
Embora o Brasil seja o maior player ambiental do mundo, precisa assumir uma posição de protagonismo e inovação na área para conseguir ampliar seus negócios com o resto do mundo, especialmente com a Europa. É a avaliação do ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), que participou nesta terça-feira (25/3) do CB.Fórum: Cenário dos investimentos estrangeiros no agronegócio brasileiro.
Para Jucá, o país precisa superar a ideia de que a sustentabilidade consiste apenas na preservação ambiental e trabalhar para promover o equilíbrio econômico.
“Nós estamos, infelizmente, em uma linha ambiental antiga, ultrapassada. Sustentação ambiental hoje não é preservação. Sustentação ambiental hoje é equilíbrio econômico. Só haverá sustentabilidade havendo equilíbrio econômico. Só haverá sustentabilidade sendo um bom negócio salvar o planeta. Eu digo sempre que o melhor negócio para o futuro será salvar o planeta”, enfatizou Jucá.
“Cabe ao Brasil dar esse novo foco. Como nós somos o maior player mundial, nós temos que ditar essa relação econômica e não sendo punidos ou cobrados por conta do que a gente deixa de fazer. Nós temos que tomar a frente nisso tudo. Embora o Brasil seja o maior player ambiental do mundo, não comanda as regras de atestação de florestas, de como deve ser feito o cálculo da composição para o crédito de carbono e a questão das terras que é algo extremamente sério”, reforçou.
Mudança geopolítica
Para Jucá, o Brasil precisa aproveitar a mudança na postura do governo norte-americano em relação às exigências ambientais. O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos), vai contra o que defendia seu antecessor, Joe Biden (Democratas), e já sinalizou que os EUA não vão priorizar a sustentabilidade ambiental em seus negócios.
Um exemplo foi o anúncio da saída do acordo de Paris, anunciada por Trump na mesma semana em que assumiu o cargo, em janeiro. Na visão de Jucá, a mudança coloca a Europa em posição estratégica, já que os europeus continuam a exigir que os países de quem compra tenham compromisso com a economia verde e com a preservação ambiental.
Siga o canal do Correio no WhatsApp e receba as principais notícias do dia no seu celular
“O grande consumidor da exportação brasileira é a China. (...) O segundo mercado é a Europa. Já que os Estados Unidos não vão exercer essa cobrança da sustentabilidade, salvação do planeta, meio ambiente e tudo mais, na verdade acho que esse papel será exercido pela Europa. Porque a Ásia também não vai cobrar isso, não está no rol de prioridades da Ásia”, afirmou.
Terras indígenas
O ex-senador também falou sobre a demarcação de terras indígenas, que considera “bastante expressiva” para a quantidade de indígenas no Brasil. Segundo dados do MapBiomas, cerca de 13% do território brasileiro é reservado para os povos indígenas, que são 1,7 milhão, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para Jucá, o país deveria discutir expandir a compensação de carbono para áreas indígenas a fim de atender às exigências ambientais da Europa.
“A nova legislação do crédito de carbono prevê a compensação de carbono inclusive em áreas públicas. Então fica aqui a provocação: por que por exemplo para a produção que vai ser comercializada para a Europa a gente não compensa a emissão dessa produção em contrapartida com áreas indígenas demarcadas que são áreas da União, áreas públicas?”, questionou Jucá.
“Isso faria, a grosso modo, com que toda a produção agrícola brasileira exportada para a Europa pudesse ser compensada carbono zero sem emissão e compensação de áreas em tese levantadas ou não que foram desmatadas”, sugeriu.