OLIMPÍADAS

Uma turbinada nas pedaladas

Como Henrique Avancini, ex-número 1 do ranking mundial, pode alavancar o ciclismo no Brasil

Nada como um esportista de peso para alavancar uma modalidade no país, certo? Quando surge uma Daiane dos Santos na ginástica artística ou um Guga no tênis, certamente a visibilidade do esporte aumenta. Henrique Avancini é um desses atletas que marcou o nome na história e vive momento espetacular na carreira. Ex-líder do ranking mundial de mountain bike, o carioca de 32 anos é um dos favoritos ao ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Ele passou a contar com apoio de peso, que promete estender o incentivo ao ciclismo brasileiro.

Henrique Avancini fechou apoio com o banco Santander na semana passada para ser representante da marca na estratégia de impulsionar o ciclismo no país após um ano que registrou aumento de 50% das vendas de bicicleta na comparação com 2019, segundo a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike). O mercado de mountain bike, especialidade de Avancini, representa 85% das vendas.

“Esse boom do ciclismo no Brasil ainda não foi acompanhado por um aumento da estrutura, do apoio ou de visibilidade para quem vive do esporte, ou quer levar mais a sério os treinos”, comenta Avancini. O ciclismo é um esporte que demanda um alto investimento financeiro com equipamento. “Quando um banco oferece serviços como um seguro para acidentes ou crédito para a compra de bikes competitivas, acredito que podemos levar o ciclismo para um outro patamar”, completa o atleta.

Outra preocupação é amplificar o impacto e o conhecimento da modalidade no país. Para isso, o patrocinador aposta em transmissões de tevê. Uma delas será o Grand Tour de ciclismo de estrada, por meio dos canais ESPN. O circuito conta com as principais provas do esporte no mundo, como o Tour de France e o Giro D’Italia. No canal Bandsports, o banco veiculará anúncios nas exibições do MTB Festival, a mais importante competição de mountain bike do Brasil.

Avancini tomou gosto pela bicicleta ainda na infância e tinha dentro de casa um amante do esporte. O pai também foi ciclista e tinha uma oficina de bicicleta. Foi ele quem construiu a primeira bicicleta para o filho, a partir de sucatas. Enquanto Avancini lidava com o esporte como um hobbie estava tudo bem. As preocupações na família começaram a surgir quando a paixão foi ganhando perspectivas profissionais. “Sempre contei muito com o incentivo do meu pai no apoio da minha paixão, mas em relação a apoiar isso como um trabalho ou fonte de renda, sempre foi difícil para todos nós”, conta o atleta.

Ainda assim, optou por trancar a faculdade de direito para se dedicar exclusivamente ao mountain bike, mesmo consciente que na época dessa decisão o ciclismo não era desenvolvido suficientemente. Após o longo e incerto processo que vem trilhando como ciclista profissional, que inclui altos e baixos, Avancini orgulha-se do estágio onde ele e a modalidade chegaram: “Essa é a grande realização da minha carreira, enxergar hoje o esporte que amo tanto crescendo e ver também minha carreira crescer de forma proporcional”.

Três perguntas para / Henrique Avancini

Você venceu a Internazionali d'Italia, bateu o atual campeão olímpico. Como tem lidado com a expectativa de conquistar uma medalha nos Jogos de Tóquio?
As pessoas esperam pelo melhor resultado possível, mas é importante entender que, na cabeça do atleta, essa expectativa é algo anterior, que vem de forma permanente. O processo olímpico é longo, e é importante competir em alto nível durante todo o período e competições que antecedem. Mas as Olimpíadas são diferentes, existe uma carga maior de análise mais detalhada do público e da mídia, um acompanhamento mais próximo. O importante é o atleta saber gerar isso para que traga motivação.

Além do suíço Nino Schurter, quais são os principais rivais?
O Nino Shurter é o atual campeão olímpico e mais experiente, é um dos maiores da história da modalidade. Além dele, temos uma geração de atletas um pouco mais jovem. O Mathieu van der Poel é o favorito da mídia; o inglês Tom Pidcock é um talento jovem e muito capaz; temos também os franceses Victor Coretszky e o Jordan Sarrou, que é o atual campeão mundial.

Você deixou de competir por causa da pandemia?
Este ano foi muito difícil. Demoramos muito a traçar um plano de preparação, tentamos viajar e fazer algumas competições e sempre tivemos que alterar esse planejamento. Isso acabou quebrando qualquer estratégia e fiquei com a pré-temporada comprometida. Mas agora me vejo em uma situação melhor, ainda num tempo bom para pensar e preparar a segunda parte do ano, que obviamente inclui os jogos olímpicos.