Em um ano e meio tudo pode mudar na vida de um técnico de futebol. Protagonistas da possível decisão do Campeonato Brasileiro, hoje, às 16h, no Maracanã, Rogério Ceni e Abel Braga comandaram o Cruzeiro na via crúcis do clube mineiro na Série A de 2019. Eles dois e Adilson Batista tiveram menos responsabilidade do que Mano Menezes, mas foram sócios do rebaixamento inédito do time celeste. Não evitaram a queda. A menos que haja uma reviravolta capaz de beneficiar o São Paulo, Ceni ou Abel conquistarão o título. O Inter levará a taça em caso de vitória. O Flamengo precisa vencer ou empatar para manter o suspense até quinta-feira.
O fracasso no Cruzeiro e o sucesso a frente de Flamengo e Internacional, respectivamente, diz muito sobre a necessidade de um bom ambiente de trabalho para o sucesso. Ceni e Abel assumiram a missão de evitar o rebaixamento em péssimo momento. O Cruzeiro estava imerso na crise e atrapalhou a sequência do trabalho.
Em 2019, Rogério Ceni esperava virar o jogo na semifinal da Copa do Brasil contra o Inter, de Odair Hellmann, e decidir o título. Foi eliminado pelo Colorado e restou a briga contra o rebaixamento na Série A. Minado por parte do elenco, especialmente Thiago Neves, e sem o respaldo da diretoria, deixou o cargo com duas vitórias em oito partidas. Aproveitamento de 33%.
O sucessor de Rogério Ceni foi justamente Abel Braga. O pecado dele na passagem pelo Cruzeiro foi ter acumulado muitos empates — oito em 14 jogos. Venceu três partidas e perdeu outras três. Teve aproveitamento pouco superior ao do antecessor, com 40%. Abel entregou um Cruzeiro à beira do precipício ao sucessor Adilson Batista, outro sócio do rebaixamento celeste.
Juntos, Mano Menezes, Rogério Ceni, Abel Braga e Adilson Batista têm parcelas — uns mais, outros menos — no rebaixamento do Cruzeiro. Um ano e meio depois do calvário celeste, Mano e Adilson estão desempregados; e Abel e Ceni são os favoritos ao título brasileiro.
O ex-zagueiro deu a cara dele ao Internacional depois da saída de Eduardo Coudet. Investiu, principalmente, nos meninos campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior no ano passado contra o Grêmio. São os casos do volante Bruno Praxedes e do atacante Caio Vidal.
Rogério Ceni fez seus ajustes no elenco mais caro do país. Inspirado no colombiano Juan Carlos Osorio, técnico dele no São Paulo, em 2015, levou Willian Arão para a zaga do Flamengo, adicionou Diego ao time no papel de volante e resgatou alguns movimentos de 2019 na consagrada era Jesus.
Os insucessos de Abel e Ceni no Cruzeiro e os bons trabalhos no Internacional e no Flamengo, respectivamente, mostram que, em certos casos, avaliar um técnico pelo último trabalho pode ser injusto. Nem sempre a última impressão é a que fica.
Abel foi mal no Flamengo, Cruzeiro e Vasco, mas pode levar o Internacional ao tetra hoje, na casa do Flamengo. O clube gaúcho não ganha a Série A desde 1979. São 41 anos! Rogério Ceni fez ótimo trabalho no Fortaleza, não esteve bem no São Paulo e no Cruzeiro, mas tem chance de brindar o Flamengo com o bicampeonato em edições consecutivas, Isso não acontece desde a era Zico. A última dobradinha foi em 1982/1983.
Voltas por cima à parte, Ceni e Abel têm problemas a solucionar. Willian Arão fraturou um dedo do pé em um acidente doméstico e virou baixa de última hora. Com isso, a tendência é de que Gustavo Henrique seja seu substituto. O drama do Inter é maior. O capitão Victor Cuesta cumprirá suspensão. Zé Gabriel é o favorito para ser o parceiro de Lucas Ribeiro. A importância da partida ainda fará o Inter desembolsar R$ 1 milhão para contar com Rodinei. O lateral-direito pertence ao Flamengo e está emprestado até maio.