
Cidade do Panamá — América Latina e Caribe devem crescer 2,5% neste ano, dado levemente acima da taxa de 2,4% estimada para 2024, conforme dados do Fundo Monetário Nacional (FMI). Essa taxa é menor do que os 3,3% estimados pelo organismo multilateral para o crescimento global, e deve ser superior à mediana das estimativas do mercado, mas é superior aos 2,2% de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
O baixo crescimento regional foi um dos principais temas abordados nos paineis do primeiro Fórum Econômico Internacional América Latina e Caribe, organizado pelo CAF, banco de desenvolvimento da América Latina e do Caribe, com o tema: "Como retomar o caminho do crescimento?".
Na abertura do evento, o presidente panamenho, José Raúl Mulino, garantiu esse novo evento, que será anual, vai transformar a Cidade do Panamá "na Davos da América Latina", em referência ao resort suíço onde é realizado anualmente, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). Ele ainda deu uma resposta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que ameaçou retomar a rota que liga os oceanos Pacífico e Atlântico por eclusas.
Sergio Díaz-Granados, presidente-executivo do CAF, destacou em seu discurso de abertura que o banco estará focado em contribuir para o desenvolvimento da região e anunciou que durante a assinatura do termo de adesão de mais um país ao grupo, Antígua e Barbuda, totalizando 23 membros. Organizado pelo CAF, o evento também teve como parceiros o Grupo Prisa e a World in Progress (WIP). A transmissão também foi feita pelo canal do Correio no YouTube.
De acordo com o presidente do CAF, o banco também tem uma linha de crédito para o setor privado e existem cinco desafios a serem enfrentados pelos países da região para combater o baixo crescimento e a pobreza na região: a produtividade reduzida, as mudanças climáticas extremas, a transição energética, a segurança e o fortalecimento das democracias. E, no fim do primeiro dia do evento, em conversa com jornalistas, Díaz-Granados fez um balanço do evento e informou que havia mais de 1,4 mil pessoas presentes ao centro de convenções onde o Fórum foi realizado.
O presidente do CAF ainda reconheceu que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris vai ter impacto em todos os países, mas os da América Central e do Caribe podem sentir mais, porque são os mais vulneráveis às mudanças climáticas. O executivo também ainda ressaltou que vários eventos neste ano podem ajudar a integrar a região, inclusive, a 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP, que ocorrerá em novembro, em Belém, no Brasil.
Na avaliação dele, a geração atual "tem uma janela competitiva" para o desenvolvimento do capital humano, maior capacitação da força de trabalho e do capital humano hoje. "Esse Fórum vai buscar desenvolver o crescimento na região com a transição energética, o turismo sustentável e todos os temas que vamos trabalhar no banco para estarmos ao longo dos eventos neste ano na região", afirmou Díaz-Granados, confirmando presença na COP 30. "Unidos, somos mais fortes e cooperativos", emendou.
Em breve discurso gravado em vídeo, a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, destacou que o crescimento dos países da região está relacionado com reformas profundas para a transformação da economia e de governos. "O crescimento econômico na América Latina não é apenas um problema cíclico, mas estrutural. Para mudar essa realidade, precisamos reduzir a burocracia, fortalecer as instituições, promover a integração comercial e revitalizar o mercado de trabalho, incluindo maior participação feminina", afirmou.
Outro tema importante nos debates dos palestrantes do Fórum foi o aumento do endividamento e a piora do quadro fiscal continua, mesmo após o fim da pandemia. Combate a investimentos pouco eficazes no desenvolvimento e aumento de investimentos em educação de qualidade serão importantes para o desenvolvimento regional e redução da pobreza nos países da região, de acordo com os palestrantes do Fórum no Panamá.
O vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, Carlos Felipe Jaramillo, por exemplo, destacou que, em média, 17% dos Orçamentos dos países latino-americanos são despesas que ele chamou de “inútil e que não tem justificativa” em meio ao cenário de taxas de juros ainda elevadas em vários países e regiões, inclusive, nos Estados Unidos e na Europa. “O problema fiscal preocupa muito e as dívidas de muitos países da região estão aumentando junto com as taxas de juros. Houve a pandemia da covid-19, que disparou o rombo das contas públicas, porque a situação das pessoas e das empresas era desesperadora. Mas, agora, o deficit fiscal de vários países está aumentando sem pandemia. E estão aumentando o nível de dívidas em patamares preocupantes”, alertou Jaramillo.
Segundo o presidente do Panamá, investimentos excessivos que só aumentam a dívida pública são um dos principais motivos do baixo crescimento dos países latino-americanos, que seguem registrado taxas de expansão abaixo da média global e dos países emergentes da Ásia, do Oriente Médio e até da África. “Temos um enorme desafio para tirar os freios da iniciativa privada com governos inchados. Não se pode maquiar a ineficiência com gasto público excessivo”, afirmou Mulino.
A jornalista viajou a convite do CAF