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Tesouro Direto ganha espaço e bate novo recorde em 2024

Com juros em alta, renda fixa segue atrativa, e plataforma do Tesouro para a pessoa física atinge 30,5 milhões de cadastros

Após ultrapassar a marca de 30 milhões de cadastros em outubro, no mês seguinte, o Tesouro Direto bateu novo recorde e chegou a 30,5 milhões de investidores -  (crédito: EBC)
Após ultrapassar a marca de 30 milhões de cadastros em outubro, no mês seguinte, o Tesouro Direto bateu novo recorde e chegou a 30,5 milhões de investidores - (crédito: EBC)

As perdas de 10,36% na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) em 2024, e a indicação de que a taxa básica da economia (Selic) deverá continuar subindo ao longo deste ano são alguns dos fatores que jogam a favor da escolha da renda fixa como um porto seguro de quem quer investir e/ou fazer uma reserva para realizar algum sonho sem correr riscos. E, nesse contexto, o Tesouro Direto é uma das opções mais atrativas para os investidores conservadores e os que buscam começar a montar a própria carteira de aplicações.

Em 2024, foram lançados dois novos títulos do programa do Tesouro Nacional, voltado para a pessoa física. E, neste ano, a primeira novidade da plataforma é a mudança na cobrança da taxa de custódia para manter o dinheiro aplicado. A cobrança, de 0,2% do saldo que era debitada semestralmente, passa a ser cobrada apenas quando o papel vencer ou o investidor resgatar antecipadamente o dinheiro ou quando o Tesouro pagar juros e amortizações.

Após ultrapassar a marca de 30 milhões de cadastros em outubro, no mês seguinte, a plataforma bateu novo recorde e chegou a 30,5 milhões de investidores, o que representa um aumento de 14,8% nos últimos 12 meses. Contudo, apenas 2,7 milhões de investidores estão ativos, ou seja, possuem operações em aberto.

Por recorte de gênero, os homens ainda representam grande maioria dos investidores no Tesouro Direto, com 73,4% do número total ante 26,6% de mulheres, embora essa diferença esteja em queda nos últimos anos, com a entrada de mais investidoras nesse mercado. Além disso, quase um terço (32,9%) do total de cadastrados na plataforma tem entre 26 e 35 anos de idade.

Em outubro, o Tesouro Direto registrou o maior valor de emissões líquidas da história, quando a diferença entre vendas e resgates atingiu R$ 2,5 bilhões em um único mês. O segundo maior valor foi registrado em novembro, quando as vendas líquidas alcançaram R$ 2,4 bilhões. O estoque total do Tesouro Direto chegou a R$ 150,8 bilhões, no penúltimo mês do ano, o que representa um aumento de 2,5% na comparação com o mês anterior.

Os títulos públicos mais procurados pelos investidores pessoa física em novembro foram os vinculados ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro, quando o colegiado elevou a taxa básica Selic para 12,25% ao ano, os títulos do Tesouro Direto indexados à inflação, o Tesouro IPCA , chegaram a pagar o prêmio recorde de 8% em 19 de dezembro, remunerando 8,25% no papel com vencimento em 2029. No mês anterior, os títulos vinculados à inflação representaram 43,4% do total de procura.

Os títulos indexados à taxa básica, o Tesouro Selic, tiveram participação de 40,4% nas vendas, apesar de, na maioria dos meses, essa modalidade ser a mais forte, como lembra o coordenador do Tesouro Direto, Paulo Marques. "A gente tem observado que quanto mais o programa se democratiza, maior é o acesso das pessoas ao Tesouro Selic, que é o título de entrada dos investidores, aquele que não tem uma volatilidade muito grande na marcação do mercado e é como se fosse um tesouro onde você coloca o seu recurso e ele sempre está aumentando. É a sua reserva de emergência", frisa o técnico do Tesouro Nacional.

Para o coordenador do programa, além de saber qual é o título mais procurado, o investidor deve ter em mente qual o motivo para começar a aplicar os recursos.

"Primeiro, você tem que definir o seu objetivo, e, a partir disso, você vai conseguir fazer a melhor escolha", aconselha Marques, que ressalta: "E se você não tem nenhum objetivo, o Tesouro Selic é sempre uma boa opção, porque você pode tirar a qualquer momento sem grandes riscos de perda", orienta Marques.

Novos programas

De acordo com a 7ª edição do Raio-X do Investidor, publicado em 2023 pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), 25% da população investe na caderneta de poupança, mas apenas 2% investem em títulos do Tesouro Direto que, geralmente, possuem maior rentabilidade a depender da modalidade de aplicação. Diante disso, o Tesouro decidiu inovar nos últimos anos com novos programas para atrair públicos diferenciados a investirem na renda fixa.

Em 2022, o Tesouro lançou o programa RendA , com opções de investimento a longo prazo voltadas para a aposentadoria. Até 30 de dezembro, a modalidade com vencimento em 2050 pagava IPCA mais 7,21%. No ano seguinte, foi lançado o Educa , que oferece vantagens para planejar a educação dos filhos. "Todos esses títulos que foram construídos vieram com esse viés voltado para um objetivo específico, o que facilita a escolha do investidor", explica o coordenador.

No ano passado, o Tesouro Nacional, em parceria com a B3 e o Banco Central, lançou uma opção para quem quer comprar ou investir no mercado imobiliário: o TD Garantia.

