principais competências

Empresas buscam equilíbrio

As competências socioemocionais ganham destaque em todos os setores do mercado. As organizações preferem abrir mão de algumas competências técnicas a contratar profissionais que não apresentem essas características

» MARIANA NIEDERAUER

O cenário de mudanças no mundo do trabalho, provocado, em parte, pela crise econômica, exige dos profissionais habilidades que vão além das técnicas. A motivação e flexibilidade de se adaptar a diferentes contextos e fazer tarefas diversas fazem parte de um grupo de características que são muito valorizadas pelas empresas, inclusive aquelas do setor industrial. Sem profissionais que saibam agir nessas situações, elas podem acumular perdas que afetam diretamente a produtividade.

Para Márcia Almström, diretora de Marketing e Recursos Humanos do ManpowerGroup, a demanda por profissionais com essas competências é crescente e mais forte do que no passado. Ela aponta dois motivos para isso. O primeiro tem a ver com as estruturas das organizações, que estão reduzidas e sofrem mais pressão por resultados. "Isso pede dos profissionais uma inteligência emocional maior", ressalta. A segunda razão é o fato de essas serem as competências que formam líderes. Ter empatia, estabelecer confiança nos relacionamentos sociais e saber lidar com gerações diferentes são características buscadas nesses trabalhadores.

A especialista relata que as organizações geralmente não abrem mão dessas competências, pelo contrário: quando precisam flexibilizar alguma exigência por não encontrarem profissionais com o perfil adequado, preferem relevar aquelas características que são mais fáceis de serem ensinadas. Márcia exemplifica: se uma organização pede entre as qualidades do recrutado capacidade de influência e conhecimento de um software, normalmente preferirá abrir mão desta última caso demore a encontrar a pessoa procurada. "No momento de escassez de mão de obra, o peso da competência comportamental acaba sendo maior", afirma.

As estratégias usadas por empresas de recrutamento ou áreas de recursos humanos das organizações para analisar a presença dessas competências são normalmente duas: por meio de entrevistas em que o profissional relate situações que viveu na trajetória profissional e como lidou com elas; ou durante dinâmicas de grupo. "Essas dinâmicas desafiam os profissionais em situações lúdicas e, ao participar dessas atividades, as pessoas demonstram o quanto têm facilidade naquela situação", explica Márcia.

Procura na indústria

A professora de gestão de pessoas da FGV Brasília Michelle Carvalho explica que essas habilidades são necessárias essencialmente na indústria, porque os processos de produção exigem interligação e entregas de várias áreas e departamentos. Por isso, é necessário o alinhamento de objetivos estratégicos e a boa comunicação entre colaboradores e gestores. Ela destaca que, sem planejamento e uma cultura orientada para a missão organizacional, é difícil fazer a gestão de indicadores e processos para que a tomada de decisão seja eficaz e eficiente.

"A competência é a combinação sinérgica de conhecimentos, habilidades e atitudes. Quando falamos de competências socioemocionais. Nem sempre só o conhecimento promove uma mudança", afirma a especialista. "Às vezes, as pessoas estudam e desenvolvem habilidades cognitivas, mas não têm habilidade de se relacionar. O trabalho em equipe visa o alcance de objetivos em comum, cabe aos profissionais e líderes desenvolverem competências relacionadas a inteligência emocional e resiliência", completa. Ter ciência dessa atribuição quando se está na liderança é fundamental. "Quando um líder não percebe a importância de seu papel como facilitador da aprendizagem ou menospreza o papel do outro, provavelmente terá uma perda de recursos financeiros, qualidade e capital intelectual intangíveis."

Márcia Almström, do ManpowerGroup, acrescenta que, entre os aspectos importantes da inteligência emocional, estão autocontrole e autoconhecimento, saber estabelecer empatia e automotivação para realizar e construir. Pesquisa feita pelo grupo mostrou que algumas das características da geração atual de jovens, os chamados millennials, influenciam esse cenário. Apesar de terem um compromisso muito forte com o próprio desenvolvimento, não têm entre os principais objetivos chegar a cargos de gestão (veja o quadro).

A competência é uma combinação sinérgica de conhecimentos, habilidades e atitudes. Quando falamos de competências socioemocionais, temos uma carga maior para essas duas últimas. Nem sempre só o conhecimento promove uma mudança"
Michelle Carvalho, professora de gestão de pessoas da FGV Brasília

Contexto
Ao se analisar a demanda crescente das empresas por profissionais com competências socioemocionais bem desenvolvidas, a gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, Simone André, lembra que é importante levar em consideração o contexto atual. "O mundo do trabalho no século 21 mudou completamente, ele é basicamente imaterial", afirma. "O profissional tem que ser entusiasmado, apaixonado pelo trabalho, motivado, colaborativo", completa, reforçando que as competências técnicas por si só não são suficientes.

"É um mundo novo, um cenário diferente, e a educação que tivemos não nos preparou para esse aspecto. Aliás, nenhuma dessas duas gerações tem sido de fato preparada no campo socioemocional", afirma Simone. Para ela, a maior diferença entre o século 20 e o 21 é que, hoje, há a necessidade de se fazer muito mais coisas em menos tempo. "Em última instância, desenvolver esse conjunto de competências tem um valor instrumental, que é importante na hora de tomar decisões."


Preparação
Confira os cinco aspectos das competências socioemocionais

Autoconhecimento
» O profissional precisa saber o que o motiva e fazer escolhas condizentes com quem ele é. A vida profissional precisa ser pautada por esses objetivos principais

Estabelecer objetivos
» A capacidade de estabelecer metas e persistir para alcançá-las é essencial. O trabalhador precisa se conhecer, ter um projeto de vida e planejar um caminho

Interagir
» Esse aspecto é muito valorizado no mundo do trabalho. Hoje, dificilmente se encontram carreiras trilhadas de forma individual. É preciso saber colaborar e atuar em conjunto com outros profissionais

Tomar decisões fundamentadas
» As decisões tomadas precisam ser coerentes com os valores e princípios do profissional. É necessário demonstrar motivação e seriedade

Abertura para novos desafios
» O profissional precisa ter a flexibilidade necessária para desempenhar um rol de atividades maior e para fazer mais com menos, diante de um cenário de orçamento reduzido e pressão por resultados

Fontes: Simone André e Márcia Almström

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