O brasiliense Tiago Bezerra é um privilegiado. A dois anos da Copa, com jogo de abertura programado para 21 de novembro de 2022, no Al Bayt Stadium, em Al Khor, o atacante do Al-Sailiya, nascido em Sobradinho, pode se dar o luxo de passear pelo Catar sentindo o cheirinho de novo das instalações do país do Golfo Pérsico para a 22ª edição do megaevento da Fifa. Um dos destinos da moda na nação de 11.571km² — pouco mais da metade da área de Sergipe (21.910km²), o menor estado brasileiro — é a recém-construída Lusail. A cidade planejada em meio ao deserto para receber a final foi erguida do zero. Abriga o Lusail Stadium, com capacidade para 80 mil torcedores.
A primeira Copa no Oriente Médio terá oito arenas. Cinco estão prontas: Al Bayt Stadium, Education City Stadium, Al Rayyan Stadium, Khalifa International Stadium e Al Janoub Stadium. Os outros três estádios só não estão prontos devido aos efeitos colaterais da pandemia, mas a velocidade das obras prevê as entregas do Lusail Stadium, Ras Abu Aboud Stadium e Al Thumama em 2021. O primeiro estádio brasileiro inaugurado para a Copa de 2014 foi a Arena Castelão, em dezembro de 2012, ou seja, faltando um ano e meio para o início da competição.
Não há comparação entre as capacidades de investimento. Turbinado por gás natural e petróleo, o Catar é um dos países mais ricos do planeta no quesito PIB per capita — Produto Interno Bruto divido pelo número de habitantes. A projeção do Banco Mundial para o Catar em 2020 é R$ 126 mil, oito vezes mais do que a estimativa da instituição para o Brasil (R$ 15,4 mil).
Apelidada de cidade-fantasma quando começou a sair do papel, a cidade anfitriã da final já tem vida própria. Cerca de 45 mil operários colocaram o município de pé. Erguê-la teria custado
R$ 176 bilhões ao governo do emir Tamim bin Hamad. Do montante, R$ 3 bilhões aplicados no Lusail Stadium. O dobro do valor aplicado pelo Governo do Distrito Federal na construção do Mané Garrincha, a arena mais cara da Copa disputada no Brasil.
Tiago Bezerra mora na capital Doha, em um bairro chamado Pearl. É vizinho de Lusail. “Fica a cinco minutos”, conta. Encantado, o brasiliense está tentado a trocar de cidade. “A gente (família) quase foi para lá. Tem casas, apartamentos. Ainda não abriram a área da praia. Aqui, é tudo de outro mundo”, impressiona-se o jogador.
Sonho de consumo
A proximidade dos bairros permitiu a Tiago observar a evolução das obras no Lusail Stadium. “Cheguei aqui no Catar em janeiro de 2019. Vi a construção desde o início. Passo lá todo dia. Foi uma obra rápida. Falta só o acabamento”. Afinada com a cultura local, a arena tem um formato personalizado. Conta um pouco da história do país. O desenho faz referência a tigelas e vasos encontrados há séculos em todo o mundo árabe.
Com arenas lindas e modernas para todo lado, Tiago elege a predileta. “Por enquanto, o Al Bayt Stadium é o mais bonito. A arquitetura impressiona”. O estádio recebeu o nome em homenagem a um verso poético árabe: “bayt al shaar”, referência às tendas usadas pelos povos nômades do Catar e na região do Golfo Árabe.
Quer uma impressão de como o Catar pretende surpreender? O McDonad’s construiu uma réplica da tenda do Al Bayt Stadium, ao lado da arena, para receber os famintos frequentadores do estádio sede do jogo de abertura.
“Lusail fica a cinco minutos da minha casa. Quase fomos morar lá. Aqui, é tudo de outro mundo”
Tiago Bezerra, atacante brasiliense do Al-Sailiya, time da primeira divisão da Qatar Stars League, a liga nacional do país
28 dias
Tempo de duração da Copa 2022, de 21 de novembro a 18 de dezembro
55km
Maior distância entre os estádios do próximo Mundial. Estima-se que é possível ver três jogos em um dia
Sete perguntas para...
Rodrigo Tabata, meia brasileiro do Al Sadd e ex-jogador da
seleção nacional do Catar
Como imagina o Catar em 21 de novembro de 2022?
Muito lindo. Com uma estrutura incrível. A Copa vai ser na melhor época do ano aqui no Catar, com aquele frio gostoso à noite. O clima é esse no momento.
Lusail está 85% pronta. Você tem ido lá?
Sim. Tem bastante gente morando, tem restaurantes. Recentemente, uns amigos meus estavam aqui e os levei a Lusail. É pequeno, mas, ao mesmo tempo, gigante. Você anda uma hora e não termina. Até pouco tempo, ali era só deserto e água do Golfo. Aqui, eles não brincam em serviço (risos).
E o Lusail Stadium, palco da final. Qual é a maior ostentação possível?
Esse estádio será sensacional. Um multimilionário, por exemplo, pode ancorar no mar e ter acesso privativo direto ao estádio. Mas, isso é privilégio de alguns. A obra é gigante.
Fez o “test-drive” em alguma arena da Copa?
Treinamos no Al-Bayt e no Al-Rayann. Os dois são top. A tenda árabe (Al Bayt) é a mais linda (arena). Incrível. A velocidade com que eles constroem é sensacional. Sonham com uma Olimpíada aqui.
O que os astros da Copa vão curtir?
Os deslocamentos das seleções. Isso é fantástico. Vai ser rápido. Testamos isso aqui na Champions League da Ásia. A mobilidade impressiona. Ninguém fica muito tempo dentro do ônibus. Aí, no Brasil, o Catar demorou mais de duas horas para chegar ao Morumbi no jogo da Copa América (em 2019, contra a Colômbia).
Os embargos dos países vizinhos ainda atrapalham?
O Catar está produzindo alimentos para não depender. Você vai ao supermercado e já nota a diferença, encontra produtos nacionais.
Quais são os planos até a Copa?
Quero jogar até 2022 e fixar residência aqui. Minha mulher ama o Catar. Meus filhos estão adaptados. Foram alfabetizados em inglês, falam português e francês, que é uma opção de idioma aqui. Estamos adaptados.