Futebol

Jejum: Flamengo completa mil dias sem marcar gols em cobranças de falta

Flamengo contraria a tradição de excelência das eras Zico, Júnior e Petkovic nas cobranças de bola parada, que inspiraram até música de Jorge Ben Jor, e amarga jejum de quase três anos sem acertar o alvo

Destaques no aproveitamento de bolas paradas da história do Flamengo, Zico, Petkovic, Ronaldinho Gaúcho, Júnior e tantos outros devem sentir calafrios com a marca negativa atingida pelo rubro-negro no fundamento. O time que motivou até uma música, composta para exaltar talento do maior ídolo do clube no quesito, está completando, neste sábado (6/3), mil dias do último gol de cobrança de falta, maior jejum entre os times da Série A do Campeonato Brasileiro. Na canção, Jorge Ben Jor canta a letalidade das batidas de Zico. “É falta na entrada da área / Adivinha quem vai bater? / É o camisa 10 da Gávea / Chuta que é gol! Capricha e chuta que é, vá…”, diz um trecho.

Atualmente, a confiança dos rubro-negros nas cobranças de falta está longe de ser a mesma poetizada nas estrofes. O último gol marcado assim pelo Flamengo ocorreu em 10 de junho de 2018. Na vitória sobre o Paraná, por 2 x 0, Diego foi derrubado na entrada da área. Na cobrança, com um toque de sorte, o camisa 10 contou com um desvio na barreira para tirar o goleiro Thiago Rodrigues do lance. “Tive a sensação que peguei bem na bola. Não sei se entraria sem o desvio, mas o importante é que entrou”, analisou o capitão rubro-negro, à época. De lá para cá, porém, ninguém teve a competência para repetir o feito.

Passaram-se mil dias corridos. No espaço de tempo após o gol contra o Paraná, o Flamengo jogou 180 partidas divididas por quatro temporadas — 2018, 2019, 2020 e 2021 — e marcou 328 gols das mais variadas formas: de perna esquerda, de direita, de cabeça, de bicicleta, de fora da área, de cobertura, de pênalti, bonitos, feios… o amplo repertório do período, um dois mais vitoriosos da história do clube com as conquistas de sete taças, entre eles a Libertadores e dois títulos em sequência do Campeonato Brasileiro, só não incluiu bolas na rede através de cobranças de falta.

Em entrevista, na última segunda-feira, para o programa Bem, Amigos, do canal SporTV, Diego reconheceu o incômodo causado pela escassez de gols de falta no elenco. “É algo que precisamos melhorar, ainda mais no nível que estamos hoje. A bola parada faz a diferença em jogos fechados. Os batedores são o Everton Ribeiro, o Arrascaeta, o Vitinho e eu. Falamos sobre isso. Os outros jogadores também cobram. Eu já fiquei depois de alguns treinos com o Rogério Ceni. Temos que evoluir e melhorar. Algumas têm passado perto, mas não é normal em um grupo dessa qualidade ficar tanto tempo sem marcar assim”, analisou.

Hoje, o Flamengo terá mais uma chance de voltar a balançar as redes em cobranças de falta, mas com o time alternativo. Com o elenco principal de férias, o rubro-negro joga no Maracanã, às 18h, contra o Macaé, pelo Carioca. Na partida, o grupo sub-23, reforçado por nomes como Michael, Hugo Moura e Pepê, terá a missão de repetir o feito que já deu tantas alegrias aos torcedores rubro-negros, como nos históricos gols marcados por Ronaldinho, por baixo da barreira contra o Santos, Petkovic, no tricampeonato carioca diante do Vasco, e Zico, no jogo de desempate que valeu o título da Libertadores de 1981 sobre o Cobreloa.

“Ensina os caras”

Maior ídolo da história do Flamengo, Zico é considerado por muitos como um dos maiores cobradores de faltas de todos os tempos. De acordo com o site goal.com, o Galinho marcou 101 gols de bola parada em jogos oficiais durante a carreira. O último vestindo a camisa rubro-negra, por exemplo, também foi desta forma. Em 2 de dezembro de 1989, ele balançou as redes na vitória sobre o Fluminense, por 5 x 0, no Brasileirão daquele ano. “Foi um dos tentos mais bonitos e uma das faltas mais bem batidas que tive a oportunidade de cobrar. Valeu também pela jogada individual que fiz e recebi a falta”, relembrou, ao ge.com, em 2009.

Na última quarta-feira, Zico completou 68 anos. Curiosamente, os torcedores voltaram a comemorar um gol de falta marcado por um atleta com a camisa 10 nas costas justamente no chamado “Natal rubro-negro”. O feito, porém, veio do time feminino. Pelo Campeonato Carioca, as Meninas da Gávea bateram o Botafogo, por 2 x 1, com direito à bola parada convertida pela capitã Ana Carla. Rapidamente, o feito inflamou os flamenguistas e as redes sociais do clube foram inundadas com comentários como “ensina os caras”, “só as meninas mesmo para fazerem” e “no masculino não tem isso”.