
Em um contexto de juros altos e redefinição de alianças a nível global, a flexibilização da política restritiva sobre a venda de terras estrangeiras no agronegócio pode ser um bom caminho para o Brasil, na avaliação do diretor da LCA Consultoria Econômica Bráulio Borges. Para o especialista, a conjuntura recente traz oportunidades ao país, embora seja necessário considerar os ricos.
“A gente está em um ambiente de juro alto e a gente conviveu de 2010 até meados de 2023 com juro baixo lá fora. Era mais fácil alocar capital, investidor estrangeiro aceitava mais risco. Hoje, o patamar de juro cobrado, por exemplo, nos EUA, está em torno de 4,5% a 5% no papel longo”, explicou o diretor, nesta terça-feira (25/3), durante o evento CB.Fórum: O cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro, realizado pelo Correio Braziliense.
“Então, hoje, existe muito mais seletividade para escolher capitais, mas por outro lado, aparentemente, os EUA estão querendo expulsar muito capital da economia norte-americana e, obviamente, o Brasil aparece como um candidato a receber uma parte desses recursos que vão acabar saindo dos EUA”, completou Borges.
O diretor ressaltou que o Brasil tem uma economia deficitária, com uma baixa taxa de poupança doméstica, o que gera uma necessidade de atrair recursos de outros países. “Todos os anos a gente tem que buscar de 2% a 2,5% do PIB de financiamento externo”, disse.
Nos anos 1990, uma das opções adotadas pelo Brasil para manter capital estrangeiro dentro do país foi apelar para juros exorbitantes, que chegavam a 40% na taxa real. Para o especialista, a prática equivale a “vender o almoço para comprar o jantar”. “Isso não é sustentável, o capital é volátil, aí qualquer instabilidade lá fora, esse capital pode ser instantaneamente. Então, o ideal seria a gente financiar esse deficit de 2% a 2,5% do PIB com capitais de médio a longo prazo”, avaliou.
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Diante disso, Borges considerou determinados cenários hipotéticos para o futuro, em caso de flexibilização ou de restrição ainda maior da abertura para investimento estrangeiro em terras brasileiras. Em um dos resultados, o diretor afirmou que a cada 1% do PIB a mais de investimento estrangeiro direto no país, há um crescimento adicional de 3% na economia nacional.
Em um cenário realista, ele considera que o Brasil pode garantir um incremento de R$ 88 bilhões no PIB em apenas um ano e meio. Já em uma avaliação mais otimista, esse crescimento poderia ultrapassar os R$ 400 bilhões em recursos adicionais para o país.
“Precisamos do investimento direto para financiar o nosso desenvolvimento econômico. Esse investimento precisa de ter rentabilidade, que passa não só pela rentabilidade puramente financeira de cada projeto, mas também pelo chamado ‘Custo Brasil’, que é internalizado na conta, a insegurança jurídica, a instabilidade econômica, tudo isso é internalizado em uma conta de rentabilidade esperada quando o investidor estrangeiro vem trazer capitais para o Brasil”, considerou o diretor.