A iniciativa permite aos investidores de títulos públicos o uso deles como garantia para operações financeiras, como empréstimos bancários e aluguel imobiliário. Pessoas físicas que já investem em títulos do programa podem optar pelo serviço. "Já tem muita gente, hoje, alugando imóveis no Brasil utilizando como garantia os títulos do Tesouro Direto em vez de uma caução ou um fiador. Essa é uma possibilidade que não se restringe a isso. Qualquer instituição financeira, hoje, está apta a plugar na B3 e utilizar os nossos títulos como garantia para qualquer operação de crédito. Basta eles quererem, e já temos algumas instituições interessadas para 2025", relata.

Outra novidade em 2024 foi o lançamento de um Gift Card (cartão de presentes) que pode ser usado na compra de títulos públicos negociados no Tesouro Direto, também em parceria com a B3. "É muito comum a gente observar pessoas que já conhecem o Tesouro Direto e gostariam de presentear pessoas que gostam, que têm um certo afeto, e o Gift Card é uma forma muito fácil de fazer isso", sustenta Marques.

Para 2025, o coordenador do Tesouro explica que devem ser anunciados novos programas — e não são poucos — para públicos específicos, embora não tenha adiantado mais detalhes além da mudança da taxa de custódia, que passou a valer desde 1º de janeiro. Agora, ela será debitada unicamente na venda antecipada, no vencimento da posição ou no pagamento de juros de títulos, o que vier primeiro.

"Nosso objetivo é trazer o maior número de investidores e com um ticket menor, e essa mudança ocorre depois de 20 anos de reclamações. A cobrança continua, mas vai ocorrer só no vencimento. Essa cobrança semestral era muito ruim, porque o investidor, às vezes, não queria vender o título para pagar, mas tinha que fazer um novo depósito, esquecia, a corretora cobrava, entre outras coisas."

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Tesouro Direto é uma das opções mais atrativas para os investidores conservadores (foto: editoria de arte)

Menos risco

Lançado em 2002, em uma parceria com a B3, o Tesouro Direto é uma das principais opções de investimento em renda fixa do país, a exemplo do Certificado de Depósito Bancário (CDB) e das letras de crédito. Nos últimos anos, essa modalidade vem se tornando a principal opção para aplicações financeiras voltadas às pessoas físicas, como avalia o sócio e economista senior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.

"Em primeiro lugar, há a questão da segurança, dado que os papéis do Tesouro são as opções de menor risco do mercado. Em segundo lugar, há liquidez aos investimentos considerando que os títulos podem ser vendidos ao próprio Tesouro — ainda que sob as condições vigentes no mercado no momento, o que pode gerar perdas em alguns casos", explica.

O economista ainda ressalta que, com o Tesouro Direto, é possível encontrar títulos que atendam aos objetivos e interesses do investidor, seja quanto aos prazos, seja quanto aos indexadores. "É possível, por exemplo, adquirir um título que irá basicamente remunerar a taxa Selic, ou um papel pré-fixado visando travar as elevadas taxas atuais até o vencimento, ou ainda se proteger da inflação com um papel que remunera uma taxa real além de ser corrigido pelo IPCA", destaca.

Os títulos de renda ainda ficaram mais atrativos neste ano devido a fatores internos, como explica o economista-chefe da MoneYou, Jason Vieira. Ele lembra que no início do ano havia uma expectativa de que o governo cumpriria com as metas fiscais estabelecidas para 2024 e os anos seguintes. Essa projeção, no entanto, mudou a partir de março, quando o governo resolveu afrouxar alguns pontos da lei fiscal aprovada no ano anterior, como a mudança do objetivo de superavit para deficit zero este ano.

"O reflexo começou se tornar cada vez mais presente com o governo atrapalhadíssimo nessa questão fiscal, inclusive, os impactos na curva de juros ficaram cada vez mais nítidos. É possível ver isso nas taxas DIs. E, com os juros reais subindo cada vez mais, o Tesouro Direto acabou tornando-se uma enorme alternativa de investimento para o pequeno investidor", ressalta Vieira.

Nesse sentido, o investidor deve ficar atento aos títulos mais vantajosos, levando sempre em consideração a finalidade principal com aquela aplicação. Para o ano que vem, o professor de finanças do Insper Ricardo Rocha avalia que as tendências de investimento em renda fixa estão convergindo para títulos como CBD e outras DIs, para os que estão começando a investir. Essas aplicações funcionam como um depósito interbancário. Entre as opções no Tesouro Direto, o especialista acredita que é interessante avaliar papéis de RendA+, com boas opções para longo prazo. "E os custos são relativamente baixos quando eu comparo com fundos de investimento. Então acho que tem muita alternativa", destaca.

E, para a sócia da SM Futures Vitória Saddi, o investimento no Tesouro Selic para 2025 ainda é uma opção atrativa também para o médio prazo. "Quando o aplicador compra títulos do Tesouro, ele está dando crédito para o governo. E, como está cada vez mais caro para o governo se financiar, as taxas longas estão elevadas, refletindo o prazo de financiamento desses títulos cada vez mais curtos, mostrando, enfim, que há um retorno maior para o investidor. E, como as taxas longas estão subindo, é nesse contexto que a gente recomenda a aplicação no Tesouro Selic", avalia a economista.

 

 

 

 

 

Raphael Pati
postado em 03/01/2025 03:00
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