ELIMINATÓRIAS

Clima de separação

Entenda por que a CBF já trabalha com a possibilidade de pedido de demissão de Tite depois do jogo contra o Paraguai na próxima terça-feira. Em campo, Brasil vence Equador e mantém campanha 100%

O técnico Tite pode pedir demissão do comando da seleção brasileira após o jogo com o Paraguai, na terça-feira, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Esta é a expectativa dentro da própria Confederação Brasileira de Futebol (CBF) após o comportamento do treinador nos últimos dias de preparação da equipe no Rio de Janeiro. A relação entre o treinador e o presidente da entidade, Rogério Caboclo, se deteriorou por conta de vários episódios, entre eles, o apoio de Tite ao protesto dos jogadores contra a realização da Copa América no Brasil, um episódio de suposto assédio sexual envolvendo o presidente da entidade e até críticas à comissão técnica.

Internamente, a reaproximação é considerada difícil. Vários fatores provocaram as desavenças entre o treinador e o dirigente. O mais recente foi o apoio do treinador à insatisfação dos jogadores com a disputa da Copa América no Brasil. A crise chegou a ser admitida pelo próprio técnico na quinta-feira, na entrevista coletiva um dia antes do jogo contra o Equador.

“Temos uma opinião muito clara e fomos lealmente, numa sequência cronológica, eu e Juninho, externando ao presidente qual a nossa opinião. Depois, pedimos aos atletas para focarem apenas no jogo contra o Equador. Na sequência, solicitaram uma conversa direta ao presidente. Foi uma conversa muito clara, direta. A partir daí, a posição dos atletas também ficou clara. Temos uma posição, mas não vamos externar isso agora. Temos uma prioridade agora de jogar bem e ganhar o jogo contra o Equador. Entendemos que depois dessa Data Fifa as situações vão ficar claras”, afirmou o treinador em entrevista coletiva.

Os atletas reclamam da disputa de um torneio com as Eliminatórias, competição que eles consideram mais importante neste momento. A Copa América começa em 13 de junho, com jogos nas cidades de Brasília, Cuiabá, Goiânia e Rio de Janeiro. Na visão dos jogadores, a temporada foi atípica e exaustiva. Jogadores mais experientes do elenco se mostraram incomodados por terem descoberto pela imprensa e pelas redes sociais que o Brasil sediará o torneio.

Reclamações
Além disso, eles reclamam que não houve diálogo com a entidade sobre a mudança da sede do torneio — inicialmente, o torneio continental seria realizado na Colômbia, que desistiu por problemas políticos internos, e na Argentina, que declinou em função do agravamento da pandemia de covid-19. Tite e sua equipe se posicionaram a favor dos atletas. Reuniões com a cúpula da CBF só acentuaram as diferenças. Alguns ficaram insatisfeitos com a maneira como foram tratados na reunião, como subordinados da entidade.

O descontentamento se acentuou por outras razões. Um deles é a crise institucional vivida pela CBF em função de um suposto episódio de assédio sexual envolvendo o próprio Caboclo. Uma funcionária da CBF protocolou, ontem, uma acusação de assédio moral e sexual contra o presidente da entidade. A denúncia foi formalizada perante a Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, a quem caberá investigar os fatos.

Outro episódio que contribuiu para azedar o relacionamento entre Tite e o Caboclo foi o vazamento, de uma conversa entre Caboclo e Edu Gaspar, então coordenador da Seleção, depois da Copa da Rússia, em 2018, em que o presidente faz duros questionamentos ao trabalho de Tite e de sua comissão técnica, em especial o auxiliar Cleber Xavier, seu braço direito. Os áudios foram relevados pela ESPN.

Na entrevista coletiva de quinta-feira, Tite prometeu se manifestar mais claramente sobre a crise depois dos jogos (Equador e Paraguai). E ele afirmou que os jogadores também vão falar o que pensam sobre a Copa América.

Pombo garante paz no campo

Gabriel Barbosa fez um gol em impedimentto, desperdiçou pelo menos duas oportunidades, mascoube a Richarlison, o Pombo, o papel de protagonista da vitória do Brasil por 2 x 0 sobre o Equador, ontem, no Beira-Rio, pela sétima rodada das Eliminatórias para a Copa do Qatar-2022.

A comemoração de Richarlison chamou a atenção. O atacante e vários jogadores correram em direção ao técnico para abraçá-lo, em uma demonstração de que estão fechados com o treinador.

Richarlison é decisivo pela terceira vez nesta Copa América. Ele também havia marcado na vitória contra o Peru, em Lima, por 4 x 2, e no triunfo diante do Uruguai, em Montevidéu, por 2 x 0. Paquetá roubou a bola no lance decisivo, acionou Neymar e o camisa 10 fez a ligação com Richarlison, que chutou cruzado. Neymar ampliou de pênalti no fim: 2 x 0.

Denúncia de assédio sexual

Uma funcionária da CBF protocolou, ontem, acusação de assédio moral e sexual contra o presidente da entidade, Rogério Caboclo. A denúncia foi formalizada perante a Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, a quem caberá investigar. A mulher, que não teve o nome divulgado, diz ter sido vítima de várias condutas abusivas de Caboclo, desde abril de 2020. Ela afirma ter provas das condutas e pede que Caboclo seja afastado do cargo e acionado pela Justiça. Até o fechamento desta reportagem, a CBF não havia se pronunciado.

Segundo o site GE, a mulher diz que Caboclo chamou-a de “cadela” e tentou forçá-la a comer biscoito de cachorro. Em outra oportunidade, perguntou se ela se masturbava.

Durante reunião com outros dirigentes da CBF, o presidente teria inventado relacionamentos da funcionária com pessoas ligadas à entidade.

Segundo a reportagem, a vítima afirma que, durante todas essas condutas, Caboclo estava embriagado. Ela disse, ainda, que ele a orientava a esconder garrafas de bebida na entidade, para que Caboclo consumisse durante o expediente.

Essas denúncias haviam sido narradas pela funcionária a superiores hierárquicos há cerca de um mês e meio, mas nenhuma providência foi tomada. Ao narrar os abusos, a funcionária pediu afastamento do cargo por motivo de saúde. “Tenho passado por um momento muito difícil nos últimos dias. Inclusive com tratamento médico. De fato, hoje apresentei uma denúncia ao Comitê de Ética do Futebol Brasileiro e à Diretoria de Governança e Conformidade, para que medidas administrativas sejam tomadas”, afirmou a funcionária.

A apuração caberá à Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, órgão criado pela CBF para receber, apurar e julgar denúncias. A Comissão é presidida pelo desembargador aposentado Carlos Renato de Azevedo Ferreira.