CÂMBIO

Dólar volta a subir e fecha a R$ 5,73, com exterior de olho em tarifas de Trump

Os negócios no mercado local foram guiados predominantemente pelo ambiente externo, marcado por fortalecimento da moeda americana, embora analistas tenham identificado uma volta do desconforto com o quadro político e fiscal doméstico

Apesar da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, o que sustentou o Ibovespa em terreno positivo, investidores voltaram a recompor posições defensivas em dólar -  (crédito: Alexander Grey Unsplash)
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Apesar da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, o que sustentou o Ibovespa em terreno positivo, investidores voltaram a recompor posições defensivas em dólar - (crédito: Alexander Grey Unsplash)

Depois da queda de 0,75% na terça-feira, 25, quando chegou a esboçar fechamento abaixo da linha de R$ 5,70, o dólar voltou a subir nesta quarta-feira, 26, e terminou o dia na casa de R$ 5,73. Os negócios no mercado local foram guiados predominantemente pelo ambiente externo, marcado por fortalecimento da moeda americana, embora analistas tenham identificado uma volta do desconforto com o quadro político e fiscal doméstico.

Apesar da alta de commodities como minério de ferro e petróleo, o que sustentou o Ibovespa em terreno positivo, investidores voltaram a recompor posições defensivas em dólar. Houve vários rumores sobre os próximos passos da política comercial norte-americana em meio à contagem regressiva pelo anúncio das chamadas tarifas recíprocas pela administração Donald Trump, em 2 de abril. Com o mercado de câmbio já fechado, Trump confirmou que vai anunciar nesta quarta novas tarifas sobre importação de automóveis.

"Estamos num momento de morde-e-assopra com essa questão das tarifas, com ondas de otimismo e pessimismo nos mercados, o que deixa o dólar mais volátil", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que, dado o nível de juro real brasileiro, a taxa de câmbio deveria estar em nível mais baixo. "Mas temos esses temores de aumento de medidas populistas do governo, o que têm atrapalhado o real."

Além das incertezas em torno da reforma da renda, em especial as dúvidas sobre as compensações para a perda de receita provocada pela isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil mensais, houve desconforto nos últimos dias com a demanda pelo chamado consignado privado.

Avalia-se que há uma incompatibilidade entre a tentativa do governo de estimular o consumo e o aperto monetário conduzido pelo Banco Central, que busca moderar a atividade para ancorar as expectativas de inflação.

Com máxima a R$ 5,7479 no início da tarde, o dólar encerrou a sessão em alta de 0,41%, cotado a R$ 5,7328, passando a apresentar valorização de 0,26% na semana. Após ter avançado 1,37% em fevereiro, a moeda americana recua 3,10% em março, o que leva as perdas acumuladas no ano para 7,24%.

Lá fora, termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY subia cerca de 0,40% no fim da tarde, ao redor dos 104,500 pontos, com máxima da sessão aos 104,630 pontos. As taxas dos Treasuries longos subiram.

Presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Minneapolis, Neel Kashkari pontuou nesta quarta que o ambiente de incertezas em meio à indefinição das tarifas americanas dificulta o manejo da política monetária. Já o presidente do Fed de St. Louis, Alberto Musalem, alertou que o BC americano pode ter que manter os juros mais altos por mais tempo a depender dos efeitos do "tarifaço", que ainda são incertos.

O economista André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferência internacional Remessa Online, vê a alta do dólar nesta quarta como um movimento natural de correção após a queda mais forte da terça, com investidores ainda tentando aquilatar os impactos das tarifas de Trump sobre a economia americana.

"Está chegando o grande anúncio das tarifas e o mercado passou a incorporar isso de forma mais intensa", afirma o consultor da Remessa Online. "A economia americana está, sim, desacelerando. O problema é avaliar a magnitude dessa desaceleração e o potencial das tarifas para alterar a dinâmica de preços nos EUA".

Por aqui, o BC informou que o fluxo cambial total em março (até o dia 24) está negativo em US$ 7,530 bilhões, em razão da saída líquida de US$ 7,676 bilhões. Pelo lado comercial, houve entrada líquida de US$ 146 milhões.

Operadores ressaltam que a apreciação do real no mês e no ano tem sido sustentada pelo desmonte de posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contratos, swap e cupom cambial) por parte dos investidores estrangeiros. Na terça, os não residentes reduziram essa posição em US$ 1,31 bilhão, para cerca de US$ 40 bilhões, menor nível desde junho de 2023.

Agência Estado
postado em 26/03/2025 21:37