
O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, alertou para os riscos da inflação oficial cada vez mais elevada e acima das expectativas do mercado por conta dos erros na condução da política fiscal, dificultando o trabalho do BC, devido à falta de sincronia entre as políticas fiscal e monetária.
Ao comentar a alta de 1,31% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (12/3), Meirelles ainda lembrou que o indicador superou as expectativas do mercado.
“Esse é um problema importante, porque, quando temos uma política fiscal expansionista, a política monetária precisa ser contracionista e o equilíbrio se dá com uma taxa de juros mais elevada”, ressaltou Meirelles, nesta quarta-feira, no evento Brasil Summit, realizado pelo Lide em parceria com o Correio Braziliense.
Conforme os dados do IBGE, a alta do IPCA de fevereiro ficou 1,15 ponto percentual acima da taxa de janeiro, de 0,16%, e foi a maior variação do indicador para os meses de fevereiro desde 2003, de 1,57%. No ano, o IPCA acumulou alta de 1,47% e, nos últimos 12 meses, o índice ficou em 5,06%, acima dos 4,56% dos 12 meses imediatamente anteriores e acima do teto da meta atual de inflação, de 4,50%.
“Entramos neste ano com uma expectativa de inflação elevada, e o IPCA de fevereiro mostra um resultado, inclusive, superior ao esperado pelo próprio mercado, e, por outro lado, o Banco Central está subindo a taxa de juros e está com dificuldade para reduzir a inflação. O juro mais alto tende a controlar a inflação para um patamar mais baixo quando há sincronia entre a política fiscal e política monetária”, afirmou o ex-ministro e co-chairman do Lide.
Meirelles ainda ressaltou que, em 2016, quando foi aprovado o teto de gastos, houve uma contenção fiscal “muito forte” e, como consequência, em 2017, as expectativas de inflação foram ancoradas e o Banco Central pode baixar os juros.
O ex-ministro reforçou a importância do BC independente na hora de conduzir a política monetária. Segundo ele, quando foi presidente do Banco Central no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do governo pediam para ele baixar os juros, mas ele resistiu e aumentou a taxa básica da economia (Selic), quando foi necessário. “Isso ancorou as expectativas, a inflação cedeu e ficou dentro da meta na época, e conseguimos reduzir, posteriormente, os juros também”, disse.
Veja o debate completo:
Henrique Meirelles participou do primeiro painel do evento que debateu sobre a economia brasileira e a economia brasileira em 2025, tratando sobre caminhos e perspectivas. Além dele, participaram do debate o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o deputado federal Antonio Brito (PSD-BA).