Outubro é o mês dos reis do futebol. Para os súditos brasileiros, o oitentão Pelé, nascido no dia 23. Na opinião dos argentinos, respeitemos, Maradona. O aniversariante de hoje celebra 60 anos sete dias depois do brasileiro. A intersecção entre os melhores camisas 10 do mundo vai além do décimo mês do ano. Uma música composta e interpretada por Pelé resume bem a diversidade de opiniões sobre os dois gênios da bola.
Em 2005, Pelé foi entrevistado pelo apresentador Maradona no programa La Noche del 10. O Rei brasileiro dedilhou o violão e cantou um refrão em homenagem aos dois: "Quem sou eu, Maradona?/Quem é você?/Você quer ser eu/E eu quero ser você”.
Surpresa e emocionada, a plateia entrou no ritmo. Marcou a cadência com palmas ouvindo Pelé fazer mais um gol de placa ao minimizar a eterna discussão sobre quem é melhor:“Quem sou eu nesta vida?/Quem é você?/Você quer seu eu/E eu quero ser você/Não discuto mais a vida/Já não quero nem saber/O que é certo para mim/Pode ser errado pra você”.
A música termina assim... “O dinheiro que eu juntei/Não pagou a minha entrada/Vou levando muito amor/Porque lá no céu não paga nada”, arrancando aplausos de Maradona.
Pelé é 20 anos mais velho do que Maradona. É possível dizer que, se algum tentou imitar alguém, foi o ídolo argentino. Foi assim, por exemplo, em 1989, no Rio. Quarenta e nove mil pagantes e mais uma legião de telespectadores ficaram hipnotizados com a trajetória da bola. Em um clássico contra o Uruguai, no velho Maracanã, o gênio ousou imitar Pelé. Chutou do meio de campo. O travessão da meta defendida pelo goleiro Zeoli impediu. Maradona de fazer o gol que Pelé inventou no Estádio Jalisco, em Guadalajara, na Copa de 1970. Os deuses do futebol devem ter considerado blasfêmia. Logo ali, no templo em que a Majestade eternizou, em 1969, o milésimo gol?
Aliás, mil gols, só Pelé, como diz aquele hit batido nas arquibancadas do país nos jogos da Seleção Brasileira. Os argentinos tapam os ouvidos. Para eles, óbvio, Pelé é Rei. Maradona, D10S. A coleção de glórias deixa claro o óbvio ululante: nosso 10 é superior ao dele. Hermanos de plantão esbravejam. Entretanto, Maradona não conquistou três Copas, duas Libertadores, duas Copas Intercontinentais — Mundial de Clubes da época.
Por falar na Copa, agradeçam a um senhor chamado César Menotti. O excelente, mas teimoso técnico, deixou Maradona fora da Copa de 1978. Diego poderia ter sido campeão mundial aos 17 anos. Exatamente como Pelé. Aplausos, também, para Brehme! O gol de pênalti do lateral alemão na final da Copa de 1990 impediu o bicampeonato da Argentina. O craque havia levado a seleção ao título em 1986 com exibições cinematográficas.
Em 1994, Maradona — não o Brasil — poderia ter empilhado o quarto título pessoal. A Argentina encantava, envolvia, arrancava suspiros na fase de grupos com aquele timaço de Maradona, Caniggia, Batistuta, Redondo... Admitamos: eles eram os favoritos da Copa até 25 de junho de 1994, quando um exame antidoping positivo tirou Maradona do Mundial. De mãos dadas com a enfermeira Sue Carpenter, o craque deixou o gramado do Foxboro Stadium rumo ao vestiário. Estava aberto o caminho para a quarta estrela do Brasil.
Maradona retornou à Copa em 2010, na África do Sul. Não alcançou as glórias de Pelé com a bola nos pés. Porém, ousou ir além: igualar Franz Beckenbauer, Mário Jorge Lobo Zagallo e Didier Deschamps com a prancheta nas mãos. Almejava ser mais um campeão mundial como jogador e técnico. Certamente, alfinetaria o Rei. Diria que Pelé jamais teve coragem de ser técnico da Seleção Brasileira.
Os deuses da bola sabem o que fazem. O agora sessentão Maradona está na prateleira dos quatro técnicos que não conseguiram levar Lionel Messi ao título da Copa: José Pékerman (2006), Maradona (2010), Alejandro Sabella (2014) e Jorge Sampaoli (2018). Messi terá mais uma chance de igualar-se a Maradona na Copa do Mundo do Qatar-2022.
Enquanto isso, o Rei Pelé segue cantarolando: (...) "Quem sou eu, Maradona?/Quem é você?/Você quer ser eu/E eu quero ser você”.
Gols, charuto e night no DF
Sessentão como Brasília, Maradona só jogou na capital uma vez: 18 de fevereiro de 2005. Foi atração do Showbol, no Nilson Nelson. Argentina venceu o Brasil, de Bebeto e Dunga, de virada: 8 x 4. El Diez fez dois gols.
Mas, o assunto na capital era a noite da véspera, no Kubitschek Plaza, contada à época pelo Correio. Hospedado na Suíte Diamante, D10S usou o bar da piscina até 3h30. Pagou R$ 120 por 20 latas de energético para misturar com uísque. Ele e amigos dançaram em cima das cadeiras. Hóspededes reclamaram. A farra seguiu na suíte e só acabou às 5h30.
Atencioso com os fãs no hotel, Maradona tragou charutos, posou para fotos, deu autógrafos e recusou encontro com o então presidente reeleito Lula: “Eu vim aqui para jogar futebol”.
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