A pandemia do novo coronavírus mudou completamente o dia a dia do estudante Henrique Takeshi. O adolescente de 17 anos, tão acostumado à rotina escolar de aulas presenciais, que o possibilitava um convívio mais próximo com colegas e professores, de repente teve de se adaptar ao novo normal: ensino a distância, quarentena e, o mais difícil de tudo, distanciamento dos amigos.
“Os amigos são a família que a gente escolhe. A falta desse contato pesou bastante, porque a gente deixa de aprender diversas coisas. A convivência com o próximo te ensina muito”, observa Henrique.
Estudantes no país inteiro enfrentam a mesma situação. As restrições sanitárias forçadas pela covid-19 deixaram os alunos longe do ambiente escolar, que é fundamental não apenas do ponto de vista do ensino formal, mas, também, para o desenvolvimento socioemocional de cada um deles.
A interação com colegas de classe e professores, explicam especialistas, influencia diretamente no comportamento dos estudantes e desempenha um papel crucial para que eles se mantenham saudáveis, seja fisicamente, seja psicologicamente.
Sendo assim, como a escola pode suprir esse vazio e ajudar os alunos a não se sentirem isolados por conta do confinamento? Para a professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Larissa Polejack, diretora de Atenção à Saúde da Comunidade Universitária, o mais recomendado é que os colégios proporcionem momentos de diálogo para os jovens.
“Grande parte do aprendizado perpassa o afeto. Quando eu me sinto pertencente e acolhido, é mais fácil me vincular ao aprender. Mesmo que esse encontro não possa acontecer presencialmente neste momento, a escola pode substituir isso com algum horário para conversas no ambiente virtual de ensino, ou aplicando trabalhos em que os alunos tenham esse sentimento de que estão construindo coisas juntos”, destaca Polejack.
A professora acredita que o momento deve ser de promover situações em que o foco da aula não seja o conteúdo, mas, sim, o bem-estar da classe. “As atividades ou a forma de avaliação não devem ser as coisas mais importantes agora. Os professores precisam estabelecer formas de manutenção de vínculos, como um espaço para troca e compartilhamento de experiências em meio à pandemia. Isso vai fazer a diferença nesse processo pedagógico.”
É o que tem acontecido com Henrique. Ele próprio tem buscado maneiras para manter o papo em dia com os amigos, mas também tem recebido o auxílio da escola. “Os professores têm promovido momentos lúdicos e escutado todos os alunos. Às vezes, eles deixam o conteúdo de lado para que todos possam discutir sobre do que mais sentem falta ou simplesmente conversar. Isso é muito bom. Ajuda a aliviar a pressão”, destaca.
Mãe do estudante, a servidora pública Fabiana Garcia, 40, também tem tido suporte. Quando não os professores, os orientadores educacionais da escola entram em contato com ela para saber sobre Henrique. “Tem acontecido com mais frequência do que antes. Tenho a impressão de que eles estão mais preocupados com as famílias e tentando ouvir cada uma. Afinal, tem sido um momento de adaptação para todos”, observa.
Dentro de casa, Fabiana diminuiu a cobrança por resultados e passou a escutar mais o filho, principalmente porque ele demorou a se acostumar com a situação. “Estamos aprendendo a ser mais tolerantes e compreensivos. Todos nós estamos ansiosos e preocupados, então, qualquer pressão a mais pode ser prejudicial. Por isso, estabelecemos uma rotina de estudos e de lazer. Foi fundamental para o Henrique adaptar-se a essa realidade.”
Conversa
O diálogo foi o principal aliado para que a estudante Gabriela Fontes, 13, se adaptasse às mudanças provocadas pela pandemia. “Com todos em casa o tempo todo, a interação em família até aumentou. Nossa receita tem sido bastante compreensão e conversa. Fazemos questão de deixar esse canal aberto”, conta o professor universitário Wagner Fontes, 57, pai da adolescente.
Além da conversa com os pais, Gabriela encontrou no contato virtual com os colegas e a comunidade escolar uma forma de se sentir bem. “No começo, foi difícil. Mas, hoje, sempre antes das aulas, os professores perguntam se estamos bem e nos pedem para preencher alguns formulários com as coisas que nós gostaríamos que melhorassem. Além disso, a interação com os colegas tem sido frequente e ajuda muito”, relata a adolescente.