Nem só de Neymar, Thiago Silva, Marquinhos, Philippe Coutinho, Marcelo e Bruno Guimarães viverá o futebol tupiniquim nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa. Há um pouquinho de Brasil, iá, iá, também nos bastidores após o triunfo do Lyon por 3 x 1 sobre o Manchester City, ontem, no Estádio da Luz, em Lisboa. Um gol de Comet e dois de Dembele despacharam a badadala trupe de Pep Guardiola. De Bruyne marcou para o time inglês. O Lyon terá direito à revanche com o Bayern nas semifinais. Caiu nesta fase contra os alemães em 2010.
Os ex-jogadores Leonardo e Juninho Pernambucano buscam o título atuando fora das quatro linhas como dirigentes dos franceses Paris Saint-Germain e Lyon, respectivamente. Ambos precisaram ter jogo de cintura para sobreviver no cargo e desembarcar em Portugal para os 12 dias que apontarão o campeão europeu de 2020.
Diretor de futebol do PSG pela segunda vez, Leonardo colocou em prática diplomacia e, até certo ponto, jogo político para não deixar o barril de pólvora do badalado clube francês explodir. O campeão da Copa do Mundo de 1994 tem moral com os proprietários do time. Homem de confiança do presidente Nasser al-Khelaifi, conquistou acesso livre ao emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thani. Ostenta incômodos superpoderes no time de Paris.
O primeiro desafio de Leonardo na volta ao clube foi domar as birras de Neymar. O jogador quis deixar o clube no início da temporada. Barcelona e Real Madrid surgiram como possíveis destinos do jogador contratado por 222 milhões de euros — o mais caro da história do futebol. O “vai ou fica” desgastou o relacionamento de Leonardo com Neymar pai e Neymar filho.
A corda também esticou por conta das críticas de Leonardo à festa de aniversário do craque, em fevereiro, e ao possível veto do dirigente à escalação do jogador contra o Borussia Dortmund, no jogo de ida das oitavas da Champions Legue, quando ele estava recuperado de lesão. No fim, o jogador participou da partida na Alemanha.
Há relatos de desgastes com outros figurões, como o zagueiro Thiago Silva, o centroavante uruguaio Cavani e Daniel Alves. O lateral deixou o clube no fim da temporada passada rumo ao São Paulo. Os três casos têm em comum a negativa de Leonardo para renovação dos contratos. Medalhões consideram Leonardo centralizador.
Guerra de vaidades à parte, Leonardo mostra resultados. Fundado em 12 de agosto de 1970, o PSG voltou às semifinais no dia em que comemorou 50 anos. A última presença entre os quatro candidatos ao título havia sido em 1994/1995. O time chegará ao duelo de terça-feira contra o Red Bull Leipzig embalado por quatro títulos nesta temporada: Supercopa da França, Campeonato Francês, Copa da França e Copa da Liga.
Juninho Pernambucano tem personalidade tão forte quanto a de Leonardo. O estilo catapultou o ex-jogador ao cargo de diretor esportivo do Lyon, clube pelo qual empilhou títulos nos tempos de meia. Heptacampeão da Ligue 1, hexa da Supercopa da França e campeão da Copa da França, Juninho teve moral para contratar Sylvinho. O ex-auxiliar de Tite na Seleção assumiu o comando do Lyon. A escolha não deu certo e o indicado foi demitido.
Sob o comando de Sylvinho, o Lyon amargou a pior largada da história em 24 anos. O brasileiro escalou o time em 11 partidas. Venceu três, empatou quatro e perdeu outras quatro. Com nove pontos em 33 disputados, igualou o desastroso início da temporada 1995/1996. Quando saiu, Sylvinho deixou o time em 14° lugar no Francês.
Sob pressão, Juninho deu tiro certo ao apontar Rudi Garcia para a sucessão de Sylvinho. Campeão nacional à frente do Lille em 2010/2011 e vice da Liga Europa pelo Olympique de Marselha na temporada 2017/2018, o francês colocou o Lyon nos trilhos. O time concluiu a Ligue 1 em sétimo. Decidiu a Copa da Liga contra o PSG e perdeu nos pênaltis. Avançou na fase de grupos da Champions League e despachou a Juventus nas oitavas de final. Ontem, desbancou Pep Guardiola com imponente 3 x 1 com direito a algumas ajudas da arbitragem.
Outra sacada de Juninho Pernambucano foi a contratação de Bruno Guimarães. Símbolo do Athletico-PR nos títulos da Copa Sul-Americana 2018 e da Copa do Brasil 2019, o volante de 22 anos ocupou espaço na prancheta de Rudi Garcia como se fosse veterano.