INVESTIMENTO

Poupança termina 2024 com saldo negativo pelo quarto ano consecutivo

No ano passado, caderneta fecha no vermelho em R$ 15,5 bilhões, conforme dados do BC. Analistas destacam que retorno perde para várias aplicações de renda fixa

grafico poupanca -  (crédito: pacifico)
grafico poupanca - (crédito: pacifico)

A caderneta de poupança encerrou 2024 com saldo negativo de cerca de R$ 15,5 bilhões. De acordo com os dados divulgados, ontem, pelo Banco Central (BC), em oito dos 12 meses do ano passado os saques superaram os depósitos na aplicação, que ficou no campo negativo pelo quarto ano consecutivo.

O saldo é resultado da diferença entre R$ 4,197 trilhões de depósitos e R$ 4,212 trilhões de retiradas entre janeiro e dezembro do ano passado. A aplicação vem perdendo recursos em série desde 2021, afetada por inflação elevada, endividamento das famílias e juros altos.

Apesar de negativo, o desempenho representa a menor perda do período. Em 2023, R$ 87,8 bilhões deixaram a modalidade de investimentos. Em 2022, no pior ano da história da caderneta, as retiradas superaram os depósitos em R$ 103,2 bilhões. Já em 2021, o saldo foi negativo em R$ 35,5 bilhões.

As aplicações no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), linha de crédito direcionado a compra de imóveis, saltaram de R$ 747 bilhões em 2023 para R$ 773 bilhões em 2024, com aumento de 3,5%. Já a poupança rural passou de R$ 236 bilhões em 2023 para R$ 258 bilhões em 2024, mostrando um incremento de 9,3%.

O dado indica que o desempenho da poupança rural tem mostrado um crescimento melhor que o SBPE, conforme destaca o economista Newton Marques, professor da Universidade de Brasília (UnB). "O movimento pode ser explicado porque não houve condição de os depositantes que faziam aplicação em poupança, ou eles preferiram outro tipo de aplicação financeira, talvez pela rentabilidade, bem como também pode ter tirado os recursos, sacado, para fazer compras, para utilizar para o consumo", comenta.

Mesmo com a retirada de recursos no último ano, o estoque dos valores depositados — volume total aplicado — registrou aumento para R$ 1,03 trilhão, superando a marca após dois anos. Em dezembro de 2023, o volume total somou R$ 983 bilhões.

A menor retirada de recursos se deu num cenário de melhora da atividade econômica no último ano. "A queda do desemprego e o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) contribuíram para um ambiente econômico mais estável. Com mais pessoas trabalhando e uma economia em expansão, há menos necessidade de retirar recursos da poupança", destaca o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Rendimento

Segundo ele, o aquecimento da economia aumenta a confiança do consumidor e reduz a necessidade de retirar dinheiro da poupança. Além disso, os juros elevados deveriam impulsionar a aplicação em renda fixa, o que não acontece com a poupança, que tem lucratividade limitada.

Atualmente, o rendimento da caderneta é de 0,5% ao mês TR (Taxa Referencial). O percentual vale sempre que a taxa básica de juros figurar acima de 8,5% ao ano. No acumulado de 2024, a poupança rendeu 7,09%. No momento, a taxa básica da economia (Selic) está em 12,25% ao ano. Logo, a taxa de retorno da caderneta ainda é inferior à de investimentos de igual segurança e liquidez, que costumam ser indexados ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI) — que acumulava alta de 12,15% ao ano em 12 meses até o ontem.

"A Selic está em 12,25% ao ano, o que torna investimentos em renda fixa mais atrativos em termos de retorno. No entanto, a caderneta de poupança ainda oferece uma taxa de retorno de 0,5% ao mês, que é inferior a muitos investimentos de igual segurança e liquidez", pondera Nogami.

A caderneta de poupança tem sido menos atraente comparada a outros tipos de investimentos de renda fixa, como Tesouro Direto e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), que podem oferecer retornos superiores a 10% ao ano, dependendo da taxa Selic e das condições de mercado.

"Apesar de ser o investimento que todos brasileiros conhecem, é o menos rentável", afirma o gerente de Relações com Investidores do Paraná Banco Investimentos, Gustavo Batista Wanderley. "Uma boa opção de investimento para quem busca segurança e rentabilidade são os CDBs e os fundos de investimentos. Ambos atendem perfis variados, desde os mais conservadores até os que preferem um pouco mais de diversificação", aconselha. No caso dos fundos, é preciso ficar atento às taxas de administração, que podem corroer os ganhos do aplicador se forem muito elevadas.

 

Rafaela Gonçalves
postado em 09/01/2025 03:59 / atualizado em 09/01/2025 09:34
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