Consumo

1,5 milhão de CLTs pediram consignados em apenas um dia

No primeiro dia do programa Crédito ao Trabalhador, nova modalidade de empréstimo consignado privado, que promete juros mais baixos, houve congestionamento na plataforma e queixas nas redes sociais

A taxa de desemprego no Brasil saiu de 6,2% para 6,5% no trimestre -  (crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil)
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A taxa de desemprego no Brasil saiu de 6,2% para 6,5% no trimestre - (crédito: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

A estreia, na sexta-feira (21/3), da nova modalidade de crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada, batizada de Crédito do Trabalhador, foi marcada por intensa procura. Segundo os dados do Dataprev, em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), foram feitas mais de 15 milhões de simulações de empréstimos. Houve cerca de 1,5 milhão de pedidos de propostas e cerca de 1.494 contratos foram firmados.

Lançado pelo governo federal neste mês, a modalidade permite que os empregados do setor privado contratem empréstimos com juros mais baixos, usando até 10% do saldo do FGTS ou a multa rescisória como garantia. A alta procura no primeiro dia de funcionamento indica o interesse dos trabalhadores em acessar crédito com taxas reduzidas. No entanto, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, recomendou cautela ao contratar esse tipo de financiamento, alertando sobre o risco de endividamento excessivo.

Ele também alerta que empregados não poderão comprometer mais de 35% do seu salário para pagar as prestações do consignado, alerta o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho. Taxa atraente Segundo o governo federal, 47 milhões de trabalhadores formais podem ter acesso à nova linha de crédito, incluindo empregados domésticos, rurais e contratados por microempreendedores individuais (MEIs). Com a demanda expressiva no primeiro dia, a expectativa do governo é que o novo crédito consignado se torne uma opção amplamente utilizada pelos trabalhadores brasileiros. O principal atrativo é a baixa taxa de juros que, segundo o ministro Fazenda, Fernando Haddad, pode se reduzir em cerca de 40% do que é cobrado no consignado privado atual, que é de 5% ao mês.

Para o economista e sociólogo Vinicius do Carmo, um dos principais desafios para tornar o crédito mais acessível e barato no Brasil é a limitação das garantias tradicionalmente aceitas pelo mercado financeiro. “O novo programa acerta, ao permitir o uso do FGTS e da multa rescisória como garantia para operações de crédito consignado, reduzindo a percepção de risco por parte dos bancos e possibilitando a oferta de taxas mais competitivas”, disse.

O economista ressalta que a redução do custo do crédito depende de dois fatores: aceitação de garantias amplas e burocracia reduzida. “Ao aceitar mais tipos de garantias, além da poupança, como no caso da renda do trabalhador ou FGTS, são diminuídos os riscos de empréstimo em comparação ao empréstimo sem garantias”, afirmou. “Além disso, a demonstração dessas garantias devem ser mais simples e acessíveis, reduzindo custos cartoriais e facilitando o crédito para grupos como MEIs. Ambas medidas são essenciais para reduzir o custo dos empréstimos e são os dois pontos que são atacados na nova política de crédito ao trabalhador”, completou.

Segundo o especialista em crédito, da Crédito Popular, Rubens Neto, a modalidade do crédito consignado da maneira que o governo instituiu para o trabalhador é bom, mas traz riscos. “O lado ruim é que se não souber como controlar essa liberação do crédito, pode aumentar o número de trabalhadores na informalidade. Porque ele pode contrair o empréstimo, não conseguir pagar, e abandonar o CLT, para não precisar honrar a dívida”, afirmou. “A dica que eu dou para esse trabalhador, na hora de contratar esse empréstimo, é preciso analisar os juros antes de fechar o contrato. É importante fazer o uso do crédito consciente”, frisou.

Congestionamento

Por causa da alta demanda no primeiro dia, houve falhas técnicas e frustração entre os usuários. Nas redes sociais, diversos brasileiros reclamam de mensagens de erro ao tentar acessar a plataforma. As principais reclamações incluem mensagens de erro ao tentar simular ou contratar o empréstimo, além da negativa de elegibilidade mesmo para trabalhadores com vínculo empregatício ativo. Outros ainda afirmam que, mesmo conseguindo acessar o sistema, não encontram propostas disponíveis dos bancos ou enfrentam obstáculos para finalizar a contratação.

Segundo a ferramenta de monitoramento Downdetector, houve um pico de queixas relacionadas ao funcionamento do Dataprev pouco antes das 14h.

Fernanda Strickland
Eduarda Esposito
postado em 22/03/2025 03:52