
O crescimento do comércio global está comprometido em 2025 devido às medidas protecionistas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Pelas novas projeções da Organização Mundial do Comércio (OMC), o intercâmbio comercial global de bens e serviços vai encolher 0,2% neste ano, em vez de avançar 2,7% como o esperado no início do ano pela entidade. O dado indica forte desaceleração em relação ao avanço de 2,9% nas trocas comerciais registrado em 2024. E, para 2026, a previsão OMC de expansão do comércio global recuou de 2,9% para 2,5%.
Apesar de, diante das ameaças de retaliação, Trump reduzir para 10% todas as tarifas de reciprocidade sobre produtos importados da maioria dos países, menos a China — maior exportador global e que foi taxada em 145% e retribuiu com um imposto de 125% sobre os produtos norte-americanos —, as novas estimativas da OMC não descartam um cenário pior ainda, com queda de até 1,5% no comércio global, caso o quadro se deteriorar mais e as tarifas de reciprocidade forem aplicadas integralmente.
O comércio de serviços, que não está diretamente sujeito ao tarifaço dos EUA — maior importador global — também será afetado devido ao aumento da incerteza global, que reduz os gastos discricionários com viagens e desacelera os serviços relacionados a investimentos. Com isso, a previsão da OMC é de que o volume global do comércio de serviços comerciais cresça 4%, em 2025, e 4,1%, em 2026 — bem abaixo das projeções iniciais de 5,1% e 4,8%, respectivamente, conforme as projeções da OMC divulgadas no último dia 16.
A América do Norte será a região mais afetada pela guerra tarifária, conforme os dados da OMC, com quedas de 12,6% nas exportações e recuo de 9,6% nas importações. E, pelas novas estimativas, o Produto Interno Bruto (PIB) global deverá crescer 2,2%, neste ano, e 2,4%, no ano que vem, abaixo das estimativas anteriores.
O economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria, reconhece que as projeções da OMC ainda podem piorar, pois há muita incerteza sobre as próximas decisões da Casa Branca, o que prejudica qualquer previsibilidade. Ele lembrou do tarifaço anterior dos EUA, de 1930, quando o então presidente norte-americano Herbert Hoover assinou a Lei Smoot-Hawley, que aumentou em 6,0 pontos percentuais as tarifas de importação e houve uma retaliação mundial.

"Como consequência, o comércio global encolheu 66% e essa medida não causou, mas acentuou os efeitos da Grande Depressão, que veio na sequência", destacou Maílson. O ex-ministro lembrou ainda que os percentuais das tarifas aplicadas por Trump são muito maiores do que naquela época.
Maílson classificou de "analfabetismo econômico" as decisões de Trump e alertou sobre o aumento das pressões inflacionárias nos EUA que vão pesar no bolso dos norte-americanos, de forma geral, porque "a China não vai ceder às pressões dos EUA" e a corda vai esticar e o custo das medidas deverá recair sobre o consumidor.
Aliás, quase 60% dos cidadãos norte-americanos são contra o tarifaço de Trump, e a desaprovação do presidente dos EUA está aumentando em várias categorias das pesquisas locais, lembrou Eduardo Velho, economista-chefe da Equador Investimentos.
"Trump já está buscando desviar o foco, porque a economia está dando sinais de piora", destacou Velho, em referência aos recentes ataques do republicano a Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), cogitando a sua demissão do cargo, o que vem provocando bastante volatilidade nos mercados. Ao que tudo indica, a Casa Branca pode tentar um instrumento jurídico junto à Suprema Corte para poder trocar os presidentes de agências federais e incluir o Fed. Mas vale lembrar que Powell foi indicado por Trump para o cargo em 2018.
Para Maílson, não há a menor chance de Powell ser demitido por Trump. "Um ponto pacífico nos Estados Unidos é que o Fed é independente por lei e não pode ser demitido por vontade do presidente da vez", afirmou. "Mas, se Powell sair é outro desastre. Seria uma catástrofe para a credibilidade das instituições norte-americanas", afirmou.
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