Ao lado de Neymar, Elano e Ganso, José Eduardo Bischofe de Almeida, o Zé Love, foi o camisa 9 do Santos na conquista do tricampeonato da Libertadores, em 2011, sob o comando de Muricy Ramalho. Atualmente no Brasiliense, o centroavante conversou com o Correio sobre os 10 anos daquele título contra o Peñarol, do Uruguai, no Pacaembu.
Em 2010 e 2011, o atacante vestiu a camisa do Peixe e foi peça fundamental para a conquista de dois títulos do Campeonato Paulista, uma Copa do Brasil e o mais importante deles, a Libertadores. O Peixe não levantava o troféu há 48 anos, desde a Era Pelé, e conseguiu sair da fila na competição internacional com Neymar e companhia.
O início da caminhada vitoriosa santista encontrou diversos obstáculos. No Grupo 5, o Peixe enfrentou os tradicionais Cerro Porteño e Colo-Colo, além do Deportivo Táchira. Apesar das dificuldades, Zé Love diz que havia otimismo para chegar longe na competição.
"Sabíamos do nosso potencial. Nosso grupo era uma mescla entre jogadores jovens e experientes, mas imaginávamos avançar cada vez mais, esse era o nosso objetivo", ressaltou. No entanto, o atacante confessa que depois da classificação às quartas de final, o grupo começou a pensar em título.
Como o Santos para aquela final diante do Peñarol? Havia apreensão ou o clima no vestiário era favorável?
Vínhamos de dois títulos do Campeonato Paulista e uma Copa do Brasil, então tinha aquela pressão, ainda mais porque o Santos estava há 48 anos sem conquistar a Libertadores. Ser campeão da América é o sonho de todo jogador, todo clube e torcedor, pois é o nosso campeonato mais importante. A apreensão ficava fora das quatro linhas. O clima do vestiário em 2010/2011 era muito bom, construímos uma família, gostávamos uns dos outros. Era um grupo sem vaidade, onde todos se respeitavam. A presença de jogadores experientes como Edu Dracena, Durval, Léo e Elano também favoreceu o plantel repleto de jovens.
Na Libertadores 2011 você marcou apenas um gol, mas um gol na semifinal contra o Cerro Porteño fora de casa. Qual o sentimento de ter ajudado o time num momento de extrema necessidade?
Creio que a partida de volta contra o Cerro Porteño foi a mais difícil em toda a Libertadores. A equipe paraguaia era extremamente técnica, tanto que o segundo jogo terminou empatado por 3 x 3. E aquele meu gol, logo aos dois minutos do primeiro tempo, foi como um balde de água fria para o adversário. Também foi um alívio para mim porque eu ainda não tinha balançado as redes. Mas sempre trabalhei forte, tinha a confiança do técnico Muricy Ramalho. Ele dizia que na hora importante o gol sairia. E saiu. Toda vez que vejo esse gol, me emociono. O mais importante é ter entrado para a história do Santos e quebrado aquele jejum que eu vivia.
Qual foi o momento ou a maior dificuldade encontrada pela equipe na campanha de 2011?
A primeira fase foi o nosso momento de maior provação. Me recordo que na 4ª rodada da fase de grupos, contra o Colo-Colo, quando vencemos por 3 x 2, mesmo com três jogadores expulsos, eu, Neymar e Elano. Na partida seguinte, contra o Cerro Porteño, que valia a classificação às oitavas, Danilo e Maikon Leite fizeram os gols que carimbaram nossa vaga. Nas fases finais, o maior obstáculo que encontramos foi quando enfrentamos o América do México. A partir dali, depois de sofrermos muito fora de casa, com o goleiro Rafael se destacando e a vitória por 1 x 0, tivemos consciência de que o título era possível.
Como foi dividir os gramados com grandes nomes como Neymar, Ganso, Elano, Léo e outros? Ao lado de craques, ficava mais fácil de jogar?
Ter dividido o vestiário com esses jogadores foi, com certeza, a minha maior experiência e sonho realizado. Costumávamos falar que nós éramos uma família. Sou santista desde a infância, então foi o auge da minha carreira, meu melhor momento e um sonho realizado.
O que dizer sobre o ex-técnico Muricy Ramalho, é realmente um cara diferenciado?
O Muricy Ramalho foi o maior técnico com quem trabalhei, em termos táticos, técnicos e, principalmente, de grupo. Ele é um cara sensacional. Comigo então, mesmo quando eu vivia uma fase conturbada, em meio a jejum de gols, ele nunca me tirou do time, sempre me deu confiança. Tudo que aconteceu naquela Libertadores eu devo muito a ele. Sou muito grato ao Muricy, um dos maiores treinadores da história do Brasil.
Assistindo a final da Libertadores 2020, entre Palmeiras e Santos, durante os 90 minutos, você se viu em campo e lembrou da decisão de 2011?
Santista desde criança, torci bastante nessa final. Infelizmente, o título não veio, por uma bobeira na reta final da partida. Mas, por tudo que o Santos fez, chegar aonde chegou, está de parabéns. Em finais como essa, a gente começa a relembrar os momentos, estádio cheio, principalmente, coisa que a última decisão da Libertadores não teve. Isso marca muito o jogador.
Aos 33 anos, você já se sente realizado na carreira ou acredita que ainda falta algo?
Depois de um período difícil antes de chegar ao Brasiliense, vivo uma das melhores fases da minha carreira. Estou feliz por esse ótimo momento, conquistando títulos pelo clube, recebendo reconhecimento individual e com a família alegre em Brasília. Espero marcar o meu nome na história do clube e chegar a ser ídolo, porque são as conquistas que nos gravam à memória do time. Graças a Deus, entrei para a história do Santos, e agora, no Jacaré, espero viver ao máximo essa fase de conquistas, ajudando e marcando gols. Espero poder colocar o Brasiliense ao seu devido lugar, atingindo grandes feitos.
Após 10 anos dessa grande conquista, qual o seu recado para toda a nação santista, em especial aos do Distrito Federal?
É dizer que realizei o maior sonho da minha carreira, jogando pelo meu time de infância. O sonho do meu pai era me ver com a camisa do Santos, e conquistando títulos ficou ainda mais especial. Espero que possamos voltar a levantar esse troféu o quanto antes, porque é uma alegria imensa e inexplicável.
*Estagiário sob a supervisão de Marcos Paulo Lima
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