Expectativa

Na reta final, estudantes contam como se preparam para fazer o Enem

Seis alunos de Brasília compartilham suas expectativas, medos e apostas sobre o exame

Priscila Crispi
postado em 29/10/2023 06:00 / atualizado em 29/10/2023 06:00
Mariana e Mateus: preparados para a prova  -  (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
Mariana e Mateus: preparados para a prova - (crédito: Ed Alves/CB/D.A Press)
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Seis estudantes, diferentes habilidades, muitas coisas em comum. Maria Eduarda Machado quer cursar direito ou ciência política; Mariana Alves, também. Júlia Torres e Mateus Reschke buscam uma vaga no curso de economia. Fernando Cavalcante quer psicologia, enquanto João Pedro Cunha pensa em fazer carreira na ciência da computação.

Os adolescentes passam pela prova de fogo que encerra um ciclo importante da vida escolar, a seleção para o ensino superior, e se preparam para enfrentar o Enem no próximo fim de semana. Todos buscam, como primeira opção, uma vaga na Universidade de Brasília, uma das melhores do país e que continua povoando os sonhos das novas gerações de estudantes da capital.

"Essa é uma fase da vida que é marcada por estresse, mas é boa. Nessa reta final, a parte mais difícil é segurar a barra das pressões. É a hora de a gente se provar, mostrar por que estudou tanto. Sempre vão ter outras oportunidades, mas o foco é agora", diz Mateus Reschke. Ele conta que o vestibulando tem que lidar com muitas expectativas familiares, mas a pior das pressões é a interna: "será que vou conseguir cumprir minha expectativa sobre meu desempenho? E se eu não conseguir, o que farei?".

 23/10/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil.  Brasilia - DF. Caderno especial Enem. Estudantes do colégio Sigma João Pedrio de Moraes e Maria Eduarda Assis.
João Pedro e Maria Eduarda vão optar por ciência da computação e direito, respectivamente (foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press)

João Pedro comenta que seu maior medo também é o de não ser aprovado: "Já passei esse ano todo investindo nisso, se não for dessa vez, vou ter que repetir o processo inteiro". Para ajudar a lidar com o sentimento, João faz terapia. "Desde fevereiro, eu só falo de vestibular com a terapeuta", brinca.

Quando a ansiedade aumenta, Mariana conta com os amigos para desabafar. "Nos últimos dias, a ansiedade está pegando muito, o coração fica apertado. Como tenho amigos que estão vivendo o mesmo, a gente se apoia."

Júlia tem, na família, seu ponto de apoio. Se não for aprovada de primeira, pretende fazer cursinho até conseguir a aprovação — os pais passam para a estudante a tranquilidade de continuar tentando. "Na minha casa, tenho minha irmã que estudou por cinco anos para medicina. Meus pais sempre apoiaram a nossa persistência. Eu estou com esperança, mas se não for dessa vez, estou bem com a ideia de recomeçar ano que vem."

A preparação para a prova introduz os meninos e meninas nas preocupações características da vida adulta sobre futuro e carreira, mas, ao final, eles ainda são adolescentes. "Estou estudando o dia todo, mas, no fim de semana, procuro só descansar e sair com meus amigos. Outubro teve halloween e eu aproveitei bastante minha vida de jovem", conta Fernando.

Apostas

Às vésperas do exame, os alunos passam horas discutindo com colegas e professores o que podem encontrar ao abrir a prova. Os palpites são embasados em edições anteriores do Enem e nas dicas dos educadores. "Acho que, em linguagens, vai cair muito sobre governos autoritários, ditadura, em função da mudança de governo que vivemos no Brasil. Mas acredito, principalmente, que vamos ter muitas imagens para serem analisadas. Isso é recorrente no Enem e ano passado não caiu muito, então pode vir neste ano", diz Mariana.

A garota lembra que os conflitos recentes entre Israel e Hamas, além da guerra na Ucrânia podem ser mencionados, relacionados a conteúdos de história como a Segunda Guerra Mundial e a Revolução Russa. "Na redação, estou chutando que venha algum tema sobre segurança alimentar, porque o Brasil voltou para o mapa da fome depois da pandemia; ou o uso de inteligência artificial, uma discussão que está na moda", afirma.

Júlia aposta no censo do IBGE, divulgado ano passado, para o tema da redação, uma vez que dados que revelam o contexto socioeconômico do Brasil são comumente abordados pela prova. "Em matemática, gosto muito de funções, e em humanas, gosto de geopolítica. Ficaria feliz se essas matérias caíssem", completa.

Estratégia

Além do conteúdo, Maria Eduarda vem revisando técnicas de resolução do exame: "A primeira coisa que faço é olhar o tema da redação e fazer um planejamento do texto, depois vou para a área de humanas, que é o que tenho mais facilidade, e então, linguagens, sempre intercalando com a redação."

Fernando segue a estratégia de, primeiramente, ler a prova inteira, enquanto marca as questões que lhe parecem fáceis e difíceis. "Aí retomo do começo, resolvendo as que marquei como fáceis, pensando na Teoria de Resposta ao Item. Se você acertar apenas as questões difíceis e errar as fáceis, a correção considera sua resposta como um chute, então tento me concentrar em acertar todas as fáceis", explica.

Amadurecimento

 05/10/2023 Crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press. Brasil. Brasília - DF - Cardeno especial do Enem. Alunos, Julia Genuino Torres e Fernando Veras M. Cavalcante, falam sobrea expectativa  da prova e o que tem feito para estudar.
Júlia e Fernando pretendem ingressar na UnB (foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Segundo Júlia, a preparação para o Enem a ensinou a controlar a ansiedade e a reconhecer os amigos verdadeiros. "Essa é uma fase em que a gente vai abrir mão da vida social para estudar, quem fica é porque está do seu lado mesmo", diz.

Para a colega, Maria Eduarda, estudar para o exame foi uma jornada de autoconhecimento: "Acho que a preparação para o Enem me ajudou bastante a entender o que gosto e o que tenho vocação para fazer, foi assim que escolhi meu curso. Sei que, na faculdade, vou ter que continuar me dedicando muito, então foi um aprendizado sobre como aprender, também."

Mais do que uma seleção, o Enem celebra uma mudança de fase para muitos estudantes. "Agora, a gente vê que está chegando ao final do processo e dá um sentimento de ansiedade para o futuro, mas também saudade antecipada da escola. Você pensa: tudo que eu vivi até hoje foi isso aqui, e agora tudo vai mudar. É hora de amadurecer", reflete Júlia.

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