Destaques no aproveitamento de bolas paradas da história do Flamengo, Zico, Petkovic, Ronaldinho Gaúcho, Júnior e tantos outros devem sentir calafrios com a marca negativa atingida pelo rubro-negro no fundamento. O time que motivou até uma música, composta para exaltar talento do maior ídolo do clube no quesito, está completando, hoje, mil dias do último gol de cobrança de falta, maior jejum entre os times da Série A do Campeonato Brasileiro. Na canção, Jorge Ben Jor canta a letalidade das batidas de Zico. “É falta na entrada da área / Adivinha quem vai bater? / É o camisa 10 da Gávea / Chuta que é gol! Capricha e chuta que é, vá…”, diz um trecho.
Atualmente, a confiança dos rubro-negros nas cobranças de falta está longe de ser a mesma poetizada nas estrofes. O último gol marcado assim pelo Flamengo ocorreu em 10 de junho de 2018. Na vitória sobre o Paraná, por 2 x 0, Diego foi derrubado na entrada da área. Na cobrança, com um toque de sorte, o camisa 10 contou com um desvio na barreira para tirar o goleiro Thiago Rodrigues do lance. “Tive a sensação que peguei bem na bola. Não sei se entraria sem o desvio, mas o importante é que entrou”, analisou o capitão rubro-negro, à época. De lá para cá, porém, ninguém teve a competência para repetir o feito.
Passaram-se mil dias corridos. No espaço de tempo após o gol contra o Paraná, o Flamengo jogou 180 partidas divididas por quatro temporadas — 2018, 2019, 2020 e 2021 — e marcou 328 gols das mais variadas formas: de perna esquerda, de direita, de cabeça, de bicicleta, de fora da área, de cobertura, de pênalti, bonitos, feios… o amplo repertório do período, um dois mais vitoriosos da história do clube com as conquistas de sete taças, entre eles a Libertadores e dois títulos em sequência do Campeonato Brasileiro, só não incluiu bolas na rede através de cobranças de falta.
Em entrevista, na última segunda-feira, para o programa Bem, Amigos, do canal SporTV, Diego reconheceu o incômodo causado pela escassez de gols de falta no elenco. “É algo que precisamos melhorar, ainda mais no nível que estamos hoje. A bola parada faz a diferença em jogos fechados. Os batedores são o Everton Ribeiro, o Arrascaeta, o Vitinho e eu. Falamos sobre isso. Os outros jogadores também cobram. Eu já fiquei depois de alguns treinos com o Rogério Ceni. Temos que evoluir e melhorar. Algumas têm passado perto, mas não é normal em um grupo dessa qualidade ficar tanto tempo sem marcar assim”, analisou.
Hoje, o Flamengo terá mais uma chance de voltar a balançar as redes em cobranças de falta, mas com o time alternativo. Com o elenco principal de férias, o rubro-negro joga no Maracanã, às 18h, contra o Macaé, pelo Carioca. Na partida, o grupo sub-23, reforçado por nomes como Michael, Hugo Moura e Pepê, terá a missão de repetir o feito que já deu tantas alegrias aos torcedores rubro-negros, como nos históricos gols marcados por Ronaldinho, por baixo da barreira contra o Santos, Petkovic, no tricampeonato carioca diante do Vasco, e Zico, no jogo de desempate que valeu o título da Libertadores de 1981 sobre o Cobreloa.
“Ensina os caras”
Maior ídolo da história do Flamengo, Zico é considerado por muitos como um dos maiores cobradores de faltas de todos os tempos. De acordo com o site goal.com, o Galinho marcou 101 gols de bola parada em jogos oficiais durante a carreira. O último vestindo a camisa rubro-negra, por exemplo, também foi desta forma. Em 2 de dezembro de 1989, ele balançou as redes na vitória sobre o Fluminense, por 5 x 0, no Brasileirão daquele ano. “Foi um dos tentos mais bonitos e uma das faltas mais bem batidas que tive a oportunidade de cobrar. Valeu também pela jogada individual que fiz e recebi a falta”, relembrou, ao ge.com, em 2009.
Na última quarta-feira, Zico completou 68 anos. Curiosamente, os torcedores voltaram a comemorar um gol de falta marcado por um atleta com a camisa 10 nas costas justamente no chamado “Natal rubro-negro”. O feito, porém, veio do time feminino. Pelo Campeonato Carioca, as Meninas da Gávea bateram o Botafogo, por 2 x 1, com direito à bola parada convertida pela capitã Ana Carla. Rapidamente, o feito inflamou os flamenguistas e as redes sociais do clube foram inundadas com comentários como “ensina os caras”, “só as meninas mesmo para fazerem” e “no masculino não tem isso”.
Detalhes dos mil dias
Jogos disputados no período (por temporada)
2018: 33 jogos
2019: 76 jogos
2020: 70 jogos
2021: 1 jogo
180 sem marcar um gol de falta
Gols marcados no período (por temporada)
2018: 43 gols
2019: 153 gols
2020: 131 gols
2021: 1 gol
328 marcados desde o
último de falta