Os torcedores de esportes adoram desafios — disputas emocionantes, imprevisíveis, que podem terminar em glória ou derrota. Mas os donos de empresas geralmente odeiam exatamente isso.
Proprietários e gerentes de negócios de clubes de futebol estão com um problema peculiar nesta pandemia.
Como me disse um ex-presidente-executivo de um clube da Premier League: "Não saberei até o último dia da temporada se meu orçamento para o próximo ano será de 170 milhões de libras (R$ 1,3 bilhão) ou 70 milhões de libras (R$ 544 milhões)".
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Isso não é apenas quase impossível de gerenciar, mas tem outra consequência muito importante. Empresas com receitas estáveis valem muito mais do que aquelas com ganhos irregulares.
No jargão dos negócios, isso é conhecido como obter um "múltiplo" maior — empreendimentos com alta volatilidade valem em média cinco vezes a sua receita anual; enquanto negócios estáveis valem até 20 vezes ou mais.
Gigantes contra pequenos
É disso que se trata a Superliga Europeia — fazer com que os clubes envolvidos valham mais, eliminando o risco de serem rebaixados ou de não se classificarem para a Liga dos Campeões.
Este é o momento pelo qual muitos donos de times de futebol estavam esperando — especialmente os donos americanos de Liverpool, Manchester United e Arsenal.
Os defensores da Superliga dizem que a Liga dos Campeões existente era um produto ruim — muitos jogos sem sentido entre times pequenos e gigantes do futebol europeu, antes de a competição chegar a um estágio interessante, mais perto do final.
Eles também argumentam que um topo financeiro mais estável na pirâmide do futebol, onde fica a elite, é necessário para garantir que recursos cheguem aos clubes menores através de um efeito cascata.
Mas muitos torcedores argumentam que a perspectiva de uma derrota trágica do Real Madrid no seu estádio, o Santiago Bernabeau, ou do Manchester United, em Old Trafford, é parte essencial do jogo — e que jogos muito frequentes apenas entre os grandes clubes tornariam monótono o que hoje em dia é considerado um evento raro e especial: a disputa de um clássico entre os gigantes.
Os apoiadores da Superliga disseram à BBC que a proposta atual não é uma tática extrema de negociação para fazer a Uefa, órgão regulador do futebol europeu, ceder a demandas antigas dos grandes clubes, que querem maior controle sobre o evento de clubes mais prestigioso do mundo.
"Isso [a Superliga] está realmente acontecendo, vai acontecer, mesmo que a Uefa não apoie", disse um dos apoiadores do novo torneio.
Se a Superliga vingar, ela terá implicações profundas nas ligas existentes em toda a Europa.
Terminar entre os quatro primeiros da Premier League (a primeira divisão do campeonato inglês de futebol) é o maior prêmio do futebol inglês, porque garante vaga para a Liga dos Campeões. As seis equipes inglesas que aderiram à Superliga perceberam que seis é maior que quatro — ou seja, no formato atual, todo ano duas equipes inglesas estão perdendo ao não participarem da Liga dos Campeões.
'Cinismo'
Mas isso não vai mais ser assim. Uma fonte da Superliga admitiu que o plano diluirá consideravelmente o valor da Premier League como produto — a disputa pelas quatro vagas, que é uma de suas atrações principais, não terá mais sentido.
Já percorremos esse caminho antes e o ex-presidente-executivo da Premier League sugeriu que a pandemia proporcionou uma janela de oportunidade para essa proposta radical, que não teria chance de prosperar em tempos normais.
"Há um oportunismo cínico nisso", disse ele. "Eles perceberam que a situação está caótica agora e que qualquer coisa pode acontecer."
Mas ele acrescentou: "O futebol envolve dois grupos de pessoas. Jogadores e torcedores. Você os perturba por sua conta e risco".
"Se os torcedores decidirem boicotar os jogos, isso será um desastre financeiro, e se a Fifa ameaçar proibir os jogadores participantes de representar seu país na Copa do Mundo, eles não irão aceitar."
Para quem gosta de assistir a grandes jogos, a disputa fora de campo ainda promete muita emoção.
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