Os protestos políticos e sociais dos últimos meses ganharam evidência também no meio esportivo, seja nas principais ligas de basquete do mundo, como a NBA e a WNBA; na Fórmula 1 ou no futebol. No último domingo, uma manifestação política chegou ao vôlei de praia brasileiro. A jogadora Carol Solberg gritou um “Fora Bolsonaro” em entrevista que estava sendo transmitida ao vivo pelo SporTV durante o Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia. A atitude foi repreendida pela Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) e pela Comissão Nacional de Atletas da entidade. Ambas afirmaram não serem favoráveis a “nenhum tipo de manifestação de cunho político em competições esportivas”.
De um lado, atletas e personalidades não acreditam que a quadra de areia seja o lugar adequado para manifestações de cunho político ou social. A Comissão Nacional de Atletas ressaltou que “lutará ao máximo para que este tipo de situação não aconteça novamente”, em nota assinada, respectivamente, pelo presidente e o vice-presidente da comissão, Emanoel Rego e Harley Marques, e pelos membros Josi Alves, Bárbara Seixas e Oscar Brandão. Na mesma linha, a CBV destacou que “tomará todas as medidas cabíveis para que fatos como esses, que denigrem a imagem do esporte, não voltem mais a ser praticados”. Questionada pelo Correio, a entidade não esclareceu quais seriam essas medidas.
Na internet, as pessoas que desaprovaram a atitude tentaram impulsionar um coro pelo fim do incentivo do Banco do Brasil à jogadora. Desde 1991, a estatal é patrocinadora da CBV, que organiza a competição e estampa a marca nos uniformes, que são de uso obrigatório pelos competidores nas partidas. Carol Solberg não recebe patrocínio direto do banco. Ela ganha o patrocínio pessoal do isotônico natural e orgânico Jungle, diferentemente da atual parceira, Talita, que é sargento do Exército e recebe Bolsa Atleta.
Apoio
Do outro lado, a hashtag #VaiCarol se espalhou como manifesto de apoio à jogadora e à liberdade de expressão. “Parabéns Carol!! Seu grito é nosso também!”, publicou a ex-jogadora e ex-treinadora de vôlei Isabel Salgado, mãe da atleta e uma das responsáveis por encabeçar o movimento Esporte pela Democracia, ao lado do ex-jogador de futebol e atual comentarista Walter Casagrande. Os dois compartilharam a mensagem do grupo: “Nós, do movimento Esporte pela Democracia, treplicamos aqui de maneira singela: a única medida cabível à CBV é seu silêncio em respeito à liberdade de expressão”.
A advogada Daniela Teixeira explica que transmissões de eventos esportivos costumam ser totalmente regulamentadas, com acordos assinados entre os participantes e os órgãos ou empresas envolvidas. Então, caso Carol tenha assinado algum termo que explicitasse a proibição de manifestação de cunho político, ela teria descumprido uma norma e poderia ser punida contratualmente por isso, sem poder alegar liberdade de expressão.
“Agora, criminalmente, ela não pode sofrer nenhum tipo de punição, pois a liberdade de expressão dela é garantida pela Constituição”, esclarece a advogada. “Mas, no mundo inteiro, os atletas sempre fazem manifestações políticas. Recentemente, jogadores da NBA se recusaram a jogar em protesto à violência policial contra negros. Isso acontece desde as Olimpíadas do Hitler. Acho que é do jogo”, opina Daniela Teixeira.
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