A primeira temporada de Hugo Souza no Flamengo foi uma montanha-russa. Em cinco meses, o camisa 45 saiu do posto de quarto goleiro e assumiu a meta do time carioca. Vestiu a capa de herói rubro-negro no momento mais delicado do ano, mas também a carapuça de vilão em partidas fatídicas do ano flamenguista. Na última rodada do Campeonato Brasileiro, novamente comprometeu em momento decisivo. Por fim, saiu de campo como o segundo arqueiro revelado no Ninho do Urubu a conquistar a taça como titular, ciente de que ainda há muito para evoluir no caminho.
Ao colocar a medalha no peito, Hugo Souza igualou o feito de um ídolo rubro-negro. Nas sete conquistas anteriores do clube, Zé Carlos era o único prata da casa a conquistar o Brasileirão debaixo das traves do Flamengo. Após dar os primeiros passos na Gávea, o arqueiro saiu por empréstimo e rodou por Americano-RJ e Rio Branco-ES antes de retornar em 1984. Ficou no banco nas primeiras temporadas e assumiu a titularidade em 1987, sendo nome fundamental na trajetória até o título da Copa União. Demais campeões com a camisa 1, Raul Plassmann, Gilmar, Bruno e Diego Alves iniciaram as carreiras com outras cores.
Aos 22 anos, Hugo Souza quebrou outra marca de Zé Carlos e se tornou o mais novo da posição a ser campeão brasileiro. Em 1987, o titular tinha três anos a mais. Na noite da consagração, porém, o goleiro viveu uma noite de pesadelo. Ao falhar nos dois gols da derrota, por 2 x 1, para o São Paulo, se viu como potencial candidato a vilão. Com o tropeço do Internacional contra o Corinthians, tirou um peso das costas. “Triste pela falha, óbvio, perdão à Nação. Jogo como esse não pode falhar. Foi uma temporada complicada, mas superamos e, hoje, somos bicampeões brasileiros”, disse, com semblante de alívio, ao fim do jogo.
A preocupação de Hugo era justificada, também, por outros erros importantes, como na eliminação da Copa do Brasil diante do próprio Tricolor. Na ocasião, tentou driblar Brenner em bola recuada e sofreu o gol. Com a confiança minada, se complicou outras vezes. Porém, internamente, sempre foi visto como nome ideal para suprir a ausência de Diego Alves. Com as sucessivas lesões do dono da posição, foi o goleiro mais utilizado durante a campanha do bicampeonato. Ao todo, defendeu a meta do time em 23 rodadas e se destacou em momentos importantes.
No primeiro deles, contra o Palmeiras, em 27 de setembro, entrou no gol devido ao surto de covid-19 no elenco do Flamengo. Segurou o empate, por 1 x 1, e ganhou os holofotes pela primeira vez. Com outras boas atuações, teve o contrato renovado até 2025.
“Realizei meu sonho de ser campeão pelo Flamengo. Eu era o quarto goleiro. Estou há 12 anos no clube, lutei por isso e conquistei o Brasil”, vibrou. No balanço do primeiro ano como profissional, Hugo teve motivos para vibrar e refletir. Marcado na história do Flamengo, bateu marcas de nomes importantes e atravessou, como poucos, a tênue linha entre o céu e o inferno rubro-negro. Na lembrança da torcida, porém, tem tudo para ser visto como nome que deu o ponto necessário para o bicampeonato. “O Flamengo é gigante e para estar aqui tem que ser gigante também”, vibrou.