodada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo. As atenções, porém, seguem distantes do campo e bola. Nos bastidores, a crise gerada pela Copa América e pela denúncia de assédio moral e sexual de uma funcionária da entidade contra o presidente Rogério Caboclo movimentaram o dia e complicaram, ainda mais, a situação do cartola.
Mesmo em pleno isolamento após a divulgação do caso, Caboclo tenta demostrar sinais de resistência no cargo. Pressionado pela denúncia protocolada na Comissão de Ética da CBF, o mandatário sofre pressão internamente para abdicar da presidência. Os pares tentam convencê-lo a, pelo menos, se licenciar do cargo durante o processo de defesa. Ele acredita que conseguirá provar sua inocência no caso e, por isso, não leva em consideração os pedidos dos dirigentes da entidade. De acordo com o estatuto da CBF, se aceitasse a sugestão, o presidente poderia indicar o sucessor, podendo escolher entre um dos vices.
A pressão sobre Caboclo também chegou em instâncias superiores do futebol mundial. Mandatário da Conmebol, Alejandro Domínguez estaria preocupado com o fervor dos bastidores da CBF e as ameaças de boicote brasileiro à Copa América, com início marcado para 13 de junho, com a partida entre Brasil e Venezuela, no Estádio Nacional Mané Garricha, em Brasília. O sentimento seria compartilhado pela alta cúpula da Fifa. Nas duas entidades, o presidente da entidade máxima do futebol brasileiro gozava de bastante prestígio.
A postura de Tite durante a profunda crise da CBF também gerou incômodo em Caboclo. Segundo apuração da Folha de S. Paulo, o mandatário esperava que o treinador contivesse o motim do elenco contra a Copa América. O cartola acreditava que tal posicionamento seria um sinal de lealdade. A preocupação do técnico, porém, foi no sentido de blindar os jogadores e o vestiário da Seleção Brasileira. Na coletiva da última sexta-feira, o treinador não conseguiu esconder seu incômodo com a atual situação provocada pela imposição de jogar a competição. “Estou fazendo o meu trabalho normalmente, estou em paz comigo mesmo”, afirmou, sem tanta convicção nas palavras.
Manifesto
Antes do jogo contra o Equador, Caboclo tentou melhorar o relacionamento com os jogadores e a comissão técnica da Seleção Brasileira. A atitude, porém, surtiu um efeito totalmente contrário. A visita do dirigente ao vestiário dos atletas, no estádio Beira-Rio, antes de a bola rolar, deixou os presentes constrangidos e envergonhados. O dirigente se afastou ainda mais do grupo. Os jogadores planejam, inclusive, divulgar um manifesto, por escrito, contra a realização da Copa América.
Antes da quinta vitória em cinco jogos da seleção, Caboclo foi ao vestiário juntamente com Cafu, Juninho Paulista, coordenador da seleção, e Clodoaldo, chefe da delegação. O dirigente fez um discurso entusiasmado e participou da corrente dos atletas, o último ato coletivo de motivação antes de uma partida. Os jogadores ficaram incomodados com duas situações especificamente. Uma delas foi o pedido do dirigente para que os atletas não dessem entrevistas após o jogo. Para eles, o veto surgiu como uma tentativa de controlar as manifestações do elenco. Outro fato embaraçoso foi o teor do discurso. O dirigente falou de união e motivação. “Ele faz as coisas como se tudo estivesse normal”, disse uma pessoa próxima aos atletas.
Time olímpico perde amistoso
A seleção olímpica do Brasil iniciou sua caminhada rumo a Tóquio com um vexame. Ontem, os jogadores do técnico André Jardine perderam para a modesta seleção de Cabo Verde, por 2 x 1, de virada, em Belgrado, na Sérvia, no primeiro amistoso preparatório para os Jogos Olímpicos.
Diante de um bloqueio composto por duas barreiras, uma com cinco e outra com quatro jogadores, a seleção brasileira, apesar de não imprimir um forte ritmo, conseguiu encontrar espaços para criar oportunidades, principalmente pela direita com Antony.
Com o passar do tempo, a seleção de Cabo Verde se tranquilizou e conseguiu ajustar a marcação, dificultando o trabalho brasileiro, que passou a arriscar de longe, como fez Guilherme Arana, aos 22 minutos. Em rara jogada dentro da área, Rodrygo quase abriu o placar, aos 37. Mas um minuto mais tarde, o árbitro deu mão na bola de Roberto Lopes na área. Pênalti, que Pedro bateu com categoria. Parecia que o Brasil iria deslanchar no placar, mas, aos 46, na única escapada de Cabo Verde na primeira etapa, Lisandro Semedo recebeu livre na área e empatou.
No segundo tempo a produção brasileira caiu muito. Em 20 minutos, o lance mais perigoso foi uma finalização de Claudinho de longe. Aos 38 minutos, a zaga errou na saída de bola e Willy Semedo acertou uma bomba sem defesa para Cleiton. Daí até o final o que se viu foi um time milionário e desesperado para obter pelo menos um empate diante de um rival modesto. A 48 dias do início dos Jogos, o time de Jardine precisa melhorar bastante para defender o ouro conquistado no Rio em 2016. Em Tóquio, o Brasil está no Grupo D e estreia dia 22 de julho, contra a Alemanha, no estádio de Yokohama.