A areia cai rapidamente na ampulheta, e a pandemia do novo coronavírus não dá trégua aos megaeventos esportivos. A pressão não se restinge mais aos Jogos Olímpicos de Tóquio, Eurocopa e Copa América — todos adiados de 2020 para 2021. Aos poucos, o tempo vira inimigo, também, da Copa do Mundo do Qatar-2022. Por linhas tortas, o torneio disputado tradicionalmente no meio do ano ganhou uma prorrogação. A competição começará em 21 de novembro para driblar o calor no Oriente Médio. Mesmo assim, as Eliminatórias estão atrasadas.
Dos 204 países candidatos às 31 vagas no início da maratona, 191 seguem sonhando com a ida ao Qatar. Na prática, faltam muitos jogos em meio à marcha lenta da vacinação contra a covid-19. Estão previstos 808 jogos nas Eliminatórias — 64, ou uma Copa a menos, que a seletiva para a Rússia-2018. Até agora, foram disputadas 156 (19,3%).
Em situação crítica, a América do Sul cancelou a rodada dupla deste mês. Os clássicos entre Argentina e Brasil; e Argentina e Uruguai, seriam as atrações. Os 10 jogos desta data Fifa ficaram para outro dia qualquer.
Isso não é exclusividade da Conmebol. Confederações como a Concacaf (América do Norte, Central e Caribe), AFC (Ásia) e CAN (África) fizeram ajustes. A seletiva da Europa começará hoje. Falta combinar com o vírus invisível se haverá tempo para concluir a tabela. O sorteio dos grupos da Copa está agendado para abril de 2022. Provavelmente, o Comitê Organizador terá de rever a data.
A questão é: o que fará a Fifa se novas ondas da pandemia impedirem a conclusão das Eliminatórias? Confeccionado antes do vírus, o regulamento do torneio despreza essa possibilidade, óbvio. O Correio simulou alternativa com base em um produto da Fifa: o ranking.
Questionada, a lista serve, por exemplo, para definir os cabeças de chave da Copa. Demos outra utilidade a ela. Distribuimos as 31 vagas de acordo com a posição no ranking e o número de vagas destinadas a cada confederação (leia o mapa abaixo). É curioso aferir como se joga muito, e atrapalha-se tanto o calendário dos times com as convocações para, no fim, a Copa ter praticamente os mesmos participantes de sempre. Na América do Sul, a tabela prevê 90 partidas entre as 10 seleções. A agenda da Europa tem 259 jogos entre 55 países.
Com base no ranking publicado em 18 de fevereiro, as quatro vagas diretas da América do Sul ficariam com Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia. O Chile amargaria repescagem, mas avançaria por estar mais bem posicionado do que Costa Rica, Arábia Saudita e Nova Zelândia, possíveis rivais no nosso virtual mata-mata intercontinental.
A Europa levaria à Copa todos os campeões — França, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha —, vices como Holanda e Croácia; e ressuscitaria o País de Gales. A seleção de Gareth Bale não disputa o Mundial desde 1958, na Suécia. O país de Zlatan Ibrahimovic, sim, seria ausência sentida no Qatar.
O ranking cometeria poucas injustiças em outros confederações. Senegal, Tunísia, Argélia, Marrocos e Nigéria arrematariam as vagas da África. Japão, Irã, Coreia do Sul e Austrália, as da Ásia. A Concacaf seria representada por México, EUA, Jamaica e Costa Rica — via repescagem.
Há confederações interessadas em enxugar as Eliminatórias. A Concacaf usou justamente o ranking continental para premiar México, EUA, Honduras, Costa Rica e Jamaica com vaga antecipada ao octogonal final. Outras 30 seleções disputam três vagas. Na prática, isso significa mais de um ano (14 meses) a menos de competição. Economia de tempo considerável.
Um das novidades nas Eliminatórias da Europa é a presença do Qatar. Anfitrião do Mundial, o atual campeão da Copa da Ásia segue fazendo intercâmbio em torneios de ponta. Em 2019, disputou a Copa América no Brasil.