Entrevista | Carlos Vieira | Presidente da Caixa

"Vamos catalisar mudanças na COP30", afirma Carlos Vieira

Em 2025, quando completa 164 anos, a Caixa tem como objetivo ter um papel significativo durante o evento em Belém, "apresentando ações concretas e reafirmando o compromisso de práticas financeiras sustentáveis", segundo o executivo

 Carlos Antônio Vieira Fernandes, presidente da Caixa. -  (crédito:  Divulgacao)
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Carlos Antônio Vieira Fernandes, presidente da Caixa. - (crédito: Divulgacao)

A Caixa Econômica Federal acaba de completar 164 anos no domingo e comemorou o aniversário, ontem, com participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por videoconferência. A instituição fundada por D. Pedro II é o principal banco que financia a casa própria, com 67,25% do mercado nacional, e pretende atuar com destaque na 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP30, que ocorrerá em Belém, neste ano.

Em entrevista ao Correio, o presidente da Caixa, Carlos Vieira, faz um balanço das atuações do banco que, segundo ele, busca "transformar a vida das pessoas" e reafirma o compromisso de práticas sustentáveis. "A COP 30, que ocorrerá em Belém, representa uma oportunidade importante para o Brasil se destacar em discussões ambientais, com a Caixa desempenhando um papel significativo", afirma Vieira. Segundo ele, a Caixa está se preparando para participar ativamente do evento, "apresentando ações concretas e reafirmando seu compromisso com práticas financeiras sustentáveis que promovem a economia verde e enfrentam as mudanças climáticas".

"O objetivo é destacar projetos inovadores que demonstrem como o setor financeiro pode catalisar mudanças positivas, equilibrando desenvolvimento econômico e preservação ambiental", acrescenta ele, adiantando que a instituição está em tratativas de parceria com o Banco Mundial. A seguir, os principais trechos da entrevista:

A Caixa completou 164 anos dia 12. Como o senhor avalia o papel do banco ao longo dos anos e quais as perspectivas para 2025?

A Caixa desempenha, desde a fundação, um papel muito importante no desenvolvimento social e econômico do Brasil, exercendo sua missão de promover inclusão e de apoiar os brasileiros em momentos fundamentais de suas vidas. Somos uma empresa 100% pública, parceira do governo federal na distribuição de políticas públicas e temos orgulho de ter como propósito 'transformar a vida das pessoas'. Ao longo dos anos, a instituição se consolidou como referência na concessão de crédito, na operacionalização do pagamento de benefícios sociais, apoiadora de diversas formas de manifestações culturais e do esporte, investido tanto nos atletas de base quanto nos olímpicos. Somos a principal financiadora da casa própria no Brasil, com 67,25% do mercado nacional, especialmente para a população de baixa e média renda. Somos ainda a única instituição autorizada a operar as loterias federais no Brasil, que geram esperança e um retorno de 48% dos recursos arrecadados à sociedade. Outro destaque é a execução do programa Pé-de-Meia pela Caixa, fortalecendo a inclusão financeira e na manutenção dos jovens nos estudos, com perspectivas de crescimento em 2025. É importante ressaltar a ampliação do microcrédito em 2025, uma ferramenta importante para fomentar a economia local e a inclusão produtiva, especialmente democratizando o acesso a recursos para pequenos empreendedores e trabalhadores informais. Quanto mais dinheiro tivermos circulando, mais rico será nosso país.

Quais as perspectivas da Caixa para o crédito imobiliário em 2025?

Em um cenário de economia aquecida e demanda crescente do crédito imobiliário, é essencial que as instituições financeiras busquem novas alternativas de funding, ou seja, novas alternativas de captação de recursos para investimento. Em 2024, a Caixa concedeu mais de R$ 226 bilhões no crédito imobiliário, o que representa um crescimento significativo de 21% em relação a 2023. Foram mais de 803 mil imóveis financiados, beneficiando 3,2 milhões de brasileiros. Somente pelo Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) foram contratadas mais de 142 mil moradias. Para ampliar os recursos disponíveis, em outubro de 2024, lançamos o Crédito Habitacional PJ com funding Recursos Livres, que atingiu a marca de R$ 3,75 bilhões contratados até dezembro. Para 2025, a Caixa pretende manter seu ritmo de crescimento. O orçamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) será no mesmo patamar, conforme já aprovado pelo Conselho Curador do FGTS, assim como o orçamento nas modalidades com recursos do banco com funding Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e Recursos Livres, além de trabalharmos para inovar com outras soluções de funding.

