Aos 66 anos, 11 como técnico do mexicano Tigres, Ricardo Ferretti é uma espécie rara pela longevidade no cargo. A isso, soma-se a façanha de levar sua equipe à final do Mundial de Clubes da Fifa, amanhã, contra o Bayern de Munique. A estabilidade do “Alex Ferguson” ou “Arsène Wenger” do futebol mexicano atesta que a experiência e a continuidade podem ser um valor no futebol moderno.
No mundo em que a permanência de um treinador à frente de um time, às vezes, depende do resultado de seu próximo jogo, e em que projetos de curto prazo e a impaciência dos dirigentes muitas vezes restringem o trabalho dos treinadores, o brasileiro Ricardo Ferretti se estabeleceu com uma base sólida no clube San Nicolás de los Garza, onde se tornou uma instituição local.
Questionado, em 2015, por que jamais assumiu um time brasileiro, ele disparou: “Não tenho o menor interesse em ser treinador no Brasil. Não posso estar onde não se respeita o trabalho dos técnicos”, disparou à época, quando levou o Tigres à final da Libertadores contra o River Plate.
“Gosto de fazer o que faço. Este esporte é um dos mais bonitos do mundo e me sinto muito grato por pertencer a ele. Sinto-me muito grato por estar, desde que comecei como jogador até hoje, fazendo a mesma coisa há 53 anos”, confessa Ferretti, ex-jogador do Botafogo, Vasco, Bonsucesso e de vários clubes do México.
O salto de qualidade do Tigres na última década está cimentado em torno do brasileiro, que pode ter como ponto alto a conquista do título do Mundial de Clubes. A trajetória de “Tuca” Ferretti, nascido há 66 anos no Rio de Janeiro e assim apelidado, segundo ele mesmo, por ter sido ‘Tuca’ a primeira palavra que falou quando criança, reflete um progresso constante.
Se suas duas primeiras experiências como técnico do Tigres, entre 2000 e 2003, e alguns meses em 2006, terminaram sem dor e sem glória, desde seu retorno, em 2010, o clube Felino deixou de ser um time que lutava para não ser rebaixado para se tornar finalista de uma competição internacional.Desde então, ele não parou de elevar o nível do Tigres.
Ferretti venceu o campeonato mexicano cinco vezes, três vezes a Copa dos Campeões e a Copa do México 2014 com o time de Monterrey, além da Liga dos Campeões da Concacaf em 2020, após três derrotas na maior competição da América do Norte, Central e Caribe.
“Há 10 anos, essa equipe tem mostrado grande capacidade e nestas três finais que perdemos, como sempre, há circunstâncias que acontecem, até perdemos uma nos pênaltis quando tínhamos toda a vantagem. Mas o fato de ter vencido nos tira essa pressão desnecessária que sofremos e agora vamos tentar fazer um grande papel no Mundial de Clubes”, previu Ferretti antes do início do torneio organizado pela Fifa.
Tuca é o segundo treinador na história do futebol mexicano há mais tempo no comando de um time, atrás de Javier de la Torre — 13 anos à frente do Guadalajara. “Para mim, não é tedioso nem entediante, porque faço o que amo, porque futebol é minha paixão e no dia que eu não sentir isso 100%, vou me afastar”, avisa Ferretti, um treinador que ainda não passou uma temporada longe da função desde que se tornou técnico, em 1991.
Pumas, Guadalajara, Toluca, Morelia e a seleção do México foram comandados por um profissional impetuoso durante o jogo e, às vezes, também nas entrevistas, mas isso levou o Tigres a deixar de ser uma equipe que lutava contra o rebaixamento no campeonato nacional para, agora, decidir o título do Mundial de Clubes da Fifa.