Mercado

Mundos paralelos

Clubes brasileiros vêm evidenciando contrastes em negociações. Enquanto Flamengo e Palmeiras saem do páreo por austeridade, Atlético-MG e São Paulo investem forte, mesmo em meio a problemas financeiros

Nos últimos dias, as movimentações do mercado da bola evidenciaram contrastes nas políticas de investimentos de grandes clubes. De um lado da balança, Flamengo e Palmeiras surpreenderam ao anunciar a desistência das contratações do lateral-direito Rafinha e do atacante Rafael Borré, respectivamente, para preservar as saúdes financeiras construídas nos últimos anos. De maneira oposta, Atlético-MG e São Paulo vêm reforçando suas equipes com grandes investimentos, enquanto assistem às dívidas globais alcançarem precedentes nunca antes vistos.

As diferenças de critérios evidenciam o contraste na postura. Protagonistas nas últimas temporadas, Flamengo e Palmeiras empilharam conquistas e premiações, mas optaram por pisar no freio conforme a pandemia de covid-19 comprometeu os recursos. Presos na fila de conquistas, São Paulo e Atlético-MG deixaram de lado a austeridade para contratar nomes caros e, em nome de reforçar o favoritismo nas principais competições, o caixa ficou em segundo plano. O último grande título do Galo foi a Copa do Brasil de 2014. O Tricolor não ganha nada desde a Sul-Americana de 2012.

Com tanto tempo sem comemorar, o São Paulo fez um grande investimento ainda no ano passado ao contratar Daniel Alves. Nesta semana, porém, o jogador virou um expoente dos problemas financeiros. Na quarta-feira, o diretor de futebol, Carlos Belmonte, assumiu uma dívida de R$ 10 milhões com o camisa 10 por valores pendentes de 2020. O clube faz as contas para acertar o débito e cogita, inclusive, estender o vínculo para diluir os valores ou incluir parte dos R$ 70 milhões da venda de Brenner ao FC Cincinnati, dos Estados Unidos, para fechar a conta.

O clube atrasou o início do pagamento de um acordo coletivo firmado com o elenco no ano passado. Em dezembro, a dívida total do São Paulo foi estimada em R$ 575 milhões. Os problemas, porém, não impediram contratações. São seis reforços: Bruno Rodrigues, Miranda, William, Éder, Orejuela e Benítez. Somente na aquisição econômicos dos dois últimos, o clube investiu R$ 15,4 milhões. Os gastos são acrescidos por salários e luvas para viabilizar o acerto com as novas peças.

O Atlético-MG vive um drama financeiro ainda mais crítico. A dívida global ultrapassa a marca de R$ 1 bilhão. Isso, porém, não privou o Galo de realizar contratações de impacto. O investimento para tirar o meia Nacho Fernández do River Plate deve chegar a R$ 72 milhões entre gastos com aquisição e salários. Além disso, o alvinegro trouxe o atacante Hulk, livre no mercado, mas dono de um milionário contracheque. O lateral-esquerdo Dodô, ex-Cruzeiro, fechou o combo de reforços.

Os aportes foram possíveis com a ajuda dos empresários Renato Salvador, Ricardo Guimarães, Rafael Menin e Rubens Menin. O grupo é conhecido internamento no clube como ‘4 R’s’ e bancam aspectos das transações. O presidente do Atlético-MG, Sérgio Coelho, admitiu que a situação do clube estaria crítica sem a ajuda dos parceiros. “Situação muito complicada. Quando falo do Atlético-MG, me refiro ao futebol brasileiro, que está passando por um momento complicado nos últimos anos, ressaltou.

Postura austera

Nos últimos anos, Flamengo e Palmeiras se concretizaram como prováveis destinos de grandes nomes. Foi assim quando o rubro-negro investiu milhões em Gabriel Barbosa e Arrascaeta, ou quando o alviverde abriu os cofres para viabilizar as chegadas de Luiz Adriano e Rony. Entretanto, no início de 2021, o panorama mudou. Nos últimos dias, os dois protagonistas recentes recuraram em negociações em nome da austeridade financeira e para não extrapolar o planejamento.

Na segunda-feira, o Flamengo desistiu de Rafinha. Apesar do
lobby da torcida para a volta do lateral-direito ao clube, no qual conquistou cinco títulos — entre eles a Libertadores e o Campeonato Brasileiro —, os cariocas recuaram e nem sequer apresentaram proposta. O motivo foi um cuidado com as finanças. Quando o jogador deixou o clube, em 2020, o rubro-negro trouxe o chileno Isla como reposição e alegou ser inviável manter dois nomes caros na posição. Em nota, o clube lamentou. “A pandemia e seus reflexos impediram este esperado retorno”.

Em fevereiro, o Palmeiras formalizou proposta por Rafael Borré, do River Plate. As negociações se arrastaram e o jogador deu sinal positivo somente em março. Apesar do aceite, o alviverde recuou. A justificativa foi a mesma: o cenário financeiro provocado pela pandemia de covid-19. Com a alta do dólar — moeda da negociação —, o clube palestrino temeu não conseguir honrar o compromisso oferecido anteriormente. A contratação não está definitivamente descartada, mas só vingará se os termos forem redefinidos.