O governo federal, por meio do Ministério da Educação, criou o programa Pé-de-Meia para combater a evasão escolar. De que maneira o banco encara essa missão?

A Caixa, como parceira e principal agente operador de políticas públicas do governo federal, se sente honrada em participar dessa importante iniciativa. São aproximadamente 3,6 milhões de jovens que estão tendo oportunidade e segurança para concluir seus estudos e se profissionalizar, sem precisar deixar de lado a educação. O Pé-de-Meia, além de condicionar o pagamento das parcelas à aprovação ao fim de cada ano do ensino médio, exige a frequência do aluno em mais de 80% das aulas durante o mês. Operar o programa Pé-de-Meia é uma oportunidade única de a Caixa executar seu propósito de transformar as vidas das pessoas. Por meio dele, apoiamos os estudantes na construção de um futuro promissor.

Quais as principais ações que a Caixa implementa para apoiar a sustentabilidade?

A sustentabilidade é crucial, atualmente, pois abrange a preservação ambiental e práticas para um futuro melhor. Somos o único banco com uma vice-presidência focada exclusivamente em sustentabilidade e cidadania financeira, destacando nossa responsabilidade com as pessoas e o meio ambiente. A Caixa oferece a linha de crédito Finisa Verde para financiar projetos de estados e municípios voltados à transição energética e ações sustentáveis, utilizando seus próprios recursos. Além disso, possui um Fundo Socioambiental que investe parte de seu resultado em iniciativas para um futuro melhor, destinando R$ 163,4 milhões, em 2024, para desenvolvimento sustentável. A Caixa possui um portfólio diversificado de projetos que promovem a transição justa para uma economia de baixo carbono e a cidadania plena, focando especialmente nos brasileiros marginalizados. Além disso, está trabalhando com catadores para melhorar suas condições de vida e trabalho, enquanto contribui para a preservação ambiental por meio do reaproveitamento de lixo. Estamos participando de ações que apoiam a Estratégia Nacional de Bioeconomia, como um laboratório de inovação financeira focado na Região Amazônica e a criação de soluções financeiras que promovem a economia solidária.

E quais as expectativas do banco em relação à participação na COP30?

A COP30, que ocorrerá em Belém, representa uma oportunidade importante para o Brasil se destacar em discussões ambientais, com a Caixa desempenhando um papel significativo. A instituição prepara-se para participar ativamente, apresentando ações concretas e reafirmando seu compromisso com práticas financeiras sustentáveis que promovem a economia verde e enfrentam as mudanças climáticas. O objetivo é destacar projetos inovadores que demonstrem como o setor financeiro pode catalisar mudanças positivas, equilibrando desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

A Caixa fará parcerias internacionais?

Buscamos fortalecer parcerias internacionais e garantir recursos para projetos de impacto que envolvem comunidades locais na Amazônia, focando no desenvolvimento de soluções que preservem a biodiversidade e promovam a inclusão socioeconômica. Estamos em tratativas junto ao Banco Mundial, buscando a captação de recursos no valor de US$ 500 milhões, com objetivo de financiar ações voltadas para a transição energética, com destaque para a descarbonização e eletrificação de frotas de ônibus. A captação de recursos possibilitará a oferta de crédito com condições mais favoráveis para entes públicos, ampliando o portfólio atual e facilitando o financiamento de projetos sustentáveis.

A Caixa é uma das maiores patrocinadoras de programas esportivos e iniciativas que rendem bons frutos ao longo de anos. Qual a importância do apoio para essas áreas e o que podemos esperar dessas parcerias para 2025?

