
Pelo sexto pregão seguido, o dólar perdeu força ante o real. Nesta terça-feira (18/3), a moeda registrou queda de 0,25%, cotado a R$ 5,67, o que representa o menor valor de fechamento desde o dia 24 de outubro de 2024. De acordo com analistas do mercado financeiro, a depreciação é consequência de fatores externos, como indicadores fracos nos EUA, além de projeções econômicas mais favoráveis no cenário doméstico.
A queda do dólar ante o real não foi um movimento excepcional se comparado a outras moedas emergentes nesta terça-feira. O Índice DXY, que mede a força da divisa norte-americana em relação às principais moedas do resto do mundo, registrou queda de 0,13% no mesmo dia.
O analista da Ouro Preto Investimentos Bruno Komura ressalta que há uma rotação de investidores estrangeiros, saindo das ações americanas e indo para outros mercados, como na Europa e em países emergentes, o que beneficia o mercado brasileiro. “Os investidores estrangeiros estão receosos com o que o Trump vem falando e vem fazendo e também estão com dúvida sobre a continuidade do excepcionalismo americano”, avalia Komura.
Com a queda do dólar no cenário global, o ouro bateu um novo recorde histórico nesta terça-feira, ultrapassando US$ 3 mil por ‘onça-troy’ (medida utilizada para metais preciosos), impulsionado ainda pelo aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio.
“Investidores ainda pesam os impactos das políticas tarifárias de Trump e indicadores fracos divulgados na semana passada em relação ao crescimento americano que fizeram o índice DXY negociar abaixo dos 103 pontos, nível mais baixo em cinco meses”, considera o especialista em investimentos da Nomad Bruno Shahini.
Cenário doméstico
No Brasil, os investidores ainda aguardam cautelosos a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que se reúne desde a manhã desta terça-feira (18/3) e deve divulgar a nova taxa básica de juros Selic no dia seguinte. A expectativa majoritária entre os analistas é de uma nova alta de 1 ponto percentual (p.p.), atingindo 14,25% ao ano — maior percentual desde 2016.
No mesmo dia, o Federal Reserve (Fed) — Banco Central dos EUA — também decide a taxa de juros no país, como lembra o especialista em mercado financeiro Felipe Sant’Anna, que reforça a cautela para a "Super Quarta". “Estamos aguardando a decisão de juros amanhã, que promete trazer bastante volatilidade no mercado”, destaca o especialista.
Já o anúncio da isenção do Imposto de Renda para pessoas físicas que recebem até R$ 5 mil não causou tanta repercussão quanto o esperado, na avaliação de Sant’Anna. “Em contrapartida, o governo colocou um ‘jabuti’ para taxar lucros e dividendos de quem ganha mais do que R$ 50 mil da mesma fonte pagadora”, comentou o analista.
Bolsa de valores
Em dia de queda do dólar, as principais ações da bolsa brasileira tiveram um dia positivo. O Índice Bovespa (B3) encerrou o pregão desta terça-feira em alta de 0,49%, aos 131.474 pontos. Somente em março, o Ibovespa acumula valorização de 7,06%.
No dia, os principais destaques foram as ações de frigoríficos, que puxaram os ativos na bolsa. Após o anúncio de um acordo com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ter listagem nos EUA, a JBS viu suas ações (JBSS3) subirem 17,89% durante o dia, repercutindo positivamente nas ações de outras empresas do setor, como BRF (BRFS3), que subiu 7,15%, e Marfrig (MRFG3), que avançou 6,68%.
O economista-chefe da Bluemetrix Asset, Renan Silva, explica que o acordo com o banco faz parte do plano de internacionalização da JBS, que tem buscado a ampliação das suas atividades no mercado externo por meio de multinational enterprises (MNEs) – sigla para empresa multinacional – e também o acesso a capital de risco no mercado norte-americano.
“A empresa passa por uma precificação nos seus valuations e isso justifica essa alta elevada e, devido também à sua alta liquidez na bolsa, acabou realmente contribuindo para essa alta, mesmo que modesta, no dia de hoje do Ibovespa”, considera Silva. Outras ações relevantes, como as da Vale (VALE3), Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú Unibanco (ITUB3) também tiveram um dia positivo nesta terça-feira.