A produção industrial apresentou recuo de 0,6% na passagem de outubro para novembro, segundo mês consecutivo de perda. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada ontem. O desempenho corrobora com as expectativas do mercado de arrefecimento da economia no último trimestre do ano.
Foi a segunda queda mensal consecutiva na PIM e o dado de novembro foi maior do que o de outubro, de 0,2%. O resultado ainda ficou marginalmente abaixo da retração esperada na mediana das projeções do mercado, de -0,5%.
Diferentemente do mês anterior, a queda da produção em novembro foi bastante disseminada. Todas as quatro grandes categorias econômicas e 19 dos 25 ramos industriais pesquisados mostraram redução na atividade. Dentre as atividades econômicas, os bens semi e não duráveis apresentaram a maior variação negativa, de 2,8%.
"Esse segmento foi pressionado pelos recuos nos itens álcool etílico, afetado pelas condições climáticas desfavoráveis, o que impactou a colheita e o processamento das empresas na produção do item, e nos itens relacionados aos setores de alimentos e bebidas", destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
De acordo com Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a retração de setores de peso reflete a combinação entre o impacto defasado da elevação da taxa básica da economia (Selic) sobre as concessões de crédito e o desaquecimento do mercado de trabalho. "É importante considerar ainda o impacto da alta do dólar sobre estes e demais setores voltados para a economia doméstica, com a inflação em cascata gerada pelo processo dificilmente sendo represada pelas empresas, que não encontram tanto espaço em suas margens para acomodar tais movimentos", avalia.
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Bens de consumo
Os setores produtores de bens de consumo duráveis, de bens de capital e de bens intermediários também mostraram queda na produção. Já entre as atividades, as maiores influências negativas foram veículos automotores, reboques e carrocerias, com uma retração de 11,5%, e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, com queda de 3,5%.
Pizzani chama atenção ainda para o comportamento dos componentes do grupo de alimentos, cujo volume produzido fechou novembro em terreno negativo, podendo representar um efeito negativo da inflação mais elevada desses itens, que começaram a subir de maneira mais expressiva no último trimestre do ano passado. Segundo ele, ainda é cedo para dizer se esse movimento deve se propagar ao longo de 2025. "Do ponto de vista das perspectivas para o resultado da indústria neste ano, todavia, os indícios vistos até aqui seguem majoritariamente negativos", indica.
No acumulado do ano, a indústria acumula alta de 3,2% e, em 12 meses, expansão de 3%. Em relação a novembro de 2023, a indústria cresceu 1,7% em sua produção. Com os resultados, a indústria encontra-se 1,8% acima do patamar pré-pandemia, mas 15,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Queda disseminada
Mesmo com retração significativa e disseminada registrada em novembro, Igor Cadilhac, economista do PicPay, destaca o avanço na comparação com o mesmo mês de 2023. "Esse desempenho evidencia um crescimento robusto e consistente da atividade industrial, que vive um dos seus melhores momentos nos últimos anos", pondera. A projeção do economista é de um crescimento de 3,2% na produção industrial brasileira nos 12 meses de 2024, refletindo o desempenho positivo observado ao longo do ano.
"No entanto, para 2025, esperamos uma desaceleração (do indicador), influenciada, principalmente, por dois fatores: a redução do dinamismo da economia global e a manutenção de juros elevados por um período mais prolongado", comenta o economista do banco digital.
"Apesar desse cenário mais desafiador, acreditamos que a retração será moderada. Fatores como o aquecimento da demanda interna, uma balança comercial sólida e políticas governamentais de estímulo à atividade econômica devem contribuir para atenuar os impactos negativos", complementa Cadilhac, do PicPay.
Desafios estruturais
Mesmo com o desempenho positivo de 3,2% no acumulado em 12 meses até novembro de 2024, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), destaca que o setor opera 15,1% abaixo do pico histórico alcançado em maio de 2011 e terá mais desafios em 2025.
"Esse cenário evidencia entraves estruturais que comprometem a competitividade nacional, como o baixo investimento em infraestrutura, educação e ambiente de negócios, pilares fundamentais para impulsionar o crescimento e a inovação no setor", destaca o economista-chefe Firjan, Jonathas Goulart. Segundo ele, as perspectivas para este ano serão mais ainda mais desafiadoras, devido à combinação de juros elevados e alta do dólar, "que tende a pressionar os custos de produção e a desestimular investimentos".
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