Em 2024, o banco investiu R$ 276 milhões em esportes e R$ 72,8 milhões em projetos culturais, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento dessas áreas no Brasil, fundamentais para a inclusão social e fortalecimento da cidadania. O patrocínio ao Novo Basquete Brasil (NBB) beneficiou mais de 300 atletas e impactou mais de 5 mil pessoas. Além das quadras, a Caixa promove empregos, integração e desenvolvimento comunitário por meio de suas iniciativas esportivas. Outro destaque é o patrocínio ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB), com 34 confederações que fomenta a formação de milhares de atletas desde a base até a alta performance. Os investimentos da Caixa sustentam centros de treinamento de excelência, programas para jovens atletas e iniciativas que preparam esportistas para competições nacionais e internacionais. Esse apoio é crucial para que talentos atinjam seu máximo potencial e representem o Brasil com excelência. Desde o início do patrocínio da Caixa ao Comitê Paralímpico, o Brasil sempre esteve entre os 15 primeiros no quadro de medalhas. Em 2024, nos Jogos Paralímpicos de Paris, os atletas brasileiros tiveram a melhor campanha da história, alcançando o 5º lugar, consolidando ainda mais o país como uma potência paralímpica.

E os investimentos na esfera cultural?

O Programa Caixa Cultural, por meio de editais públicos, promove o acesso democrático a diversas manifestações artísticas e culturais, fortalecendo o patrimônio cultural brasileiro. Os projetos incluem exposições, peças teatrais, oficinas e shows, abrangendo diferentes públicos e regiões, promovendo a descentralização e acessibilidade da cultura. Esses investimentos geram impactos positivos na economia, fomentando a cadeia de produção cultural, e também fortalecem a identidade nacional e o desenvolvimento humano. Assim, ao apoiar o esporte e a cultura, a Caixa reafirma seu compromisso com a transformação de vidas, inclusão e desenvolvimento sustentável no Brasil.

Como o senhor enxerga o processo de inovação na Caixa? O que vem sendo feito nesse sentido e quais os resultados?

A Caixa vê um futuro ainda mais tecnológico e se prepara para ele. Em 2024, investimos mais de R$ 1,8 bilhão para a compra de equipamentos e softwares. Em 2025, não será diferente. Tudo isso, claro, sem descuidarmos da qualidade do atendimento presencial nas agências. O banco vem aprimorando seus canais digitais, como o aplicativo CaixaTem, que ampliou o acesso da população, sobretudo a menos favorecida, a serviços financeiros de maneira rápida, segura e eficiente. Essa abordagem da Caixa reflete o compromisso do banco em democratizar o acesso aos serviços bancários. Com o objetivo de posicionar a Caixa no ecossistema de inovação, foi inaugurado, em 2024, o hub de inovação GovTechs, dedicado à imersão, criação e aceleração de ideias de projetos inovadores. Também estamos estabelecendo parcerias e chamadas de startups com foco na centralidade do cliente. Além disso, a inovação na Caixa está voltada para a diversificação de seu portfólio de produtos. A criação de linhas de crédito específicas para setores estratégicos, incluindo energia renovável, habitações sustentáveis e projetos socioambientais, demonstra como a instituição usa a inovação para responder a demandas emergentes da sociedade e fomentar a economia.

Como o banco imagina perpetuar este legado?

Desde que assumi a presidência da Caixa, tenho pautado minha gestão em pessoas, processos e resultados para centralizarmos nossas ações nos clientes. Eles são o principal motivo de sermos o maior banco da América Latina e uma das poucas instituições centenárias deste país. Investimos em pessoas. Investimos em capacitação. Os empregados Caixa receberam atenção para aprimorar suas habilidades e competências, garantindo um ambiente de trabalho mais eficiente e produtivo. Tudo isso também com o propósito de auxiliar a população brasileira naquilo que entende como mais importante. Seja na aquisição da casa própria, na confiança das economias quando deposita em nossas poupanças ou quando realiza os mais diversos sonhos. Estamos investindo também em inovação tecnológica para acompanhar o desejo dos nossos clientes de romper a barreira das agências físicas, porém de manter a excelência no atendimento. O banco passou a ser um parceiro confiável. Presente seja onde for, mesmo longe do ambiente bancário. Essa evolução começou com a modernização de nossos processos e serviços. Feita por profissionais das mais diversas áreas, todos com o propósito de tornar a Caixa imprescindível. Com isso, temos alcançado os resultados que tanto sonhamos. Investimos em biometria, Inteligência Artificial e, com isso, pudemos socorrer a população do estado do Rio Grande do Sul, tão maltratado pelas enchentes. Foram milhões de benefícios pagos sem se falar em filas. A Caixa vai aonde a população está. Sempre atenta aos anseios de nossos clientes. 

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Rafaela Gonçalves
postado em 14/01/2025 03:59